Capítulo 5 - Eu te guardo no meu coração e você me guarda no seu

125 14 5
                                    

Maio carregava uma estação do ano deliciosa na Ostânia

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Maio carregava uma estação do ano deliciosa na Ostânia. A grama ficava mais verde, as flores coloriam a paisagem e o clima era ameno. Até mesmo o trabalho para Thorn Princess se tornava mais escasso. Era uma época de sossego para muitas pessoas, inclusive Yor, mas, por algum motivo, também a fazia se sentir mal, melancólica, com um peso ruim no peito, principalmente nos últimos anos, desde que Yuri saíra de casa para trabalhar.

Yor voltava para casa no fim da tarde depois de um dia de trabalho na Prefeitura, agarrada ao seu sobretudo rosa-claro, com uma expressão morta na face enquanto as pessoas ao redor sorriam e compravam rosas e cravos em lojas e floriculturas, carregando cartões e fazendo caras engraçadas enquanto estavam pensativos e mordiam as tampas das canetas pensando em algo para escrever neles.

Yor deu um suspiro pesado e continuou seu caminho.

Desde que o pai e a mãe morreram, ver essas pessoas só a lembrava de que eram apenas ela e Yuri e que ela não precisava mais comprar flores ou cartões.

Quando era menina, ela adorava ir até uma papelaria e voltar com mais papeis, canetas e purpurinas do que usaria. Ela levava tudo escondido para o quarto de Yuri e eles passavam a noite fazendo cartões para a mãe, tudo bem quietinhos enquanto todos dormiam. Ou quase todos. No meio da noite, o pai se juntava a eles e os ajudava, levando as flores que eles dariam para a mãe, para que eles colocassem os cartões em meio a elas. No dia seguinte, eles levantavam bem cedinho e preparavam café da manhã para levar para ela na cama, lhe entregando o presente.

Eram memórias doces e que aos poucos se tornavam nebulosas, sem rostos e sem vozes. Às vezes ela se sentia mal por estar se esquecendo deles aos poucos.

Os anos seguintes foram intensos. Ela se lembrava de que Yuri havia feito para ela um cartão, e que economizara as parcas moedas que ela podia lhe dar para comprar um botão de rosa vermelha. Ela queria ser forte pelo irmão, ser simples e mostrar a ele que eles poderiam seguir com suas vidas sem sofrimento.

Mas naquela ocasião ela se permitiu chorar.

Apenas chorar.

Chorar de saudade pela mãe que não estava ali para receber aquele cartão e pela voz do pai dizendo que amava a família. Chorar de culpa por ser ela ali, recebendo aquela demonstração de afeto tão grande no lugar da mãe. Chorar de felicidade por ter um irmãozinho tão fofo e meigo.

E novamente chorar de culpa por quebrar suas costelinhas frágeis sem querer num abraço apertado demais. Aquele dia havia terminado no hospital.

Nos últimos anos, no entanto, ela não chorou mais. Não fazia mais sentido. Yuri se mudara e agora viajava muito e ela ficara em seu apartamento. Aprendera a passar aquele feriado sozinha, como todos os outros. Apenas ela, uma xícara de chá forte de laranja e uma poltrona, vendo o dia passar com o peso sufocante no peito, respirando devagar para viver com a sensação.

Estava tão imersa em seus pensamentos que não reparou quando chegou em casa. Sua nova casa. Ao ver a porta do apartamento igual as outras ela se sentiu um pouquinho mais feliz, e até mesmo tinha um sorrisinho de volta nos lábios quando pegou a maçaneta para entrar.

Amendoins, trovões, ovelhas e outros contosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora