two

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Filho da puta.
– Desculpe, sr. vegas  – eu disse, deixando escapar um pouco de veneno na voz. –
Eu entendo o sacrifício que foi para o senhor usar um fax e atender ao telefone.
Como já disse, não vai acontecer de novo.
– Exatamente, não vai mesmo – ele respondeu, com o sorriso pretensioso firme
no lugar. Se pelo menos ficasse de boca fechada, ele poderia ser perfeito. Um
pedaço de fita adesiva resolveria o problema. Eu tinha um rolo no meu armário
que às vezes eu pegava e acariciava, pensando que um dia eu poderia fazer bom
uso dele.
– E, só para que você não se esqueça desse incidente, eu gostaria de ver a
situação completa dos projetos da Schaffer, da Colton e da Beaumont na minha
mesa até as cinco. E então você vai compensar a hora perdida desta manhã
simulando uma apresentação da conta da Papadakis na sala de conferência às
seis. Afinal, se você vai cuidar dessa conta, terá de provar para mim que sabe o
que está fazendo.
Meus olhos se arregalaram enquanto eu assistia ele ir embora e bater a porta do
escritório. Ele sabia muito bem que eu estava apenas começando esse projeto,
que também seria minha tese no  BSG . Ainda teria meses para terminar os slides
depois que os contratos fossem assinados... o que ainda não havia acontecido.
Ainda não tinham nem sido rascunhados. Agora, com tudo o mais jogado no meu
colo, ele queria que eu arrumasse uma apresentação em... olhei para o relógio.
Ótimo, sete horas e meia, se eu pulasse o almoço. Então abri o arquivo da
Papadakis e comecei a trabalhar.
Enquanto as pessoas começavam a sair para o almoço, eu fiquei colada na
minha mesa com meu café e um pacote de salgadinho que peguei na máquina.
Normalmente, eu trazia comida de casa ou saía junto com os outros estagiários
para almoçar, mas naquele dia o tempo não era meu amigo. Ouvi a porta abrir e
olhei com um sorriso no rosto enquanto Porsche entrava. che e eu fazíamos
parte do mesmo programa de estágio para  BSG da Sumettikul  Group, mas ele
trabalhava no setor financeiro.
– Pronto para almoçar? – ele perguntou.
– Vou ter de pular o almoço. Hoje está sendo um dia infernal – eu disse, como
quem pede desculpas, e o sorriso dele mostrou um pouco de malícia.
– Dia infernal ou chefe infernal? – ele sentou na beira da minha mesa. – Ouvi dizer que ele estava de mal humor
Respondi com um olhar de cumplicidade. Porsche não trabalhava para ele, mas
sabia tudo sobre Vegas Sumettikul, afinal, com seu conhecido pavio curto, ele era
uma lenda viva no escritório.
– Mesmo se existissem dois de mim, não seria possível terminar tudo isso a tempo.
– Não quer mesmo que eu traga alguma coisa? – seus olhos se moveram em
direção à sala dele. – Tipo, um assassino de aluguel? Ou um pouco de água benta?
Tive de rir.
– Não, tudo bem.
che sorriu e saiu. Eu tinha acabado de terminar meu café quando me inclinei e percebi que minha meia tinha rasgado.
– E ainda por cima – comecei a falar quando ouvi Porsche voltando –, consegui rasgar a meia. Na verdade, se tiver chocolate no restaurante, você pode me
trazer uns vinte quilos para eu poder aliviar minha tensão?
Olhei para cima e vi que não era Porsche parada ali na minha frente. Meu rosto
ficou vermelho e abaixei a saia de volta no lugar.
– Desculpa, sr. Vegas, eu...
–  pete, já que você e as outras secretárias têm tanto tempo para discutir suas roupas sensuais problemáticas, além de preparar a apresentação da Papadakis,
preciso que você também vá até a sala do kinn e me traga a análise de
mercado e segmentação da Beaumont – ele ajeitou a gravata, olhando para seu
reflexo na minha janela. – Você
acha que consegue fazer isso?
Será que eu estava ouvindo direito? Ele tinha acabado de me chamar de
“secretário”? É verdade que parte do meu estágio era fazer um pouco do
trabalho básico de um auxiliar, mas ele sabia muito bem que eu tinha trabalhado
para essa empresa por vários anos antes de conseguir minha bolsa da JT
na Northwestern University. Agora, faltavam apenas quatro meses para eu
conseguir meu diploma em administração. Quatro meses para pegar meu
diploma e dar o fora daqui, pensei. Olhei para cima para encontrar seus olhos.
Pode deixar, vou pedir para a Sam trazer...
– Isso não foi uma sugestão – ele me interrompeu. – Quero que você vá pegar os
documentos – ele olhou para mim por um instante com o queixo apertado antes
de se virar e voltar para sua sala, batendo a porta atrás de si. Qual é a merda do
problema dele? Era realmente necessário bater a porta como uma adolescente
temperamental? Peguei meu casaco e comecei a andar até o escritório adjunto,
que ficava em outro prédio. Quando voltei, bati à porta dele, mas ninguém
respondeu. Tentei girar a maçaneta. Estava trancada. Ele estava provavelmente
dando uma rapidinha com alguma príncipe da diretoria enquanto eu corria por
Chicago que nem uma louco. Enfiei o envelope pardo na abertura do correio,
esperando que os papéis se espalhassem por toda a parte e ele tivesse de se
abaixar para arrumar tudo. Seria merecido. Até gostei dessa imagem dele de
quatro no chão, juntando os documentos. Por outro lado, conhecendo a pessoa,
ele provavelmente iria me chamar naquele buraco estéril para limpar a bagunça
enquanto ele assistia.
Quatro horas mais tarde, eu tinha terminado a atualização das contas, meus slides
estavam praticamente em ordem e eu estava quase rindo histericamente
pensando no quão terrível o dia tinha sido. Mas tive de passar um tempo
planejando o assassinato sangrento do garoto do xerox. Um trabalho simples, foi
tudo que pedi. Faça umas cópias, encaderne umas folhas. Era para ter sido uma
coisa fácil. Entrar e sair. Mas não. Levou duas horas. E agora eu estava atrasada!
Corri através dos corredores escuros do prédio, que já estava vazio, com o
material da apresentação quase caindo debaixo do braço, e olhei para o relógio.
Seis e vinte. O sr. Vegas ia me comer vivo. Eu estava vinte minutos atrasada e,
como aprendera naquela manhã, ele odiava atrasos. “Atraso” era uma palavra
que não existia no Dicionário para cretinos de BSG . Também não havia
“coração”, “bondade”, “compaixão”, “pausa para almoço” ou “obrigado”.
Então, lá estava eu, apressado pelos corredores vazios, correndo com meus saltos
gigantescos para encontrar o carrasco.
Respire, pete . Ele pode sentir o cheiro do medo.
Quando me aproximei da sala de conferências, tentei acalmar minha respiração
e diminuí o passo até voltar a andar. Um rastro de luz brilhava debaixo da porta.
Ele definitivamente estava lá, esperando. Com cuidado, tentei arrumar o cabelo e
as roupas enquanto alinhava o maço de documentos nos meus braços. Respirando
fundo, bati na porta.
– Entre.
Entrei no espaço bem iluminado. A sala de conferência era enorme. Ficava no

cretino irresistível ( Vegaspete adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora