3. Daddy Issues

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[Mackenzie Coyle's Point of View]:

Segurei a maçaneta da porta tentando não fazer barulho ao entrar. Porém, o ranger ao abri-la denunciava a necessidade de trocar as dobradiças e que eu havia chegado. Deixei a mochila cair de meus ombros, a jogando em qualquer lugar da sala. 

Suspirei pesadamente, sendo recebida por um silêncio ensurdecedor ao qual eu estava habituada. Às vezes, eu sentia que morava sozinha. Em outros momentos, eu desejava que não fosse apenas uma sensação.

Adentrei o local, ouvindo perfeitamente meus passos pelo assoalho. Não demorou muito para encontrar as diversas garrafas de cervejas vazias sobre a mesa de centro na sala de estar e bitucas de cigarro caídas no tapete. 

O forte cheiro de nicotina e álcool preenchiam completamente o ambiente. Aprendi a me acostumar com aquilo com o passar dos anos, mas isso não significava que odiava menos.

- Pai? - Chamei em um tom baixo, quase como se eu não quisesse ser ouvido. 

Bem, eu realmente não queria.

Esperei alguns segundos, porém não obtive resposta. O que me deixou de certa forma aliviada.

Comecei a recolher as garrafas usadas da sala de estar e não consegui conter a careta ao sentir o odor ainda mais forte ao entrar na cozinha. As descartei, olhando para a pia vazia. 

Não haviam louças sujas porque eu raramente comia em casa. Sempre dava um jeito de estar o mais longe possível daquele lugar que, para mim, poderia ser comparado a um inferno particular

Limpei as bitucas de cigarro, mesmo sabendo que quando meu pai chegasse tudo voltaria ao normal. Sujo, bagunçado e muito diferente do que um dia aquela casa foi um dia.

Terminei brevemente o que fazia, subindo as escadas em direção ao meu quarto, o único lugar daquela casa que eu conseguia manter organizado. 

A cama estava perfeitamente arrumada e todas as coisas estavam em seu devido lugar. Isso era graças a chave que, na maioria das vezes, impedia a entrada do meu pai. Ele sabia da existência da mesma, mas nunca a encontrou.

E eu esperava que continuasse dessa forma.

Abri as longas cortinas, deitando-me na cama. Encarei o teto por alguns minutos, sentindo meu corpo relaxar aos poucos. O dia havia sido cansativo e todos os meus ossos doíam. 

Virei meu rosto em direção a estante de livros, eu os conhecia de trás para frente. Perdi as contas de quantas vezes os li, apenas para fugir da realidade. Adorava passar noites em meio aos diferentes enredos.

Quando eu era criança, minha mãe costumava ler para mim até que eu dormisse. Essa era uma das poucas memórias que tinha dela. 

Pressionei os lábios ao sentir um incomodo em minha garganta, levando meu braço até meus olhos para cobri-los.

- Eu sinto a sua falta - Sussurrei - Todos os dias...

Nessas horas, eu queria ser ouvida. Queria gritar e poder voltar no tempo, mesmo que não fosse capaz de mudar nada. 

Eu odiava admitir, mas minha vida era um completo caos e eu estava presa naquele emaranhado de incertezas ao qual fui obrigada a lidar. Eu sabia que possuía diversas feridas, daquelas do tipo que não sangram.

[...]

Sequer notei em que momento chorei até adormecer, mas um barulho ensurdecedor preencheu meus ouvidos. Acordei assustada em um sobressalto tentando raciocinar o que estava acontecendo. Peguei meu celular embaixo do travesseiro, apenas para constar que eram 5h30 da manhã.

Hype Girl | Kajemac Fanfic [Paper Girls]Where stories live. Discover now