Dragão dourado

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Há tempos desde o sumiço dos dragões, e houve quem disse que a culpa foi da raça humana. Mas quem sabe, certo? Se nem mesmo Deus os ajudou, quem garante que eles sequer existiram? Eu costumava pensar assim.

Tudo no passado era tão místico, contudo a misticidade se perdeu em meio aos contos. Atualmente, a única coisa que sabemos sobre o passado é que ele é misterioso, e que não sabemos de nada.

Contudo, algumas histórias são de chamar atenção.

Reza a lenda, muitas eras atrás, que um rei reinou sobre os dragões. O rei teve um filhote de dragão dourado, e o ofereceu à humanidade como um acordo de amizade entre os dragões e humanos.

Desde então os dragões, especificamente os dourados, servem aos humanos. São eles os filhos do rei dos dragões, que devem cuidar e proteger os humanos. Ou ao menos, as coisas deveriam ser assim.

Ouvi boatos que na floresta do sussurro, há de descansar o último dragão. Um sobrevivente a espera de seu rei, caído num sono profundo ou em uma imensa solidão.

Eu fui à floresta checar. Gosto de mistérios, mas gosto mais ainda dos contos sobre dragões. Disse a minha mãe que iria pintar um quadro na floresta, pedi que ela não me seguisse, eu precisava me conectar à natureza. Para não levantar grandes suspeitas levei uma tela e algumas tintas.

Vaguei por toda a floresta do sussurro, e quando achei que havia encontrado algo, era só um mero coelho. Deixei meus materiais de pintura ali. Caminhei um pouco mais.

E então anoiteceu, e nenhum dragão apareceu. Me senti um tanto decepcionado, contudo, decidi que voltaria à minha casa.

Dou uma ultima olhada para a floresta, sinto que sua escuridão me encara e avalia a minha alma. Um arrepio sinistro percorreu minha espinha. Quando volto meu olhar para onde estava antes vejo de relance um pequeno vulto. Eu me assustei profundamente. Pensei que fosse um fantasma, afinal, é mais sensato ter medos de mortos a temer contos de fadas.

Era um dragão dourado. Relativamente pequeno. Então, eu não o temi tanto. Muito menos assustador que fantasmas.

Ele bufou e disse algo no linguajar já esquecido dos dragões. Tinha algo angelical em seu olhar, ele era definitivamente belo.

Decidi não importunar mais o pobre dragão. Já provei meu ponto, dragões existem e a sociedade é baseada em mentiras da maldita realeza.

Voltei para casa, todavia, deixei meu material de pintura lá. Era tarde de mais para carregar tintas e tela pela mata, então decidi buscá-los amanhã.

Dito e feito, o amanhã chegou e lá estava eu em frente da fera adormecida ao lado de meus materiais.

Meus olhos se arregalaram em espanto e uma tristeza imensurável tomou conta de meus pulmões, tudo estava tão pesado. O dragão dourado havia feito uma pintura. Eu nunca imaginei que existiam artistas entre os dragões, oh, na verdade, antes, eu nem mesmo acreditava realmente na existência de dragões. Sempre foi uma curiosidade, não uma crença. Um ponto a ser provado, provar que aqueles que têm o poder sempre esconderam a verdade de nós, os humildes do campo.

Aquele dragão dourado é realmente pequeno. Do tamanho de um cachorro. Mas sua pintura é de rasgar a alma de tão expressiva. É gritante.

Ele está perdido. Solitário. Vazio. Sem sentido.
Ele perdeu tudo. Ele não deveria estar aqui.
E acima de tudo ele sente falta de algo.

Pobre dragão. Vou deixá-lo dormir aqui.
Trarei mais telas e tintas para o pequeno e expressivo dragão pintor. Espero que ele não tente me atacar no decorrer dos dias.

Que o vento leve suas melancolia, solitário filhote.
E que a floresta te proteja das tempestades.

Contos da madrugada Kde žijí příběhy. Začni objevovat