Capítulo 7: Um incêndio sobre minha cabeça

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Após o passeio com Ariane e Luiza, Gio avisou Trig sobre o acidente e foi para casa tomar banho. Devidamente apresentável, retornou à fábrica onde trabalharia até as 18h.

Às 17h, quando Beth e Beck encerraram o expediente no Parque da Floresta Encantada, tiraram as fantasias e foram em direção ao carro da loira.

— O que você encomendou? — indagou a ruiva.

— Uma "Cesta da Paixão". Dentre outros produtos, terá barras de chocolate personalizadas com o nome do Apolo!

— Ele vai adorar! Nossa... Seu Américo estava vivo quando fui à Sabor da Montanha pela última vez. — constatou Beck.

— Só sei que, mesmo estando sob nova direção, a chocolateria manteve a qualidade. As avaliações na internet continuam ótimas. Fiz a encomenda pelo site, então não vejo a hora de conhecer a Sabor da Montanha 2.0 pessoalmente! — disse Beth.

— Vou aproveitar e comprar algo para minha mãe! — Beck sorriu.

Apenas nove minutos depois, as amigas chegaram à loja.

— Boa tarde! Meu nome é Elizabeth Zanella e vim buscar minha encomenda.

— Só um momento. — respondeu a funcionária.

Beck se afastou de Beth e foi dar uma volta pela loja. Numa prateleira, avistou caixas em formato de coração. Esticou-se para pegar uma e verificou que continha bombons de cereja. Estes não são os preferidos de dona Érica, então Beck devolveu o produto no lugar e ficou na ponta dos pés para pegar a caixa da prateleira de cima, a qual tinha uma cor diferente, indicando que os bombons eram de outro sabor.

— Vamos... vem pra mamãe... — sussurrou Beck, esforçando-se ao máximo para alcançar a caixa.

Assim que a pegou, todas as demais vieram junto e caíram no chão.

Com o barulho, todos os clientes, inclusive Beth, olharam para ela. Com muita vergonha, Beck exclamou rapidamente:

— Sinto muito!

Ela abaixou-se e começou a recolher caixa por caixa.

— Amiga, eu te ajudo!

Beth pegou as caixas que tinham caído mais longe e logo elas arrumaram tudo.

— Desculpe mais uma vez! — Beck disse, indo em direção à balconista.

— Está desculpada.

Beck arregalou os olhos e virou para trás. Lá estava Giovanni encarando-a, só que, desta vez, não havia irritação em seu olhar.

— "Estou desculpada"? Espera aí... você é o novo proprietário?

— Eu e o Trig.

Beck levou as mãos ao rosto, envergonhada, e saiu da loja.

— Obrigada! — Beth disse e foi atrás da amiga, carregando a cesta de Apolo.

Gio franziu a testa, confuso.

— O que aconteceu, mano? — indagou Trig.

— A Rebecca esteve aqui. Derrubou os produtos daquela prateleira.

Trig olhou ao redor.

— Onde? Não estou vendo nenhuma bagunça!

— Ela e a amiga arrumaram tudo antes de irem.

— Entendi. — o moreno analisou a expressão do amigo — Por que essa cara?

— Quando vi o que aconteceu, fui rapidamente em sua direção para dizer poucas e boas, mas o Espírito Santo me deu graça para vencer essa tentação. Enquanto observava ela e a amiga recolherem as caixas de bombons, lembrei que tudo que Deus pede de nós, Ele mesmo nos capacita a cumprir. O Evangelho nos transforma de dentro para fora, e nos dá poder para vencer o pecado. Fiquei com vergonha e resolvi vencer o mal com o bem. Como eu disse, ela avacalhou comigo hoje mais cedo, só que eu não devia fazer o mesmo com ela.

— E acho que já está na hora dessa implicância chegar ao fim! — Trig completou.

No carro, Beck perguntou:

— Neste momento há um incêndio sobre minha cabeça, né?

— Hãn? — Beth franziu a testa.

