𝚅𝚘𝚌𝚎̂ 𝚝𝚊́ 𝚊𝚒? - 𝙾 𝚅𝚎𝚛𝚊̃𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝙼𝚞𝚍𝚘𝚞 𝚃𝚞𝚍𝚘

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O verão daquele ano parecia determinado a transformar o mundo em um forno incandescente. Era cinco da tarde, e o calor havia transformado minha camiseta em uma segunda pele pegajosa. As gotas escorriam pela minha testa me fazendo sentir como se estivesse derretendo no banco traseiro do Uber sem ar condicionado, engarrafado em plena Av. Infante Dom Henrique. Buzinas ensurdecedoras, sirenes estridentes e vozes exasperadas compunham uma cacofonia infernal que apenas agravava minha agonia. O motorista mencionou um acidente à frente, um bloqueio que transformou a via em um cenário de desespero. A cada suspiro, podia sentir o ar quente invadindo meus pulmões.

O destino? O bairro nobre, onde Luhan, um cara da minha turma do terceiro ano, chamava de lar. A escolha daquele horário, combinado com o trânsito paralisado, fazia-me questionar se valia a pena ter saído de casa.

Finalmente, o carro parou, e eu pulei para fora, aliviado por escapar da sauna móvel. Encarei a casa diante de mim, um edifício imponente que parecia ter saído diretamente de um catálogo de móveis para ricos esnobes. Um pensamento atravessou minha mente: Fiz merda, e parei no lugar errado!

Olhei para o papel com o endereço. Rua Félix Pacheco. Leblon. Respirei fundo, tentando disfarçar minha insegurança. Se eu estava nervoso? Sim, e muito. Afinal, era a primeira vez que eu adentrava aquele universo de riqueza desmedida.

Meus dedos apertaram o interfone, e minha voz soou mais firme do que eu me sentia enquanto me identificava. O portão, automaticamente, rangeu enquanto se abria, revelando um pequeno vislumbre do que estava por vir. Automático? Automático, pensei comigo mesmo, e um sorriso irônico brincou nos meus lábios. Respirei fundo, lembrando-me de onde vinha, das dificuldades que minha família enfrentava. Aquele momento, embora parecesse pequeno para alguns, era luxo para mim. Eu vinha de um bairro pobre de são Gonçalo e atualmente estava vivendo de favor na casa dos meus tios na Cinelândia.

— Ugh. — A garota que abriu a porta fez uma careta ao me olhar. — Sofreu um acidente no caminho para cá? Está nojento!

Franzi a testa para aquela pequena garota esnobe de olhos cor de mel, antes de olhar minha própria roupa, sem entender o que havia de errado nela. Calças jeans rasgada no joelho, camiseta verde-militar um pouco folgada e suada.

— E aí, novato? — Gritou Tiago, também de nossa turma. Ele media 1,80 de puro músculo e nada de cérebro. Apenas de bermuda, ele acenou, pingando água no assoalho. — Achei que não viria mais.

— Engarrafamento! Algum idiota resolveu arranjar briga no trânsito e causou um acidente.

— A cidade está uma loucura essa semana. Entra, Luhan tá lá fora.

Se ele tá lá fora, por que eu preciso entrar? Confesso que buguei, mas preferi não contestar, seguindo a menina esnobe e Tiago. Cruzamos a sala de estar e logo um enorme cômodo vazio, apenas com algumas decorações inúteis, que gritavam: "Olha, tenho grana saindo pelos ouvidos!" Logo chegamos à área externa, um gramado enorme com piscina e uma mesa de sinuca. Parei próximo à primeira cadeira que achei e me sentei.

Luhan largou o taco de sinuca e se aproximou.

— Vinícius, certo?

— Sim, mas prefiro que me chame de Vini.

— Por que convidaste esse esquisito? Pensei que fossemos só nós!

— Ele é gente boa, Trix, relaxa!

— Ele está olhando para meus peitos!

— Quê?

— Se queres olhar, tudo bem. Só tenta disfarçar, não seja tão óbvio! — Ela mexeu no biquíni, cor de goiaba e fez uma expressão de desgosto. — Só para deixar claro, você não faz meu tipo!

𝚂𝚝𝚊𝚢 𝙰𝚕𝚒𝚟𝚎Where stories live. Discover now