É Assim que Começa

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Não sei quantas horas já se passaram desde que peguei a estrada. Olho para o banco de trás e vejo Henry dormindo profundamente. Ligo a seta para esquerda e paro na praia. Preciso respirar um pouco. Desligo o carro, solto meu cinto, deixo minha janela aberta até a metade, saio do carro e fecho a porta. Assim que dou o primeiro passo, a bile sobe e vomito tudo que estava em meu estomago. Respiro profundamente várias vezes, tiro meu calçado e caminho em direção a areia. Assim que meus pés tocam a macies e os minúsculos flocos, sinto uma imensa vontade de chorar. Dou mais alguns passos e consigo ver a imensidão azul que está banhada pelas primeiras cores do dia. Meus olhos ficam marejados e meus joelham falham, sento-me sobre eles e envolvo minha barriga com as mãos, deixando todos os sentimentos que guardei até agora me inundarem por completo.

As lágrimas descem pelo meu rosto e caem na areia abaixo de mim, fazendo sua cor ficar mais escura. Olho para as estrelas e deixo toda a dor me preencher. Até esse momento, eu nunca tinha me sentido tão sozinha. É como se um grande buraco tivesse sido aberto no meu peito! Meu corpo todo dói, minha alma parece que foi marcada para sofrer. Meu choro expõe toda a dor que estou sentindo e todo o vazio que eu sinto. Tenho vontade de gritar, de me bater e acabar com tudo isso. Sinto o gélido da arma em meu cós e a pego, olhando para o objeto metalizado em minhas mãos. Não quero mais sentir isso, não quero mais sofrer, não quero mais viver se meu caminho sempre encontrar a tortuosidade e violência. Giro o tambor com a munição e penso que um único disparo acabaria com isso, cessaria a dor violenta que despedaçou meu coração. Por que? Deus, por quê? Fecho o tambor, engatilho o revólver e fecho meus olhos. Isso tudo vai acabar logo. Deixo mais lágrimas escorrerem em minha face e posiciono a arma em minha têmpora. Respiro fundo e quando meus dedos começam a pressionar o gatilho, escuto a voz que me traz de volta a realidade.

"Mamãe" a voz dengosa de Henry, meu filho de três anos, me faz largar a arma na areia. O que eu ia fazer, meu Deus? Estico meus braços e ele vem correndo em minha direção. Assim que sinto seu pequeno corpo no meu, choro ainda mais.

"Desculpa, filho" falo, segurando seu rostinho em minhas mãos. "Desculpa a mamãe, eu não queria te assustar" as lágrimas escorrem do meu rosto e seus olhinhos brilham também. Como eu pensei em tirar minha vida, se esse menino é todo o meu mundo? "Eu prometo que sempre vou cuidar de você e nunca vou deixar ninguém te fazer mal, tá bom?" pergunto e ele faz um beicinho, deixando uma lágrima cair de seus olhos. "Cadê o papai Tom e papai Bill?" ele pergunta e escuto meu coração quebrar em pedacinhos. "Me desculpa, me desculpa, meu amor, vai ser só nós a partir de hoje" beijo seu rosto "Você é tudo na minha vida, filho, a pessoa mais importante, você é meu filho e eu te amo mais do que tudo" o abraço apertado e ele enrosca seus bracinhos em volta do meu pescoço. O pego no colo e olho para a arma no chão: não preciso mais de você! Olho para o mar, já conseguindo enxergar o azul do oceano pacífico e as raias do Sol o banhando. "Está com fome?" pergunto e ele acena que sim com a cabeça e dou um sorriso para ele. "O que acha de comer panquecas?" ele sorri e repete o que eu digo e volto com ele em meu colo para o carro, que está com a minha porta aberta. Garoto esperto!

Saímos da praia e minutos depois encontramos uma lanchonete aberta. Tomamos nosso café e tentei a todo custo distraí-lo para não perguntar sobre eles. Assim que terminamos, o arrumo na cadeirinha, coloco meu café no porta copos e seguimos na estrada. Temos boas horas de viagem pela frente. Ligo o rádio baixinho e dirijo deixando as lágrimas rolarem.

Quando chego em meu destino, fico longos minutos parada em frente a porta. Henry me olha com curiosidade "mamãe, não vai bater" ele pergunta e olho para ele, fazendo que sim. Bato na porta com a mão, dando dois toques. Respiro fundo e depois de alguns segundos, escuto passos pesados vindo em direção, uma sombra grande se forma através do vidro da porta, abrindo-a.

Criminous Paradise | TOM E BILL KAULITZOnde histórias criam vida. Descubra agora