Capítulo XII - Final

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Lentamente meus olhos vão se abrindo.
Sinto o corpo pesado, como se não estivesse aqui, vivo.

Tudo parece mais escuro.

Um vulto passa pelo basculante da porta. Uma espécie de vento preto.
Que merda é essa?

Levanto com dificuldade da cama hospitalar e vou em direção a porta.
Tudo parece mais assustador. Tudo desligado, nenhuma voz, nenhuma alma.

Abro a porta, sinto que a sombra foi em direção as escadas, e então, por alguma decisão idiota, vou atrás.

Não sei o que encontrar la embaixo, mas mesmo assim, começo a descer.
E descer
E descer.

Até que escuto vozes. Várias vozes.

Disfarçadamente vou andando até chegar no térreo. Onde aparentemente tinha algo atrativo.

O vulto estava na porta de saída, parado, me encarando com seu rosto sem forma.

Por algum motivo tinha que segui-lo.

Olho ao redor. Tem muitas pessoas por aqui, talvez uns vinte ou trinta, desde médicos a pacientes.
Muito provável vão me barrar se caso decida sair. Quem em sã consciência deixaria um homem com roupa hospitalar sair sem mais nem menos?

A sombra fumaçada da as costas para mim e atravessa a enorme porta. Precisava ser rápido para alcança-lo.

Talvez eu esteja louco.
Onde já se viu seguir sombras? Minha mente diz para dar meia volta e voltar para o quarto, esperar meus pais chegar e me salvar desse pesadelo.

Mas aqui não sou mais uma criança, meus pais não iriam me proteger.

Então ignoro totalmente e sigo para a porta.
Via ao meu redor pessoas tristes, ocupadas, cansadas. Tudo me lembrando um terrível purgatório.

Hospitais sempre foram tão ruins assim?

Na minha esquerda, noto a recepção. A recepcionista estava atendendo ligações enquanto escrevia freneticamente. Conseguia ver o cansaço em seus olhos.
Ela não queria estar aqui.

Por algum motivo, a cada passo me sentia horrorizado. Eram pessoas chorando, gritando, dormindo.

Número um sete sete! — a recepcionista grita.

Já havia chegado ao alcance da porta. Um calafrio terrível desliza por entre meu corpo, me causando profundo arrepio.
É isso mesmo que quero fazer?

Então, sem muito pensar, puxo a porta.
Ela não se mexe, continua intacta. Faço mais um pouco de força, chamando atenção de uma ou duas pessoas.

Você, grandão. — a recepcionista grita novamente. Olho para trás e a vejo.

Ela vem em minha direção apressada, quase não olha para mim ou para o meu rosto, seu foco é o telefone, onde, quando se aproxima, consigo escutar gritos.

Meus pensamentos se amontoam, fico pensando em diversas desculpas no qual posso usar, como me passar de louco.

Ela está com problema mesmo.

Desculpe? — pergunto.

Ela suspira pesadamente.

Senhora, não temos mais vaga para essa ocasião, ligue para outro hospital. — ela afasta o telefone da orelha e olha para mim – A porta está com problema para abrir.

Então, abre a porta rapidamente. Vira as costas e retorna para o telefone.

Um vento fraco bate em meu cabelo, e percebo, que, por algum motivo incomum, ela não se preocupou em perguntar meu nome.

(In)ConsciênciaWhere stories live. Discover now