Seis

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Tóquio, 16 de abril

          Taehyung sabia que aquele nunca seria um dia bom, mas já não podia dizer que sua vida era uma série interminável de dias ruins e repetitivos. E parecia que, apesar de suas controvérsias e descrenças, havia um certo momento depois de se viver em prolongada melancolia que algo inusitado surgia e fazia com que as coisas se tornassem boas outra vez.

Exatamente como há um ano atrás, ele estava sentado sobre a pedra de frente para o Rio Tama, olhando para as águas e sendo preenchido pela saudade.

Pensava sobre muitas coisas sentado ali, sentindo-se tão diferente do ano anterior. Ainda parecia que uma eternidade havia se passado desde que Haru se foi, mas era possível que entre todos os marcos após uma perda, o marco do primeiro ano concentrasse a dor mais latente e aguda. Taehyung ainda sentia que suas feridas sangravam no ano passado. No segundo ano, no entanto, doía e apertava o peito, mas não dilacerava tanto.

Não sufocava como sufocou doze meses atrás, tampouco consumia-o cegamente como antes consumiu. Era uma dor presente, mas suportável o bastante para que, naquele ano, ele conseguisse encarar o céu para falar com sua voz embargada.

— Sinto sua falta, irmão. — Soprou para o vento que chicoteava seus cabelos compridos e bagunçava-os. — E não canso de me desculpar por ter causado tudo isso... Eu sinto muito.

Desde sempre era isso que sentia. Saudade e culpa. E pensava que aquilo nunca mudaria.

Sentia as lágrimas que escorriam por suas bochechas, alcalinas, quentes e abundantes. Encarava aquele céu com seus astros iluminados e via seu irmão ali, como sempre. Adorava a maneira que as estrelas pareciam piscar de volta, como se Haru realmente estivesse em algum lugar daquele cosmo ouvindo suas palavras.

— Espero que esteja, sei lá, um pouco feliz por mim — continuou a falar sozinho, sentindo a brisa noturna lhe fazendo companhia. Apesar do que sentia em seu peito, ao seu redor tudo parecia sereno e tranquilo, como se estivesse sendo acalentado pela natureza. — Estou bem... Melhor do que no ano passado. E como te escrevi, vou arrumar um emprego para cuidar da nossa Mama. É justo que eu tente consertar tudo isso.

Talvez ainda fosse metafórico, mas pensava que não era mais um sobrevivente em piloto automático sem coordenadas. Tinha um objetivo agora, algo para planejar e uma meta a alcançar. Queria ver sua mãe bem e também, ainda podia ser um pouco incerto e um desejo quase abstrato, mas tinha vontade de ir até Jeon Jeongguk. Um desejo bem distante, tanto quanto ele.

E jamais pensaria no ano passado que um ano depois seria capaz de planejar algo novo para sua vida.

Apesar disso, estar bem era quase relativo para ele, considerando que seus melhores momentos dos últimos meses vinham sendo junto com Jeongguk em seu imaginário. Por isso Taehyung sentia que sua nova base segura havia sido construída sobre uma areia movediça, bem distante de uma terra verdadeiramente firme.

Não tinha muitas dúvidas de que, caso Jeongguk saísse de sua vida de repente, tudo ruiria outra vez. E por mais que soubesse disso, não se sentia estúpido por ver no amigo a motivação para estar bem. Só se sentia grato.

Ao menos tinha alguma coisa para se segurar. Um alguém. E que era o bastante naquele momento de sua vida em que completava dois anos de sua perda, e logo completaria um ano desde seu novo ganho.

— Eu acho que isso nunca vai passar, Haru — sussurrou ainda, fechando os olhos e se permitindo ser preenchido pela memória da figura de seu irmão. — Mas mesmo assim eu vou continuar tentando ficar vivo, até que o "um dia" chegue.

Efeito Borboleta | taekookWhere stories live. Discover now