Capítulo 1

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MICHAEL

Insuficiência Cardíaca Grave

Lembro até hoje do momento em que essas palavras saíram da boca do médico. Foi como se eu fosse o jogador prestes a marcar o ponto da equipe e, de repente, sem perceber, sou levado ao chão e perco a bola antes de sequer entender como tudo aconteceu. Em um momento, a vida está indo muito bem e no seguinte...tudo desmorona diante dos seus olhos.

Eu era jogador do time de beisebol da escola, participava da equipe de natação e até me arriscava na corrida. Sempre foi assim. Sempre fui um atleta de destaque, desde pequeno, em todas as escolas por onde passei e o treinador do time da minha escola atual vivia dizendo que, se tinha alguém que poderia conseguir bolsas de estudo como atleta na universidade que quisesse, em qualquer lugar de Los Angeles ou dos Estados Unidos e até do mundo, esse alguém era eu. E eu, é claro, acreditava nele porque...bom, o que poderia dar errado?

E a resposta a essa pergunta veio há mais ou menos um ano, quando a rotina pesada de treinos e atividades começou a me cansar com facilidade. Andar pelos corredores da escola se tornou uma tarefa complicada porque, mesmo andando por poucos metros ou apenas amarrando um cadarço, eu já começava a ficar ofegante. Percebi que não estava nada bem e que as coisas realmente poderiam dar errado quando desmaiei durante um treino e depois desse dia, minha vida nunca mais foi a mesma. Fui levado para o hospital e, após uma bateria de exames, o médico disse as três palavras que mudaram tudo. Esse era meu diagnóstico: eu tinha insuficiência cardíaca e não poderia mais praticar esportes, sair na rua ou, resumindo, viver até encontrarem um doador de coração compatível.

Claro que eu fazia o tratamento seguindo todas as orientações do médico e tomava os remédios da forma como ele recomendava, o que me permitia uma sobrevivência confortável, mas, para voltar à vida normal que eu tinha antes de tudo, só por meio de um transplante. Meu coração não aguentaria um mísero esforço sequer.

E chega até a ser estranho pensar que, para que eu possa voltar a viver normalmente, uma pessoa que eu não conheço e nunca vi na vida tem que morrer e ser generosa o suficiente para deixar seus órgãos para mim e para outras pessoas que também precisam. E, claro, ela não vai estar aqui para dizer que queria deixar os órgãos para outras pessoas, então quem decide tudo é a família, o que deve ser, ao mesmo tempo doloroso e altruísta.

É, passar algum tempo com a morte à espreita me ensinou algumas coisas sobre a vida.

A primeira é que não levamos nada dessa Terra quando morremos. Tudo é efêmero e passageiro e o que conta não são as coisas que temos, mas sim, os momentos que compartilhamos com aqueles que nos amam. Nosso dever é aproveitar tudo enquanto podemos. Eu passava tanto tempo focado em ser o melhor em tudo aquilo que eu fazia e realizando tantas tarefas que mal tinha espaço na minha rotina para minha família ou para sair com meus amigos. Se eu pudesse voltar no tempo para fazer tudo que não fiz antes de ficar doente, não hesitaria em fazer exatamente isso: aproveitar cada instante com aqueles que amo.

A segunda e talvez a mais óbvia e clichê é que só sabemos quem realmente está conosco nos momentos de adversidades. Quando eu estava por cima e era o garoto prodígio, o melhor jogador do time, um dos caras mais populares da escola, todos queriam estar perto de mim, conversar comigo, perguntar como eu estava. Mas hoje, consigo literalmente contar nos dedos de uma mão quem são as pessoas que realmente estão ali para mim: minha mãe, meu pai, meu treinador que é como um segundo pai e os dois melhores amigos que fiz no meio desse caos que vivi no último ano, Isaac e Tyler.

O que me leva à terceira coisa que aprendi sobre a vida durante o tempo em que estive aqui: até em momentos como a tristeza e a desesperança, podem surgir coisas boas. A amizade deles é a prova disso. Estávamos perdidos, sem perspectivas e encontramos uns nos outros aquilo que se pode chamar de luz no fim do túnel. Isaac tem fibrose cística e literalmente vive no hospital desde que tinha seis anos. Tyler descobriu um câncer nos ossos mais ou menos na mesma época que eu descobri minha doença. O dia em que nos conhecemos está marcado como um dos mais importantes da minha vida e, sempre que as coisas parecem duras demais, me recordo dele.

Meu coração é seu| Trilogia Curados- livro 1Where stories live. Discover now