Capítulo 19

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Existe um ponto em que sabemos que não há muito o que ser feito, é uma pena. Em apenas uma semana tudo encontrou sua ruína, não a minha. Gosto de lembrar de como eu costumava ser, aquele passivo e idiota Mira. Uma semana e as coisas acabariam da pior maneira.

Com a chegada de balsa, Ava estava novamente repleta de mal humor. Ela tinha palavra, prometeu que me recompensaria e embora não tenha sido o ideal, a primeira vez em que estive no quarto de qualquer garota foi o dela, a cama macia demais, tudo rosa como o quarto de uma criança que quer ser uma princesa.

Ava sequer sabia que em sua ausência eu estive no colo de Avery, deveria me sentir culpado? Infidelidade não era a palavra que me afetaria, fiz coisas muito ruins. Entendi depois de muito tempo que minha busca pela liberdade era solitária, foi uma lição que aprendi depois daquela semana. A última vez em que estive sozinho com Ava foi naquele quarto rosa, com ela saindo do banheiro com o robe de seda, os ombros tensos. Ela era bonita, embora nada daquela situação fosse agradável para ambos os lados.

Ela engoliu em seco, levando a mão ao nó do robe, qualquer alfa não hesitaria, certo? Mas, existiam coisas que eu não podia fazer. Não se trata de limitações como homem ômega, se fosse em frente com isso, jamais me perdoaria. Ela sequer entendeu quando a olhei com certa tristeza.

— Você não quer ser tocada por mim. — Afirmei, ela me olhou em choque. Ainda era Ava, a rude e cruel Ava, mesmo assim não senti raiva. Como poderia? Ela era sincera sobre o que pensava sobre mim. Olhei o quarto, tudo parecia uma caixa de bonecas, em branco e rosa, me peguei pensando na razão dela ser amarga quando o quarto era uma pintura doce, inocente. Talvez não tivesse escolha. — Vamos apenas... Ficar aqui por um tempo. — Ela ainda não entendia, mas sentou-se na beirada da cama, com certa distância de mim.

— Não me acha bonita? — Sua voz era leve. Confusa sobre o que acontecia ali, me doía que ela não via o quão injusto era para ela como ômega achar que tinha de me recompensar, quando nem mesmo estava à vontade com isso. Era um abuso, mesmo com ela se convencendo de que era certo.

— Sei que você não foi para aquela festa por causa de amigas ômegas. — Era bem óbvio. Ava olhou-me um pouco assustada, talvez eu pudesse usar isso como chantagem, mas apenas ri baixo — Não vou contar, mas não faça nada por se sentir obrigada. — Não me sentir detestável era uma necessidade. Ela murmurou um "obrigada", gostava de alguém e mesmo assim jamais comentou sobre isso a Sebastian, sabia que eu era mais controlável do que qualquer outro.

Ela se virou para mim, contava sobre a festa, do alívio que foi poder ir sem ter de olhar as horas a cada instante para que não estivesse muito encrencada. Foi bom imaginar a música alta, o alfa a quem ela gostava não era como Tale. Não a tocou indevidamente, não a empurrou bebidas adulteradas, conversaram a noite toda. Quando saí do quarto de Ava e desci as escadas, Avery estava lá, me esperando, sorrindo quando acenei negativamente.

E por mais alguns dias, os lábios dele estiveram provando dos meus quando a noite caía.

A brisa da manhã era agradável, calorosa como um cenário tão familiar. Durou o bastante para que eu pudesse sorrir mais abertamente, por mais que logo tivesse de voltar para o Loiren.

As dietas foram retiradas, e por alguns dias Lana me ligava, questionando se eu estava bem. A movimentação com Sebastian dava frutos ao ponto que passei a ser incluído nos planos dos Preston, incluído nas reuniões familiares de final de ano. Mesmo que eu me achasse mais um acessório do que um convidado, novas roupas eram compradas e existiam mais diretivas dadas por meu pai.

Agradar a família Preston era uma prioridade. Não haviam mais castigos, mas ao voltar Tale passava mais tempo nos corredores, sempre lá quando eu voltava para o quarto. Odiava pensar nisso, como Avery insistia que seria melhor ignorá-lo. Não era tão fácil. Foi necessário arranjarmos um lugar a mais para os eventuais encontros, já que parecia que o ruivo andava nos observando nos corredores do dormitório.

EndgameWhere stories live. Discover now