Meu coração é seu| Trilogia Curados- livro 1

Capítulo 12

MICHAEL

"E também é bonita..."

Digitei e apaguei essa frase várias vezes, pensando se seria uma boa ideia enviar isso pra Anna ou não. Nunca tive essa espécie de insegurança ou escolha de palavras ao lidar com uma garota antes, mas com ela...É diferente. Essa relação de proximidade e conexão que nós criamos me faz realmente bem. Não queria perder isso por falar alguma besteira e ela entender errado. Então, apago de uma vez a mensagem e ela entende que eu não ia digitar mais nada, apenas agradecendo pelo elogio que lhe dei, que não deixava de ser verdade.

Gosto muito da companhia dela, de estar com ela e de conversar com ela. Tudo isso me faz bem porque sinto que ela me entende e que eu também a entendo. Não teria graça ir pra uma festa onde ninguém ia querer conversar comigo e os poucos que me conheciam, ficariam me olhando com olhares de curiosidade, sempre tentando descobrir o motivo de eu ter ficado desaparecido por um ano. Seria bom ter alguém que me entendesse pra poder conversar sem ser julgado e, com Anna eu sentia que podia fazer isso.

E que o Isaac não saiba que estou tecendo elogios pra ela aqui, ou é capaz de me azucrinar por uma semana dizendo que estou apaixonado por ela. Já garanti inúmeras vezes que não quero me relacionar com alguém tão cedo, muito menos a Anna que sofreu uma perda tão recente.

Não se pode mais gostar da companhia de uma garota sem estar apaixonado por ela? Ele acha que vivemos num desses livros de romance que ele lê, em que duas pessoas se conhecem e se apaixonam perdidamente. Mas essa história, a minha história, tá mais pra drama que pra romance.

Não menti quando disse que não sou mais o rei da escola. Deixei de ser quando parei minha vida no ano passado e a dos outros continuou sem mim, passou sem mim. A maioria dos alunos da GG nem sabe quem eu sou e hoje, sinceramente, eu prefiro isso. Estou feliz e grato demais por ter na minha vida aqueles que realmente querem meu bem e querem estar comigo. E por estar vivo, sobretudo por estar vivo.

Por falar em estar vivo, o compromisso inadiável de amanhã que me fez desmarcar o Xadrez foi a minha consulta de retorno ao médico. Ficou marcada pra amanhã, na hora do almoço, exatamente o mesmo horário da reunião do clube de xadrez e é algo que nem se eu quisesse poderia adiar, porque meu tratamento ainda não acabou.

Tenho que voltar lá para fazer consultas de monitoramento pelo menos uma vez por mês, pra ver se não teve nenhuma alteração nos meus exames e se o coração está funcionando como deveria. Se fizesse exames e consultas de rotina no ano passado, não teria que ter passado por tudo que passei então, aprendi a lição e sigo todas as recomendações médicas. Quero voltar a ter uma vida normal o mais rápido possível o que, é claro, inclui voltar ao time de beisebol.

Confesso que estou gostando bastante de ser treinador dos pequenos do projeto em Skid Row, mesmo que já tenha ido só um dia. Acabei aceitando a proposta do Howard, para a alegria dele, mas também das crianças ajudadas pelo projeto. Agora toda semana, às quartas e sextas depois da aula, vou com o treinador até lá e fico treinando as crianças por uma hora mais ou menos. É bem legal ver a gratidão no olhar deles e gratificante saber que estão assim por algo que eu fiz.

Já até marquei com Isaac e Tyler deles irem lá um dia comigo e eles aceitaram prontamente, me dizendo só pra avisá-los, que iriam com certeza. Tomei o cuidado de adverti-los sobre o local, que pode ser meio perigoso mas eles dois me tranquilizaram, falando que sabem se cuidar. E eu acredito mesmo nisso. Convivi tempo suficiente com eles pra saber que esses caras são duros na queda.

- Querido, o jantar está pronto!- minha mãe grita do andar de baixo.

- Tô indo, mãe!- respondo do andar de cima e saio do meu quarto, descendo até a cozinha onde o cheiro da comida maravilhosa que a minha mãe preparava exalava por toda a cozinha.- Por que não me chamaram antes? Poderia ter ajudado em algo.