Capítulo X

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Silêncio.
Silencio ensurdecedor.

Tento abrir os olhos, contudo, uma luz ofuscante me impede.
Tento novamente.
Os objetos e cores vem criando forma aos poucos. Acima, vejo um teto verde, velho e mofado. Um som constante lento e bips.

Me levanto um pouco. Sinto como se tivesse acabado de acordar de uma noite que durará tres dias.
Ainda desnorteado, consigo sentir melhor algo almofadado abaixo de mim. Um vento fraco passar por entre meu cabelo, que aparenta estar maior que o de costume. Um cheiro rude, empoeirado domina o local.

Olho em volta. As paredes estão em um estado decadente. O papel de parede que outrora era verde — acho — não passa de um verde musgo, rasgado e em algumas partes colado de qualquer jeito. Ao meu lado direito, um buraco gritante com um longo tubo transparente averdeado — velho também. Olho para a frente e encontro o responsável pelo vento. Um grande ventilador empoeirado enferrujado.

Certo, estou em um hospital, mas que hospital medíocre é esse?

Decido levantar da cama sem me importar com os aparelhos conectados a mim. Antes que eu possa erguer completamente os braços para poder tirar os aparelhos, noto uma fraqueza terrível.

Assim que coloco o pé de apoio a porta ao meu lado abre grosseiramente.

Aquele miserável, ele sabe perfeitamente que esse era o turno dele de vim olhar o morto vivo.

Olho em sua direção. Uma mulher magra, branca de cabelo loiro, vestida de jaleco e luvas entra, olhando distraídamente para a prancheta em suas mãos.

Sua voz é, por algum motivo, familiar.

Ela levanta o olhar tediosamente, mas  em fração de segundos seu rosto fica pálido — mais branca impossível.

Meu Deus. — ela tampa a boca com umas das mãos — Meu Deus, meu Deus!

Olho para ela com uma leve irritação.

Algum problema?

Vou chamar o doutor! — e sai correndo, largando a porta escancarada.

Tento interpretar melhor a situação, contudo, ignoro e levanto.

Meus passos são lentos e pesados. Passo por um corredor vazio com diversas portas fechadas e diversos bips espalhados. O corredor leva a um cômodo mais espaçoso, onde posso notar pessoas zanzando ou sentadas em cadeiras com os olhares perdidos. Continuo meu caminho em direção a porta, onde um segurança está em pé ao lado e o outro ao lado do balcão.

Senhor, o que está fazendo aqui? — olho em direção a voz mas ignoro – Senhor?! — o segurança toca fortemente meu braço.

Senhor? — pergunto erguendo uma sobrancelha – Acho que o senhor que está enganado, agora me largue.

As pessoas ao redor começa a direcionar sua atenção em nós.

O outro segurança põe a mão na cintura no mesmo momento em que a balconista olha para mim surpresa e pega o telefone.

Você é algum paciente?

Sinto meu corpo ferver juntamente com um lampejo de dor na cabeça.
Tento me desvencilhar de seu toque.

Não sou paciente! — grito – Devem ter tido algum engano! Não lembro de ter vindo parar aqui. Preciso ver meus pais, Kat e Letticia, então, me deixe ir!

As pessoas começam a se afastar, indo para trás das suas cadeiras, sem reação.

Alí!

Olho em direção a voz e encontro a mesma mulher que outrora saiu correndo do quarto, acompanhada de um homem velho — uns cinquenta anos, talvez, careca com um jaleco branco bem mais sofisticado que o da moça.

(In)ConsciênciaWhere stories live. Discover now