De Volta À Hogwarts

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💜 Esse conto se passa no universo canônico.
Boa leitura 💜

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Escócia, 1° de setembro de 1976

O acento no qual o menino dos olhos verdes-caramelo se sentava e o chão no qual seus pés cansados descansavam estremeciam constantemente com os solavancos que o trem dava enquanto subia a colina com seu ritmo imperturbavel.

Vez ou outra, o mesmo menino dos olhos sempre tão serenos e cansados conseguia ouvir, mesmo entre a barulheira do vagão, o som das rodas de ferro raspando contra a linha também de ferro. Era um barulho chato que fazia os pelos de sua nuca arrepiarem.

A janela da cabine que ele dividia com três garotos barulhentos e tagarelas estava aberta e, através dela, ele podia ver a imensidão verdejante que eram as serras escocesas.

Para onde olhasse, seus olhos calmos e inteligentes viam somente céu cinza muito claro e grama verde de um tom puro e vivo feito uma terra de esmeraldas.

Em alguns momentos, a paisagem era alterada por pequenas vilas construídas na colina. O menino via os borrões que eram as casinhas à distância e imaginava como seria morar ali. Era uma vida boa?
Entretanto, boa ou ruim, alguém como ele jamais poderia se dar ao luxo de descobrir, ele supunha.

O vento que invadia a cabine pela janela era um pouco frio e trazia no ar o cheiro de chuva recente.

De fato, uma chuvinha fina estava caindo desde que o trem deixara a estação de King's Cross horas atrás e só agora havia finalmente parado.

Portanto, tudo na brisa tinha cheiro de chuva. Aquela mistura maravilhosa de terra e folha molhada que parecia capaz de limpar qualquer impureza.

O céu cinza-claro, daqueles que só aparecem depois de um temporal, também contribuía pra sensação de pureza e tranquilidade. E era por isso que o menino dos olhos verdes-caramelo não parava de olhar pra paisagem. Porque ele precisava desesperadamente se agarrar a algum fio de tranquilidade. Porque precisava esquecer, nem que por poucos minutos, que faltavam apenas dois dias para a lua cheia.

- Ele não vai te responder tão cedo, Padfoot. Não tá óbvio que ele já viajou de volta pro mundinho paralelo dele? - o menino dos olhos verdes acastanhados sempre tão gentis ouviu a voz suavemente rouca e sempre tão cheia de vida do menino dos cabelos negros como a meia-noite - se a meia-noite tivesse uma cor - e de olhos castanhos como biscoitos de gotas de chocolate que nem mesmo as lentes dos óculos que ele usava conseguiam disfarçar a luz determinada que ardia lá dentro. Aquele garoto dispensáva apresentações, óbvio. Mas, caso você queira ter certeza de quem estou falando, seu nome era James Potter. E seus olhos castanhos e cabelos pretos eram lindos.

Agora, voltando para o menino dos olhos verdes com algumas manchinhas castanhas, não pense que ele próprio também não era lindo, querida. Eu só não fiz questão de mencionar sua beleza doce e sensível antes porque, acredite se quiser: ele não se considerava bonito. Na verdade, ele se considerava muito feio. Loucura, não acha?!

Ele tinha um livro de aspecto já muito velho no colo, exatamente como praticamente todos os outros que ele trazia em sua mala. A capa dura com a ilustração de um caldeirão e o título em prata deixavam nítido que ele, talvez pela trigésima vez, relia Os Contos de Beedle, O Bardo, livro que todos os seus amigos que dividiam a cabine com ele já sabiam há muito tempo que era um de seus favoritos, já que era meio que um fato que ele era viciado em contos de fada, bruxos ou trouxas.

Logo na primeira página de papel velho e amarelado, era possível ler seu nome - tão bonito e encantador quanto ele próprio - escrito com pena de cisne - que foi arrancada com a permissão do próprio cisne para a venda, caso você queira saber, querida - e em tinta preta.

Dimensão [Wolfstar]Where stories live. Discover now