Capítulo VII

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Já faz uma semana que não vejo Katarina.

No dia seguinte daquela noite contei tudo para Letticia, ela olhou para mim preocupada, mesmo sabendo que não gosto de tal sensação, ela não se importou em não tentar disfarçar.

Depois disso voltei aos costumes antigos. Passei a sair com Letticia toda tarde para ir ao lago, do outro lado da montanha.
Nosso lugar preferido.

Minha mãe anda um pouco cabisbaixa. Ontem a noite ela me perguntou se eu estava com algum problema – Você anda muito desligado. Você não é assim.

Ela está certa. Você anda muito desligado.

Não quero contar pra ela.

Letticia faz uma concha com a mão, pega água e joga sobre a cabeça.

Eu sei, mas não vivemos só do que gostamos.

Não quero preocupa-la, Letticia. — Digo saindo da lagoa – E essas coisas não acontecem tem uma semana.

Ela me encara.

É isso ou você começou a mentir para mim também?

Sério, Letticia?

Ela faz um sinal com a mão, um que conheço bem, como se estivesse querendo dizer basta e da um mergulho.

Eu não mentiria pra você! — Grito

Ela aparece novamente de olhos abertos, ambos vermelhos.

Ah, não?

Não respondo.

Ela sai da lagoa e vem em minha direção, senta ao meu lado e prende o cabelo verde, que está um pouco maior que o de costume.

Meus pais me ligaram. — Olho para ela – Eles disseram que não vão poder vim no meu aniversário.

Mas o seu aniversário é só daqui a dois meses.

Ela olha para mim, um olhar vazio.

Letticia vai fazer dezessete, e já é o décimo segundo aniversario que os pais ficam ausentes.

Sabe, Léo, já vai fazer três anos que não os vejo. Meus avós tentam me consolar sempre que podem. Eu amo eles, muito, mas não é a mesma coisa.

Ela pega uma pedrinha e joga no lago, a pedra pula na água três vezes antes de afundar.
Sei que ela só quer que eu a escute, então faço isso.

Tento mudar o clima que se estendeu por nós.

Quer dormir lá em casa hoje? A minha mãe vai passar a noite fora.

O sorriso dela surge — e sinceramente amo esse sorriso — e ela me abraça, em seguida beija minha testa.

O sorriso dela surge — e sinceramente amo esse sorriso — e ela me abraça, em seguida beija minha testa

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A noite foi incrível, como sempre costuma ser.

Rimos, brincamos, fizemos guerra de travesseiro — que ocasionou a maior bagunça e tivemos que limpar de cara emburrada. Assistimos a filmes de terror, comédia, comédia romântica, romances.
Ligamos para os avós da Letticia e para minha mãe, apenas para pode fazer pose para a câmera e desligar.

Foi incrível.

Você não acha que está tarde? — pergunto.

Não, acho que não. — ela se joga no chão e olha para o relógio da parede – Duas e quarenta e cinco, cedinho.

Sento ao seu lado e abraço os joelhos.

Estou com medo. — ela olha para mim sem entender – Estou com medo do que essas coisas que ando sentindo pode ser.

Podemos ir ao médico e tentar descobrir.

Você não entende — afundo o rosto no espaço dos joelhos. Sinto os olhos marejados – Isso é difícil de explicar, é como... é como se eu não estivesse aqui.

Mas está, Léo, você está aqui, você está vivo. Sobreviveu a um acidente horrível, ficou em coma.

Não respondo, fico ali quieto enquanto tento inutilmente segurar as lágrimas.

Não é sua culpa.

Como tem tanta certeza? — olho para ela

Ela abre a boca mas não diz nada, então fecha.

Ela levanta, vai em direção a cozinha e some, em seguida volta com um copo e algo líquido amarelado dentro, coloca ao meu lado e senta de frente pra mim.

O que eu quero dizer é que o acidente, o coma e isso aí não é sua culpa. Você está assustado e não quer preocupar os outros porque não entende e não consegue dizer.

Queria poder conseguir te explicar.

Você precisa de um tempo.

Um tempo?

Desde quando acordou você não tirou um tempo pra si, não se permitiu relaxar. Está se afastando das pessoas por medo, Katarina, seus pais, eu.

Jogo a cabeça para trás, o movimento do meu corpo faz com que minha mão bata no copo fazendo com que vire e espalhe o líquido pelo chão.

Olho para Letticia que encara o líquido amarelado e começo a rir, ela me encara, séria, mas logo começa a rir também.

Droga, mais uma coisa pra limpar.

Ela levanta e me puxa pela camisa, tropeço no líquido e caio por cima dela, e mais uma vez estamos rindo.

(In)ConsciênciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora