Capítulo VI

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Já faz umas semanas que ando saindo de madrugada.

Observar a rua deserta, sentir o vento sobre a pele faz com que sinta certa paz.
Porém, isso só continuou por conta da vizinha, Katarina.

No começo estranhei vê-la sozinha, pensei em me aproximar, mas desisti no meio do caminho e voltei para casa.
Na madrugada seguinte a mesma coisa. No quarto dia, quando dou meia volta, desistindo outra vez, escuto uma voz perguntar - Você está bem?

Sorri com a lembrança da mesma pergunta que me fez pela primeira vez que nos vimos.

Você está bem? — Retruquei – Não é particularmente normal uma pessoa aqui a essa hora, ainda mais todos os dias.

Daí em diante passamos a nos encontrar e conversar.

Ela tem dezenove e cursa biologia, aparentemente ama natureza e explorar.

Em dias de chuva ela leva uma barraquinha que tem e eu uma lamparina que ganhei de um passeio escolar.

Hoje é um desses dias.

Estamos deitados aproveitando o silêncio, com o passar do dia isso passou a ser algo em comum para nós.

Ela está pegando as frutinhas da vasilha por tamanho e comendo.

Diferente das outras vezes, hoje estou quieto, na verdade, para ser sincero inquieto. É como se estivesse ocorrido um acidente de pensamentos em meu cérebro e um engarrafamento enorme está se formando.

Já sentiu não está vivendo a vida certa? Que depois de uma simples situação tudo se esvaiu? Perdeu o sentido

Pode ser algo passageiro, as coisas ruins não costumam durar para sempre. — Responde ao mesmo tempo que pega mais uma fruta

E se durar? E se tudo o que falam for real? — Fecho os olhos

E o que falam?

Escuto-a se mexer, pelo barulho do movimento ela está de frente para mim.

Eu...

– ...meu fruto amarelo... por que está desistindo de tentar?
Precisamos conversar, Sra.Costa.

Eu... — Abro os olhos completamente desesperado

Minhas mãos vão em direção ao peito, bato uma, duas vezes seguida, cada segundo que passa o ar parece sumir.

Tento levantar, minha visão escurece, um zumbindo agudo surge.

Sinto algo me mexer agressivamente para frente e para trás.
Meu corpo é sugado para baixo, como se algo me puxasse para além do chão.

Silêncio.

É engraçado pensar que a qualquer momento você pode deixar de existir.
O medo que as pessoas sentem da morte é algo que, convenhamos, não tem explicação.

O inexplicável é algo que todos temem.

Até mesmo o mais preparado recua.

Abro os olhos, estou deitado no chão frio e duro, não consigo identificar nada, até porque não tem nada.

Levanto.

O local é completamente vazio, frio e sem vida.

Ando um pouco, receoso. Será que eu morri e aqui é o que chamam de pós morte?

Escutar ao longe Katarina me chamar aos prantos. Corro em direção da voz.

Estou aqui! Katarina, me ajude!

(In)ConsciênciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora