Capítulo 6 - Pedaços de Se Yeon

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No dia seguinte, Lijiane me chamou em seu quarto. Fui arrastando até lá. Entrei pela porta e não ousei olhá-la nos olhos. Ela havia acabado de acordar e seus cabelos longos escorriam pelas costas de forma magistral.

Ela estava sentada na frente da mesa comendo um biscoito e tomando chá. Sorriu animada quando me viu e fez um gesto para que eu me juntasse a ela no café da manhã, como se nada tivesse acontecido. Balancei a cabeça, recusando.

Ela me encarou com raiva, mas logo riu indo até a mim, me segurou pela mão me puxando até a cama e me fez sentar. Pegou com a mão direita um biscoito que começou a morder e com a esquerda me ofereceu outro para que eu desse uma mordida. Continuei imóvel deixando claro todo o meu desgosto. Ela então atirou o biscoito com raiva contra a tigela de vidro e continuou mordiscando sua guloseima:

____ Vai continuar agindo assim? - Ela perguntou com raiva e eu fiz questão de permanecer calada.

Querendo amenizar o clima, ela começou a fazer carinhas engraçadinhas para me animar, mas me mantive séria.

Ela então se aproximou tentando me beijar e eu a impedi, perguntando:

____ Porque fingiu? - Minha voz estava embargada em mágoa.

____ Eu fingi? Quando? - Ela tentou tocar meu rosto, mas me desvencilhei com raiva e continuei:

____ Fingiu que gostava de mim. Fingiu que se importava. Fingiu que me queria... que me amav... - Não consegui terminar.

Ela lambeu os lábios e suspirou, cansada:

____ Porque acha que eu fingi?

____ Não fingiu? - Perguntei, inocente.

____ Não. Nem um pouco. - Ela parecia ser verdadeira, mas soava muito fria para quem estava sofrendo.

____ Porque para mim... - Segurei para não chorar: ___ Me pareceu que tudo não passou de um jogo... seu e do doente do seu marido.

Ela suspirou:

____ Não foi isso! - Ela deu um gole em seu chá: ____ Se ele quiser ficar com as criadas, quem sou eu para julgá-lo? - Ela falava mostrando claramente que não o amava. Eu balancei a cabeça sem acreditar. Ela prosseguiu: ____ Quem começou isso tudo fui eu. Ele odiava. Expulsava todas as meninas de quem eu gostava. - Ela engoliu seco como se lembrasse de algo muito ruim: ____ Então entramos num acordo. Se elas quisessem se deitar com ele, estavam livres. Se quisessem se deitar comigo também. Você quis.

____ Então sou só mais uma... nessa sua vasta coleção! - Queria muito chorar, mas não daria aquele gostinho a ela.

____ É um pouco mais complicado que isso! - Ela se analisava.

____ Eu não quero me deitar com você nem com ele, está bem? - Fiz quase um pedido.

Ela fechou a cara. Não queria abrir mão de mim tão fácil, mas concordou com a cabeça enquanto dizia:

____ Pois bem. Sem problemas. Encontraremos outra criada que queira! - Deixava claro que seria muito fácil me substituir. Mas em seguida, parou pensativa, como se quisesse que eu voltasse atrás.

***

Dias se passaram e Lijiane de fato cumpriu sua promessa, não me chamando mais em seu quarto.

Passei noites chorando, querendo estar com ela, sentir seu toque, seus lábios colados aos meus. Tentava entender porque ela era daquele jeito. Dei inúmeras desculpas para ela, uma infância ruim, algum trauma, mas no final, nada diminuía a falta que eu sentia dela.

O quarto da Senhora - 10+ do Kindle em LGBT!Where stories live. Discover now