-Capítulo 02 - Nessa espera -

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"Nem a brisa vem soprar nessa espera, tudo espera por você...".

Já tinha se passado quase um mês que Arthur fora enterrado. Fui à missa com a Roberta, não podia contar com a companhia do Apollo para ir à Igreja. Ele se recusava a acordar cedo para ver um padre ler a mesma coisa escrita no mesmíssimo livro de dois mil anos atrás (palavras dele). Me bateu uma saudade tremenda de Arthur, geralmente lhe levava algum doce aos domingos, depois da missa. Nunca mais tive coragem de ir a casa dele, mas naquele domingo iria. Roberta se negou a me acompanhar porque tinha medo de alma, então voltei em casa para pegar a moto, arrumei meu vestido de modo que ele não subisse com o vento, montei no veículo e fui sozinha, percorrendo as subidas íngremes pela estrada de terra batida.

Ainda alguns metros distante, fiquei apenas observando a casa, que parecia incrustada na rocha. Para muitos era só um imóvel antigo, mas eu tinha certa fascinação por aquele local. Era a única casa na colina, ao seu redor, apenas árvores, como se ficasse no meio de uma floresta. A base da construção que ia até a metade da parede branca era coberta por pedras. Não sabia exatamente que tipo de rocha era aquela, que brilhava levemente quando o sol estava forte e nem lembrava se aquela casa já existia antes da chegada dele à Novo Horizonte ou se o próprio vô Arthur construíra, nunca cheguei a perguntá-lo e nem poderia mais.

Estacionei a motocicleta debaixo de uma das árvores próximas da varanda e subi os quatro degraus da escada sem olhar para a cadeira de balanços que continuava ali, dessa vez parada. Abri a porta destrancada sem dificuldades. Naquela cidadezinha a única vantagem era essa, criminalidade zero. A delegacia só abrigava alguns jovens arruaceiros de vez em quando.

Dentro da casa tudo permanecia como sempre, um pouco de pó pelos móveis da enorme sala, grande demais para ninguém. Abri as janelas a fim de permitir que o ar entrasse e entrei na pequena biblioteca procurando um livro para ler. Não achei nada que me interessasse e fiz uma nota mental de ir à livraria na próxima vez em que fosse a Joinville, porque em que Novo Horizonte não tinha nenhuma. Já estava de saída quando vi um exemplar de Madame Bovary em cima da escrivaninha. Lembrei que nunca tinha lido, apesar de sempre ter tido vontade.

Desisti de ir embora e sentei no sofá, procurando uma posição confortável. Era domingo, não tinha nada pra fazer até a tardinha quando teria que trabalhar, era melhor ler ali, tinha toda paz e silêncio que precisava, ao contrário de casa, com o meu pai falando de política, minha mãe fofocando e minha irmã abrindo a boca, afinal qualquer coisa que saísse dali me incomodava. Comecei pela orelha do livro, já havia pesquisado sobre aquela obra e me interessado, mas não me lembrava de muita coisa.

Só percebi que tinha cochilado quando acordei com um barulho de carro, acreditei que era o Apollo que provavelmente me procurou por aí e não me achou. Ainda sonolenta por ter trabalhado na noite anterior até as duas da manhã e acordado cedo para assistir a missa, me acomodei melhor no sofá esperando que ele entrasse. Nessa espera acabei dormindo de novo e parecia que tinha dormido horas quando me deparei com intensos olhos cor de mel me fitando. Estava sonhando com um homem lindo e com um sorriso intrigado no rosto.

Fiquei feliz, pelo visto estava sonhando com o meu Mr. Darcy, um pouco mais novo do que nos meus devaneios e um pouco menos formal também. Confusa, passei as mãos nos olhos, isso não era um sonho, era? Até onde eu sabia Mr. Darcy não tinha cabelos tão bagunçados. Meu rosto tencionou, estava seriamente decepcionada.

– Isso não é um sonho? – Perguntei com medo da resposta.

– Acredito que não. – O homem respondeu tentando segurar o riso, mas foi meio impossível, tal era o meu desapontamento.

Novo Horizonte - AMOSTRAHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin