Capítulo 44

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Não se tornava incomum que os ânimos estivessem um pouco exaltados

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Não se tornava incomum que os ânimos estivessem um pouco exaltados. Entreguei a bandeja, mais uma de tantas. Raphael estava melhor, as feições mais coradas, sem ser a imagem magra e triste que vi uma vez naquela boate noturna. Ele pegou a bandeja olhando as frutas cortadas, vez ou outra levávamos comida lá para baixo, apesar de ainda ser um porão, as ômegas e as crianças encolhiam-se em cobertores e recebiam tudo o que precisavam. Ajeitei o moletom largo em meu corpo, preso na necessidade de dizer a verdade para Avery. Ele ainda não sabia de nada, mesmo que aquele bebê tivesse vindo na pior hoje.

Raphael sorriu levemente para mim, vestido com roupas um pouco mais quentes.

— Senhor? Parece que o dia está mais ameno, não acha? Sei que não podemos sair, mas... Hm, talvez pudesse descer esta noite para rezar um pouco com eles.

— Eu não sou a melhor pessoa para falar de religião, mesmo que me vejam como um santo. — Ri baixo, cruzando os braços. Era evidente, as crianças ainda eram imersas no que os Institutos ensinavam todos os dias. Tudo o que conheciam era o que os Omna diziam. Acredito que talvez um dia eu possa fazer as pazes com a religião, talvez o problema fosse como pessoas com poder interpretavam a religião de uma forma conveniente. — Sei que é um pouco frustrante, mas devem ficar no porão. Até quando sairmos daqui.

— Elas têm... Muitas perguntas. — Raphael suspirou — O que eu faço?

— Devemos mentir, por enquanto. Diga que tudo isso é uma viagem dos Institutos. As mantenha distraídas. — Esfreguei as mãos aos braços, me protegendo do frio breve da manhã.

Raphael concordou, descendo as escadas. Eu odiava ter de mentir assim, algumas daquelas crianças de fato eram filhas daquelas ômegas, e outras... Infelizmente filhas das que morreram ou que já estavam do outro lado da fronteira. O problema era que o distrito sabia como entrar na cabeça de alguém, e pegando as crianças tão cedo, era fácil apagar da memória que tinham mães preocupadas. Ao menos tinham mães assim, diferentes da minha. Fechei a porta do porão, esfregando as mãos novamente por conta do frio.

O inverno chegava lentamente, seria complicado se não nos adiantássemos. O frio tornaria tudo mais difícil.

Atravessei o corredor, olhando os quadros nas paredes. Acabei rindo baixo ao seguir até a porta de vidro que levava aos jardins da propriedade, era engraçado ver cenas como aquela. Deslizei a porta, espiando com curiosidade a forma em que Liam resmungava, sentado a uma cadeira tendo os cabelos cortados por Ava. Ela era inesperadamente boa nisso. Dayton se manteve sentado a uma das cadeiras com visão para as florestas, fumando ao virar o rosto. Ele também teve os cabelos cortados, um pouco mais curtos em baixo, as mechas jogadas de lado.

Ava se focava em cortar os cabelos de Liam, eu não sabia o que ela faria quando saíssemos daqui. Mas eu nunca parava de pensar que ela foi noiva de um homem violento, o matou para se defender. E ainda salvou Annabeth, aquele dia poderia ter resultado em algo muito ruim.

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