CAPÍTULO DOIS: O POLICIAL

26 5 0
                                    

—... AÍ EU FALEI pra ele "cara, sério, olha meu tamanho, você não vai durar um minuto comigo no treino", aí ele disse que aguentava, subiu no tatame e veio. Adivinha o que aconteceu? — comentou o oficial Blackhart.

No banco do motorista, pouco prestando atenção e observando um casebre nas extremidades do distrito de Bromley, ao sul do centro de Londres, estava o oficial Reece Connor: um homem alto e musculoso, com quase dois metros de altura, pele branca, cabelos negros e olhos castanhos escuro.

— Ahm... — murmurou, ainda com os olhos fixos na casa.

— Apanhei daquele cara. Dá pra acreditar nisso? Aquele nerd norte-americano me derrubou com um golpe maluco! Não que eu tenha algum problema com ele ser lá dos Estados Unidos e trabalhar na corporação como se fosse um britânico nascido e criado aqui como nós, mas... caramba, o cara manda bem.

— É, é... o Dennis manda bem... — Reece murmurou, enquanto continuava observando o casebre.

De repente, a porta da frente se abriu, saindo um rapaz branco e pálido, vestindo vários casacos e com enormes olheiras. Antes que o oficial Blackhart falasse mais algo, Reece fez um sinal para que ficasse quieto, apontando logo em seguida para o rapaz que saíra da casa. Xingando baixo, o oficial Blackhart pegou o celular e olhou a foto que tinha na tela.

— Puta merda... é a porra do cara... devemos chamar algum reforço?

— Passe nossa posição atual para central. Vou abordar o suspeito — Reece disse, saindo do carro e sequer esperando o que Blackhart diria.

Caminhou por uma pequena praça que ficava entre a rua do casebre e a rua onde o carro estava estacionado. Seguiu o rapaz por alguns segundos. Apesar de boa parte do céu nublado, alguns raios do sol da manhã alcançavam o chão, vez ou outra batendo nos olhos de policial.

Foi quando, por instinto, jogou-se para o lado, justo no momento em que o rapaz se virou de forma repentina e disparou contra ele, antes de sair correndo.

— Droga! — Reece resmungou, levantando-se e partindo atrás do homem. Pelo rádio, comunicou — Suspeito seguindo pela Fleet Rd! Estou em perseguição. Ele está armado e é perigoso!

Reece correu o mais rápido que podia. O rapaz, enquanto corria, esbarrava-se de forma desajeitada com transeuntes, que se assustavam com a perseguição. Reece tentava desviar da melhor forma. Num movimento ágil, o homem se lançou para cima de um carro e saltou sobre uma mureta que dava para um estacionamento.

Por pouco Reece não escorregou e caiu de cara no chão, conseguindo se lançar contra a mureta e a pulando.

— Parado aí! — gritou. O rapaz apontou a arma para trás e disparou mais uma vez contra Reece, que conseguiu se proteger detrás de um dos carros no estacionamento, antes de retornar à perseguição. Mais uma vez, precisou pular outro muro baixo.

Reece, cadê você? — pode ouvir no rádio a voz de Blackhart.

— Perseguindo suspeito num beco próximo à 32 Lawn Rd! — respondeu ofegante. O beco terminava num estreito corredor, pelo qual o rapaz se jogou, Reece logo atrás. Podia não ser tão rápido e ágil, mas contava com sua força e resistência naquele momento — Droga, estou na Grove, voltando pra Fleet!

O rapaz ameaçou se virar para atirar mais uma vez contra Reece, mas se esbarrou com um carro, perdendo equilíbrio. Antes que conseguisse se recuperar, o policial se lançou com toda força contra ele, lançando-se junto contra o chão. Seus braços fortes e grossos envolveram o perseguido.

— Me solta, caralho! Eu não fiz nada de errado! — gritava, irritado.

— Marcus Smith, você está preso por posse e porte de arma ilegal e tentativa de homicídio de um oficial da Polícia Metropolitana de Londres, além de ser suspeito de tráfico de drogas.

Algumas pessoas ao redor filmavam a cena, curiosas e assustadas. Olhando ao redor, Reece fazia um sinal, pedindo para que se afastassem.

O policial Blackhart chegou poucos segundos depois, parando a viatura próximo deles e ajudando Reece a colocar o criminoso dentro da viatura. Algumas pessoas aplaudiram, parabenizando a ação policial. Sem jeito, Reece apenas assentia, mantendo um sorriso no canto do rosto.

...

Reece continuou sua ronda por mais algumas horas após entregar o suspeito Marcus Smith. Não precisava se preocupar com questões de interrogatórios e outras burocracias do tipo. Eram coisas que poderia deixar para com o pessoal de escritório. Precisou antes ouvir quase dez minutos de reclamação e advertências por não ter seguido os protocolos e, por muito pouco, não estragar toda uma operação.

Marcus Smith já era procurado há cerca de seis meses e os esforços investigativos não estavam levando muito longe. Porém, no dia em que houve o ataque terrorista, Marcus foi, ironicamente, identificado entre os que ficaram feridos, o que abriu uma brecha para polícia começar a encurralá-lo. A princípio, deveriam apenas ficar de olho nos locais onde fora visto se escondendo, mas Reece preferiu seguir seus instintos e, após juntar algumas informações de relatórios diferentes, acabou chegando àquele casebre. O agente Joshua Blackhart estava lhe acompanhando na ronda, quando decidiu parar ali e aguardar.

Por sorte, os reforços policiais chegaram a tempo de impedir que pelo menos outros quatro criminosos fugissem do casebre, levando arquivos, quilos de drogas e dinheiro roubado.

"Se você tivesse apenas comunicado e aguardado reforço, como deveria ter sido feito, não correríamos o risco de perder a apreensão de dezenas de quilos de drogas, dinheiro sujo e sabe-se deus mais o quê! Sem falar que outros criminosos conseguiram fugir, talvez nunca consigamos descobrir o que eles levaram" resmungava a chefe de polícia Merissa Dick.

— Ô Connor, relaxa. Você conseguiu prender o cara. É um herói! — o oficial John Blackhart disse, dando um soco no ombro de Reece, que forçou um sorriso. Suspirando, continuou suas rondas cotidianas, enquanto não havia muito mais o que fazer — Sem falar que você agora estará numa missão importante. Dá um sorriso, cara!

Reece, por fim, acabou sorrindo. De fato, após os longos minutos de resmungos da chefe Dick, ela disse que precisaria de seu serviço para um caso em especial, possivelmente envolvendo terrorismo. Desde o ataque ao Manchester Arena, Reece sentia-se impotente diante da imprevisibilidade e do desconhecimento em relação aos terroristas.

Nenhum grupo terrorista havia reclamado para si o ato, mas suspeitava-se do EIIL – Estado Islâmico do Iraque e do Levante – visto que fora responsável por outros ataques mais recentes. Agora, estando naquele caso, teria a chance de ser mais útil nessa luta contra o terror.

A Merissa Dick lhe dissera que a responsável pela investigação marcara uma reunião às 4:00p.m. Até lá, seguiria fazendo suas rondas, enquanto aguardava ansioso por aquela missão.

O Culto da Cabra Negra de Mil Crias • Série Tentáculos do Caos, livro IIWhere stories live. Discover now