A Minha Função

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   Lembro-me que no Ensino Médio, no primeiro ano, mais especificamente, entregaram um formulário para respondermos, ele iria determinar o que nós faríamos da vida.

Para mim, aquilo era ótimo porque quando eu era mais novo, os meus colegas viviam exibindo a carreira que eles queriam seguir e quando me perguntavam sobre a minha carreira, eu não sabia responder.

Após o formulário, me disseram que eu me daria bem como professor.

Então, levei aquilo pra vida toda. Me tornei no Ensino Médio e comecei a faculdade de pedagogia, feliz da vida. Demorou muito, mas o processo valeu a pena.

Me tornei professor e sempre fui um estudante de destaque, um professor meu me indicou para uma boa escola da minha cidade. Demorou apenas uma semana após a formatura e eu consegui um emprego, assinei um contrato de três anos e comecei a trabalhar.

Sempre fui paciente, então lidar com adolescentes não era tão insuportável pra mim. Eu entendia eles e conseguia resolver os problemas nas salas de aula.

Mas quanto mais o tempo ia passando, mais insatisfeito eu ficava. Sei lá, eu sentia que não era para aquilo que eu fui feito.

Quando o contrato se encerrou, eu me despedi e voltei pra casa.

Naquele fim de tarde, eu entrei no meu carro e comecei a dirigir pra casa e aquela questão não saía da minha cabeça.

Queria desligar aquelas perguntas incessantes. O que eu vou fazer da vida? Eu sou feliz como professor?

Não tinha as respostas. A verdade é que eu me convenci de que queria ser professor, foi o resultado do formulário e eu aceitei aquilo, mas não era o meu propósito. Qual é o meu propósito?

Eu não sabia dizer.

Já passei tardes me perguntando o que fazer e eu não encontrava a resposta. Deveria seguir como professor ou tentar algo novo?

As semanas se passaram, eu estava desempregado. Em apenas duas semanas, recebi onze propostas de emprego em escolas diferentes.

Aquilo apenas me deixou mais confuso e indeciso. Nos dias atuais, reconheço que meu maior defeito é ser indeciso.

Em dias como quaisquer outros, me sentei na minha cama e fiquei em silêncio. A casa inteira estava silente. Peguei um caderno em uma gaveta da escrivaninha, peguei uma caneta preta no meu estojo e comecei a escrever.

Depositei toda a minha incerteza em relação ao futuro, toda a pressão, todo o desespero por uma reposta em uma das cem páginas daquele caderno.

Arrepsia foi o primeiro poema que escrevi, o primeiro de vários.

Mostrei para meus pais, eles leram e demostraram emoção. Disseram que estava perfeito e que seria bom investir nisso.

Naquele dia voltei pra casa e coloquei instrumentais de piano ou violino para tocar no celular, era inspirador.

Escrevi sobre a beleza da natureza, sobre a tranquilidade em fins de semana, sobre pessoas, sobre amores, sobre dores e me encontrei naquilo.

Comecei a escrever às seis horas da noite e quando decidi parar eram oito da noite. De repente, senti-me alegre em escrever poemas. Em duas semanas, eu escrevi noventa e quatro poemas.

Quando contei para os meus pais sobre o número de poemas que eu escrevi, eles me incentivaram a ir na editora mostrar um pouco do que fiz.

Fiquei em dúvida, mas eles sabiam que daria certo e pais têm razão, na maioria das vezes.

No dia seguinte, minha mãe e eu fomos para a sede de uma editora famosa aqui na cidade.

Eles leram um dos poemas que eu escrevi, falaram que estava emocionante e sincero, como todo poema deve ser.

Como eu era iniciante, disseram que eu ainda poderia aperfeiçoar minha escrita. Eles me sugeriram um contrato e eu aceitei, mas decidi que queria ganhar setenta por cento dos lucros, alguém me disse que trabalhar com editora nem sempre vai te dar tanto retorno financeiro.

Ao longo dos próximos quatro meses, tive aulas de português, reescrevi quarenta e quatro dos meus poemas escritos e decidi transformar em um livro, uma coletânea de poemas.

O presidente da editora gostou da ideia e me disponibilizou uma equipe feita de revisores, um capista, uma editora e dois acessores.

Em mais três meses, o livro estava pronto e o lançamento foi um dos maiores eventos da minha vida. Aprendi um pouco sobre divulgação e a editora me ajudou.

Como eu imaginei, as vendas não começariam estouradas, estamos falando de um livro de poemas, não são mais tão populares quanto antigamente, mas com mais um mês, três mil cópias foram vendidas e as vendas não pararam de subir.

Comecei a ser chamado para entrevistas, meu nome estava nos jornais nacionais e a venda internacional também começou.

No ano seguinte à publicação, fui indicado às categorias: Livro do Ano, Poesia, Capa, Personalidade Literária e Publicado no Exterior.

O último que eu ganhei foi Livro do Ano. Me chamaram e eu subi no palco, ao som de aplausos. Era uma emoção indescritível, não conseguia parar de sorrir e meu maxilar estava começando a doer.

— Cinco categorias ganhas, isso é um sonho e vou demorar pra acordar. Cara, desde que eu era novo, eu nunca sabia qual seria a minha carreira profissional, todos os meus colegas estavam decididos e eu não fazia a menor ideia de qual emprego eu poderia empregar pro resto da vida. Certo dia, sentei na minha cama e comecei a escrever. Depois daquilo, encontrei uma nova paixão: a poesia. Nunca mais vou abandonar ela, queria agradecer aos meus pais e à editora pelo apoio e a todos por tornarem essa noite tão bela e especial. Obrigado Deus, por todas as maravilhas que o Senhor tem me proporcionado. Boa noite! – discursei com alegria e sinceridade.

Muitos já ouviram: “acredite no seu sonho”, mas e se você for como eu, que não tinha nenhum sonho ou nenhum plano?

Você pode forjar um com suas mãos, eu encontrei a minha função. Você também você fazer isso.

AMATEUR CHRONICLESWhere stories live. Discover now