A ruiva deu um longo suspiro, pegou o celular – que Gio lhe dera – e abriu o App da Bíblia.

— Ouça a passagem que li de manhã: "Nunca paguem o mal com o mal. Pensem sempre em fazer o que é melhor aos olhos de todos. No que depender de vocês, vivam em paz com todos. Amados, nunca se vinguem; deixem que a ira de Deus se encarregue disso, pois assim dizem as Escrituras: "A vingança cabe a mim, eu lhes darei o troco, diz o Senhor". Pelo contrário: "Se seu inimigo estiver com fome, dê-lhe de comer; se estiver com sede, dê-lhe de beber. Ao fazer isso, amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele". Não deixem que o mal os vença, mas vençam o mal praticando o bem". E hoje mesmo eu tive a oportunidade de me colocar no lugar de alguém e não fiz isso! O Giovanni, por outro lado, não deu o troco... Ele amontoou brasas vivas sobre a minha cabeça!

Beth sorriu.

— Não sei porque vocês continuam brigando. Aquele lance da tirolesa é passado!

— Não é só por isso. Ele adora me irritar!

Beth arqueou uma sobrancelha.

— OK. — Beck deu-se por vencida — Deve haver em mim o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, e Ele é o maior exemplo de humildade.

— Então você vai fazer o quê? — a loira gesticulou com as mãos, querendo levar a amiga a uma conclusão óbvia.

— Vou voltar lá e pedir desculpas.

— Essa é a minha garota! — Beth bateu palmas.

— Que vergonha...

— Mate o orgulho! — Beth simulou facadas no ar.

Beck, por fim, abriu a porta do carro e caminhou lentamente de volta à loja.

— Oi... Trig? — indagou ela.

— Oi! — ele ergueu as sobrancelhas, surpreso.

— Qual é o seu nome? Acredito que prefira ser chamado assim apenas por seus amigos.

— Meu nome é Robervaldo Trigueiro e eu odeio. Pode me chamar de Trig mesmo.

— Certo... — ela passou a mão na nuca — Olha, me desculpe pela confusão aquele dia na tirolesa. E também pela bagunça que fiz agora a pouco. Posso falar com seu amigo?

— Eu peço desculpas também. O incidente na tirolesa não passou de um grande mal-entendido. — ele sorriu — Gio está finalizando algumas coisas na fábrica, mas — Trig olhou seu relógio de pulso — já vamos fechar. Daqui a pouco ele volta.

Beck assentiu com a cabeça e aguardou por cerca de dez minutos. Para não voltar ao estacionamento, mandou uma mensagem à Beth e a loira disse que a esperaria sem problemas.

— Você voltou! — disse Gio.

— É... Eu quero pedir perdão por ter brigado com você na tirolesa, no Amantikir, na igreja, no Museu da Bíblia e... céus! — Beck ficou chocada ao constatar por quantas vezes tinham discutido — Perdão principalmente por ter rido de você hoje. Acredite, assim que derrubei as caixas e você não pagou na mesma moeda, aprendi uma grande lição.

— Tudo bem. Além do mais, eu não perdia a oportunidade de provocá-la também. Sinto muito. Amigos? — ele estendeu a mão.

— Amigos. — ela retribuiu o cumprimento.

— Agora só falta uma coisa.

— O quê?

— A caixa de bombom que você escolheu!

— É mesmo, eu tinha esquecido!

— Um presente! — propôs ele.

— De jeito nenhum! — ela replicou de maneira enfática.

Antes que Gio pudesse respondê-la, Beck levantou uma mão e completou:

— E agora não digo isso para iniciar uma discussão. Não vou aceitar o presente porque quero prestigiar você e o Trig. Vou pagar pelos chocolates.

Ele sorriu e concordou.

— A propósito, — Beck parou de caminhar em direção ao caixa e virou-se para ele — A loja está linda! Parabéns!

BECK & GIO: IMPLICÂNCIA À PRIMEIRA VISTA (concluída)Where stories live. Discover now