Três

432 40 74
                                    

Tóquio, 05 de maio

          Havia uma coisa que Taehyung precisava admitir, não com grande esforço, no entanto. Era fácil assumir aquilo naquela altura, embora sua cabeça se enchesse de tantos sentimentos incongruentes.

Ele não havia mudado de ideia no dia seguinte, como pensou a princípio, tomado da certeza de que só pareceu uma boa ideia ter um novo amigo naquela noite isolada – ou talvez nem tão isolada assim – em que precisou de ajuda e foi resgatado de seu céu tempestuoso.

Foi algo inusitado, tão surpreendente e bagunçado. Porque não era como se tivesse uma localização onde pudesse ser encontrado, perdido naquela vastidão melancólica e desestrelada que compunha sua mente. Mas mesmo assim aquele garoto o encontrou, e a melhor parte era que ele buscava um outro alguém, provavelmente mais concreto e menos metafórico.

Se encontraram numa coincidência baseada em sua leitura equivocada, em sua confusão, em seu caos, e que levou os dois um para o outro por aquele caminho sem linhas ou esboços. Novo. Não planejado. Nem mesmo cogitado.

Taehyung não era aquele que procurava, mas mesmo assim ele chegou lá, em uma nuvem limpa e curiosa, o puxando por alguns instantes, e pareceu tão certo, ideal, mágico e seguro.

Mas também feito apenas para aquela noite.

Foi bom, pensou antes de dormir. Também seria muito bom sentir isso de novo, refletiu ao fechar os olhos. Eu só não sei se estou pronto, inundou-se ao acordar antes do alarme mais uma noite, dentro de outro pesadelo.

E realmente não sabia se estava pronto. Parecia difícil... Não sabia se conhecer uma nova pessoa era uma boa ideia, não sabia se queria ou se teria disposição. Conseguiria conversar? Deixaria que ele entrasse em sua vida? Que se aproximasse? Será que seria capaz disso? De ter um novo amigo?

Não era precoce que tivesse todas aquelas preocupações, por que e quando ele se fosse? E quando tudo acabasse? Não conseguia não pensar no fim de todas as coisas, na inevitável e cruel perda que vinha junto de qualquer coisa ganha. Não depois de tudo.

É, não estava pronto. Não era para ele se envolver naquilo. Taehyung teve certeza que não era uma boa ideia. Era, ao contrário, uma péssima ideia. Onde estava com a cabeça quando sugeriu que eles deveriam se conhecer?

Não tinha como pensar de outra forma. A noite anterior foi apenas uma exceção. Um alívio momentâneo e muito bem-vindo, e... E que adoraria sentir de novo.

Droga.

Na verdade, pensando bem, ele não tinha tanta certeza assim. Era mesmo uma péssima ideia? E se era, por que não parava de pensar naquilo? E por que seu coração bateu tão afoito quando recebeu uma nova notificação dele?

Taehyung não teve nem tempo de hesitar ou de se lembrar de tudo o que pensou e da certeza a que chegou quando acordou de madrugada e percebeu que não deveria se enfiar naquela coisa tão ousada que era ter um novo amigo em sua atual condição. Não podia se colocar naquela posição, de perder mais alguém e ele sabia que o perderia uma hora. Era inevitável. Se apegaria nele, em seu efeito sedativo, como quem se vicia em opioides, e chegaria o dia em que ficaria sem ele e teria que sobreviver apenas por si mesmo de novo. Porque tinha aquele momento, um dia tempestuoso na primavera, em que tudo acabava.

É melhor evitar, pensou na madrugada, e se balançou em cordas de incerteza durante o dia inteiro.

Até que...

Você tem 1 nova notificação.

O estômago revirou, ansioso, e uma sensação confortável embrenhou-se em seu peito, bem-vinda e desejada. E ele deixou tudo de lado. Todas as incertezas e dúvidas tão bem descritas e identificadas, o medo do inevitável, a convicção de que não deveria, que era melhor não se enfiar naquilo, que não era uma boa ideia. Tudo sumiu, como se no fim não tivesse valor algum.

Efeito Borboleta | taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora