CAPÍTULO CINCO: O CIENTISTA

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A MADRUGADA NÃO foi tão tranquila quanto Andrey torcera para que fosse. Desde que saíra da Rússia e tinha começado seu trabalho naquela instalação bélica britânica, sua mente não parava de cogitar as infinitas possibilidades que teria. Sendo um dos poucos a concluir seu doutorado no MIPT – Moscou Institute of Physics and Technology – e o mais novo da turma, teve a oportunidade de levar suas ideias bélicas a frente quando entrou no programa russo militar, mas inúmeras barreiras e desacordos lhe fizeram desistir e tentar a sorte na Inglaterra.

Apesar dos desacordos iniciais e longos meses de avaliação histórica e infinitos interrogatórios, Andrey Edyovisky acabou por ser aceito na subdivisão tecnológica do Serviço de Inteligência Secreto da Inglaterra – SIS ou, como muitos costumam chamar, o MI6.

No início, precisava aceitar que, apesar de ser uma aquisição valiosa e bastante valorizada pelos diretores do MI6, não mudava o fato de que era um russo dentro de território secreto britânico. Uma posição que gerava enorme descontentamento por parte de inúmeros funcionários, desde o menor até os mais altos postos.

Cerca de oito anos já haviam se passado desde que ingressara no MI6, o bastante para cativar a confiança e construir sua credibilidade entre os agentes e, durante sua estadia, pôde auxiliar no desenvolvimento de várias ideias relacionadas à tecnologia bélica, com ajuda de equipes especializadas.

Entretanto, desde os ataques terroristas a diversos países e nos recentes atentados à Inglaterra, o JIC – Joint Intelligence Committe, ou Comitê Conjunto de Inteligência, na tradução literal – estava tendo que realocar diversos pessoais e realinhar as prioridades, afetando também o MI6, principalmente em questão de redistribuição de verba, boa parte sendo removida dos principais projetos da subdivisão tecnológica.

Agora, boa parte do tempo de Andrey se resumia a esboçar novas ideias que nunca eram aprovadas e, vez ou outra, estudar algumas perturbações eletromagnéticas que vez ou outra eram relatadas em alguns locais da ilha britânica. Infelizmente, por mais que seu doutorado tivesse sido baseado em eletromagnetismo e seu conhecimento em relação ao assunto fosse superior ao de seus colegas britânicos, não fizera nenhuma evolução significativa nas pesquisas.

Após dias sem conseguir fazer nada que, de fato, lhe interessasse, Andrey tornou a estudar as raras perturbações eletromagnéticas no escritório de sua equipe. Outros dois colegas seus também estavam lá, porém não pela mesma razão que Andrey.

Alex Hithcock e Frederick Reville aproveitavam o horário extra para, além de resolver alguns trabalhos inacabados, aproveitarem o tempo juntos para saciar seus desejos amorosos longe de suas esposas que, provavelmente, já deviam suspeitar dos desejos homoafetivos de seus maridos.

Andrey particularmente não se importa com ambos se divertirem na calada da noite dentro do setor. O que lhe incomodava era quando isso acabava atrapalhando o serviço.

Enquanto encarava a tela do computador e calculava mais algumas hipóteses sobre a origem e a forma como os pequenos e rápidos distúrbios eletromagnéticos surgiam, um ponto vermelho começou a piscar na tela.

Era a primeira vez que aquilo acontecia.

Geralmente as perturbações eletromagnéticas eram tão rápidas e aleatórias, que raras vezes conseguiam uma leitura precisa do local em específico onde ocorrera. Porém, pela primeira vez, a distorção eletromagnética não apenas surgira, como se manteve constante durante alguns segundos.

Tempo o bastante para Andrey conseguir definir o ponto exato da anomalia.

— Hicock, Revil, tvoi zadnitsy, venham aqui, agora! — Andrey gritou alarmado, tendo dificuldade em pronunciar corretamente o sobrenome de ambos.

O Culto da Cabra Negra de Mil Crias • Série Tentáculos do Caos, livro IIWhere stories live. Discover now