Capítulo VIII

7 2 0
                                    

A forte chuva bate em meu corpo como um pai furioso castigando o filhinho teimoso. As gotículas duras e gélidas faz com que minha pele tenha a sensação de ardor. Consigo sentir cada uma bater, deslizar e cair direto no chão.

Faz quase uma hora que me vejo parado na porta de Katarina. Não encontro coragem para bater e explicar que saí de casa desesperado, largando Letticia e a porta da frente aberta por conta de um sonho estranho — as vozes gritavam desesperadamente, com suas vozes secas e cortantes me pedindo para que eu não a deixe – você precisa dela, ela é a única que entende.

Meu corpo todo treme, minha respiração falha, fumaças de ar sai densa quando expiro. Tento mover a perna de volta para casa, mas não consigo.
estou paralisado.
estou com medo.

Enquanto assistia com Letticia, ela me fez uma pergunta inesperada, direta, eufórica – você gosta da Katarina?

E eu não respondi.

Mesmo se minha resposta fosse sim, ela não deve sentir o mesmo por mim. Vamos lá, ela é bem mais velha que eu, não passo de um garotinho aprendendo sobre o mundo e tendo surtos com a mente.

Fecho os olhos. O tremor piorou, não sinto bem meu corpo.

Movo o corpo com dificuldade para a frente e bato uma vez na porta, nada acontece.
Me encosto na porta e começo a bater e bater e bater. Uma luz de dentro surge, me afasto abruptamente da porta e caio.
Katarina surge, com o cabelo bagunçado e o rosto amassado.
Seus olhos demonstram surpresa e medo.

Leonardo?

Escutar a voz dela me deixa leve, para mim, é como os anjos cantando, a água do rio dançando sobre as pedras pontiagudas, o suco de maracujá descendo por minha garganta.

Não faça mais isso, por favor.

Não fazer o que? — pergunta

Não me deixe sair correndo daquele jeito, não me deixe longe.

Ela sai da área no qual a chuva não conseguia alcançar, seus passos são lento e pesado.

Você vai acabar se molhando — digo

Ela continua vindo em minha direção sem dizer nada. Se agacha a minha frente, ficando pouco centímetros de distância. Olha diretamente para mim, olha para a minha alma. Consigo sentir nosso inconsciente gritar, querendo um ao outro, querendo se juntar, se fundir.
Não consigo entender a sensação, o sentimento, não consigo entender o que nunca senti antes.

Não sou eu quem decido. — as gotas da chuva estão escorrendo pelo seu rosto – É você, Léo. Eu não sou o que você pensa que sou.

Do que você está falando?

Ela estende a mão para mim, pego e levantamos.

Ah, Léo — seus olhos estão cheios de lágrimas – Você precisa entender, mas não é fácil, eu sei. Também ficaria confusa e assustada se fosse comigo.

Kat, o que você quer dizer com isso?

Você pode amar no inconsciente consciente. Mas não assim, não é o certo — ela segura fortemente minha mão – E isso me assusta. — e me beija

Acordo assustado.

Letticia está ao meu lado enrolada dos pés a cabeça. A tempestade lá fora é forte.

Levanto e vou em direção a cozinha, pego um copo d'água e bebo de uma vez.

Sinto repentinamente saudade dos meus pais, de como éramos mais próximos antes do acidente acontecer, apesar de, infelizmente, não conseguir me lembrar muito.

(In)ConsciênciaWhere stories live. Discover now