Capítulo 3: Aqui jaz um celular

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Após a Escola Dominical, Beck, sua mãe e Gigante foram passear no Parque Amantikir.

Enquanto conversavam animadamente sobre a aula que tiveram, passaram pelo Jardim das Orquídeas, Lago das Pontes – sendo uma delas construída somente com encaixes, segundo o projeto de Isaac Newton –, e pelo Labirinto Clássico.

Quando chegaram ao Mirante, Beck exclamou:

— Vamos tirar uma selfie!

As mulheres (e o cachorro) se aproximaram das demais pessoas que estavam ali. Dentre elas, Gio e Ariane. Era a primeira vez que a moça vinha ao Parque e Gio foi seu guia turístico. A mineira de 28 anos mudou-se para Campos do Jordão recentemente, e conheceu Gio na igreja. Estava absolutamente encantada com a beleza do lugar.

— Amantikir: um espaço que antes abrigava um haras, e hoje reúne 26 jardins inspirados em diferentes países e cenários do mundo, oferecendo a beleza das flores e plantas durante o ano todo. — Ariane leu em um folder.

— Os portugueses que chegaram à região montanhosa entre São Paulo e Minas Gerais mudaram o nome da Serra de "Amantikir", assim batizada pelos tupis, para "Mantiqueira". Amantikir é um termo indígena que significa "Serra que Chora". — explicou Gio — Da mesma forma que a Serra da Mantiqueira se divide em três Estados (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais), os jardins são divididos em três regiões: Mantiqueira Paulista, com jardins representativos de vários países; Mantiqueira Fluminense, representada no Parque apenas por florestas e bosques; e Mantiqueira Mineira, representada por jardins brasileiros característicos da faixa habitada originalmente pela Nação Tupi.

— Não é incrível contemplar a criação de Deus? — indagou ela.

— Sim! — ele sorriu — Vamos tirar uma foto?

— Claro!

Quando Gio foi se posicionar para tirar a foto com Ariane, acabou esbarrando em alguém que estava com o braço esticado para tirar uma selfie, e, assim, o aparelho celular da pessoa se precipitou a 700 metros de altura.

— MEU CELULAR!!! — Beck gritou e apoiou-se no parapeito do Mirante.

— Oh, não! Aqui jaz um celular... — lamentou Ariane, com as mãos na cabeça.

— Por favor, me perdoe. Foi um acid...

Antes que Gio terminasse a frase, Beck olhou para seu rosto e imediatamente os dois se reconheceram.

— VOCÊ DE NOVO? — eles disseram ao mesmo tempo.

— Vocês se conhecem? — foi a vez de Ariane e dona Érica fazerem coro.

— Foi ele quem roubou meu lugar na tirolesa aquele dia! — acusou Beck.

— Hãn? — Ariane franziu a testa e olhou para Gio.

— Não foi nada disso! — ele se defendeu.

— Me reconheceu e resolveu fazer uma retaliação, não é mesmo? Seu furador de fila e assassino de celular! — esbravejou Beck.

— Me poupe. Se dependesse de mim, nunca mais te veria! O que aconteceu foi um acidente, e eu vou arcar com o prejuízo...

— É claro que vai – e agora mesmo! Me dê aqui seu celular! — Beck partiu para cima de Gio.

Por ser mais alto, ele levantou o aparelho com a mão direita e disse:

— Senhora, controle a sua filha!

Sem que dona Érica pudesse dar-lhe uma resposta, Gigante saltou de seu colo e começou a latir freneticamente para Gio.

— Isso, bebê! Morda o calcanhar deste pilantra! — atiçou Beck.

— Se este projeto de cachorro tentar me morder, não hesitarei em dar-lhe um bicudo! — ameaçou Gio.

O mini chihuahua aparentemente entendeu o recado e saiu correndo dali. Dona Érica partiu em disparada atrás dele.

— Ei! — gritou um funcionário do local — Cachorros apenas na guia ou no colo!

— Desculpe! Eu vou pegá-lo! — dona Érica respondeu sem olhar para trás.

Beck virou o rosto novamente para Gio e disse:

— Dê seu celular, é o justo!

— De jeito nenhum! Eu compro outro para você, mas não vai ficar com este!

Os dois iniciaram um "cabo de guerra".

— Você vai quebrar meu aparelho! — reclamou Gio, com os dentes cerrados.

— Parem com isso! — pediu Ariane.

Dois turistas norte-americanos assistiam a cena.

What's happening?

I don't know. Brazilians are crazy. Let's get out of here.

O casal foi embora apressadamente.

Gio venceu o cabo de guerra, Beck caiu num arbusto e ficou com as pernas para cima. Um garoto que estava presente com os pais, ao ver a cena, caiu na gargalhada.

— Me passe o telefone da sua casa. Vou comprar um celular e te ligo para ir entregá-lo.

— Quer saber? — Beck levantou-se, extremamente irritada — Não quero nada de você, a não ser distância! — e saiu pisando duro.

Gio ficou olhando-a até perdê-la de vista.

— Uau... o que foi isso? — questionou Ariane — Quem é ela?

Ele pensou por alguns segundos e concluiu:

— Sequer sei o seu nome! Deixa pra lá. Vamos embora?

A 500 metros dali, Beck encontrou-se com sua mãe e Gigante. O pequeno cão estava de volta ao colo da dona.

— Filha, que confusão foi aquela?

— Aquele cara é o meu pior pesadelo! E agora estou sem celular!

— Ele é uma graça. Tem até olhos azuis!

— Um sem graça, só se for!

Dona Érica riu e propôs:

— Vamos à loja comprar um chá de camomila. Você está precisando!  

BECK & GIO: IMPLICÂNCIA À PRIMEIRA VISTA (concluída)Where stories live. Discover now