Capítulo 11. Você precisa se perdoar

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— Se você se sente uma farsa, o que resta de meros mortais como nós? — Wade devolveu sarcasticamente rindo.

— Wade... o imortal aqui é você — respondeu Peter, a porta ainda entre aqueles dois.

Eles riram um pouquinho daquilo.

Wade foi obrigado a concordar:

— Pior que é verdade, tecnicamente falando.

— Hm-rum.

— Mas eu não estava querendo ser literal.

— Eu tive que apontar a ironia da situação.

— Obviamente, você tem dificuldade de levar as coisas a sério.

— Eu costumo ouvir muito essa reclamação, mas eu não esperava vindo de você.

— O primeiro passo para solucionar um problema é reconhecer, eu já passei por essa fase.

— E qual foi sua solução? Eu ainda não vi sinais de você ser bom em não fazer piadas em momentos ruins.

— Ora, é parte do charme do meu personagem. E não é algo que se resolve do dia para noite, hm?

— Então posso imaginar que você está fazendo algo para melhorar essa sua tendência?

— Obviamente que não.

— Mas então!

— Faz parte do meu charme.

Novamente os dois com aquelas gracinhas bestas.

O silêncio voltou a cair entre eles, a tensão era palpável e era um desconforto mútuo.

— Peter, não quero que, por ter pena de mim, finja que o que aconteceu não aconteceu.

Wade suspirou e passou a mão na cabeça, se assustando um pouco ao sentir o cabelo loiro. Tão acostumado a não ter cabelo ou pêlo nenhum no corpo, esquecia às vezes desse detalhe.

E conseguiu aquela aparência de volta justamente após matar Peter e decidir trazer ele de volta.

Retornou a falar naquele tom sério:

— Não deve passar pano nisso, eu sei o que fiz e o peso que isso tem. Era o meu principal trabalho, lembra? Tenho total consciência de quem eu sou, de quem eu fui e certas coisas não mudam assim fácil. Você acredita que as pessoas podem mudar e serem melhores, e eu admiro muito isso em você, mas... — parou de falar por um tempo, encarando o teto do apartamento.

Pensou um pouco mais em como colocar em palavras o que queria dizer, estava sendo difícil.

— Incrível como mesmo eu tentando algo bom, ainda tive intenções ruins e fiz cagada.

— Wade...

Ele se aproximou mais a porta para melhor ouvir Peter. Ouvir ele se encostando nela ao se sentar no chão, batendo os pés em ritmo de música, inquieto.

— Bem, sendo sincero contigo, apesar de eu acreditar que as pessoas possam mudar, muitas vezes posso ser hipócrita quanto a isso. E fui contigo na maior parte do tempo, é recente que eu comecei a te ver com outros olhos, porque passamos a nos conhecer melhor.

Peter bufou e riu sem humor ao completar:

— Na verdade eu passei a te conhecer melhor. Você não sabia muito sobre mim, por assim dizer. Enquanto você confiou a... — mordeu a língua olhando para os lados.

Ele nem estava dentro do apartamento do Wade e tem certas coisas que são mais secretas do que a própria identidade dele, e a Eleanor era um desses assuntos. O que faz Peter se sentir hipócrita ao prosseguir falar sabendo disso:

— ... algo tão especial e importante em mim, eu não te expliquei o básico sobre quem eu sou como Peter, até chegarmos aos extremos.

— Mas isso é justificável.

— É? Wade, eu não precisava contar minha identidade, se sentassemos e conversássemos seriamente, eu ao menos saberia do que você estava me acusando como Peter. Poderia me defender, poderíamos ter encontrado quem fez todo esse esquema para ferrar nós dois há muito tempo, mas não.

Engoliu em seco.

— Eu não confiei em você e fui prepotente, não liguei para suas preocupações e ameaças. Homem-Aranha não se deu ao trabalho de colaborar com você e Peter não se importou com seus medos. Agora sendo seu amigo eu sei de seus gatilhos em ver pessoas sendo tratadas como cobaias, e estou me esforçando ao dobro em conseguir a cura para as vítimas, só que... se eu tivesse sido mais atento não estaríamos aqui, não estaríamos tão atrás nisso.

Wade abriu a boca para responder, mas fechou em seguida.

Queria protestar, no entanto, com o que?

O que diria?

Mais um discurso de como Homem-Aranha é um herói incrível e isso não se deve questionar?

Depois de Peter ter colocado tanto para fora, seria produtivo tentar o convencer que o lugar dele é no pedestal que o Wade gosta de colocar? Não seria.

— Você tem a sua culpa, Wade, que você precisa se perdoar primeiro, não é questão mais de meu perdão, porque isso você já tem.

Novamente um silêncio, porém desta vez não era desconfortável, não tentaram usar o humor para escapar de seus pensamentos complexos. Ficaram absortos com o que tinham falado e refletindo sobre, cada qual em seu canto.

Até Peter chamar:

— Wade?

Em seguida ele ouviu os sons da porta sendo destrancada, e finalmente pode ver o Wade após tanto tempo.

Nada de vestimentas de Deadpool, só ele usando um conjunto de moletom com logo das Golden Girls.

Sem dizer nada, Wade abanou a mão chamando Peter para se aproximar. Peter se levantou, limpou a sujeira da calça jeans e foi até ele, sendo envolvido em um abraço, para a própria surpresa.

Querido Senhor PeterOnde as histórias ganham vida. Descobre agora