"Olha eu não sei como começar isso e só estou escrevendo porque Annabeth falou que seria bom para "esfriar a cabeça" depois de uma tentativa de assassinato contra um campista bem específico do chalé 11, mas eu vou tentar.
Meu nome é Megara Jackson...
"Nossa Megara que legal! Você saiu correndo, chegou até o pinheiro sem problemas, e desceu a colina não é?"
Não.
Eu achava que não tinha como piorar, mas para a minha surpresa, piorou.
Quando eu estava chegando até o pinheiro, comecei a sentir meus pés formigando. E quando eu olhei para baixo, vi que eram pequenas viúvas negras. Sim, no plural, e por sinal tinham muitas, muitas mesmo delas.
Eu só tinha a minha mochila, e não ia perder ela para um bando de aranhas idiotas, então continuei correndo, faltava tão pouco.
Quando finalmente cheguei, senti uma dor terrível no meu tornozelo.
Picada de aranha? Talvez.
A dor era tão forte, que eu acabei caindo nas raíses do pinheiro. A minha visão ficou turva, meu corpo começou a pesar e meus ouvidos faziam um barulho agudo como se meus tímpanos tivessem estourado, e então, eu apaguei.
°°°
Senti um gosto de chocolate quente na boca. O chocolate quente azul que minha mãe fazia para mim toda vez que eu me sentia mal ou triste, e aquilo curava tudo, mas dessa vez curou literalmente. Não sei explicar, mas foi estranho.
Meu tornozelo já não doía mais.
Quando abri os olhos, vi um menino alto, de cabelos loiros com leves ondas e olhos azuis, sentado no pé da espreguiçadeira em que eu estava deitada. Ele estava prestes a levar mais uma colherada de algo que parecia ser gelatina até minha boca, mas quando viu que eu estava acordada, deu um sorriso brilhante e simpático.
－ Bom dia, que bom que acordou. Como está se sentindo? － disse o garoto.
－ Estou bem, eu acho. Quem é você? O que aconteceu comigo? Onde eu estou? － disse eu.
－ Calma lá, uma pergunta de cada vez － respondeu risonho － Meu nome é Will Solace. Como se chama?
－ Megara Jackson, mas eu prefiro Meggie.
－ Muito bem. Seja bem-vinda ao Acampamento Meio-Sangue, Meggie.
Agradeci.
－ Sobre o que aconteceu com você － ele continuou － achamos você desmaiada no pinheiro de Thalia, e quando fomos te examinar, vimos uma picada de aranha no seu tornozelo. Mais específicamente: viúva negra. O que me intriga, já que elas são extremamente venenosas.
－ Extremamente venenosas? － perguntei, aflita.
－ Não se preocupe, o seu corpo tomou conta do recado muito bem, quase não reagiu de maneira negativa. É justamente isso que me intriga...
Não era um sonho. Droga.
Eu apenas assenti com a cabeça e não falei mais nada.
－ Tá legal, é hora de esclarecer algumas coisas pra você － disse Will. － Vamos, Quíron está te esperando.
－ Espera aí, Quíron?
－ Você vai entender.
Enquanto íamos até esse tal de Quíron, aproveitei para reparar no lugar. Era enorme, soprava uma brisa suave e tinha várias colinas verdes, rios, bosques e uma imensidão de plantações de morangos.
Também tinha várias cabanas, arsenais de armas, campistas correndo pra lá e pra cá ou treinando, todos usando uma camiseta laranja escrito Acampamento Meio-Sangue. Enfim vocês já sabem, era lindo.
Quando chegamos na Casa Grande, lá estava ele, meu professor: sr. Brunner. Eu fiquei muito confusa no começo, mas ele começou a me explicar tudo, e eu fiquei mais confusa ainda. Como assim ele era o Quíron das histórias, como assim os deuses gregos que ele nos ensinara na escola realmente existem, e mais, eu sou filha de um desses deuses. Era muita coisa pra absorver, principalmente quando se tem dez anos de idade.
Assim que Quíron acaba sua explicação, quase como se fosse combinado, sai um homem de dentro da casa, baixinho e gorducho de cabelos muito pretos, com o nariz vermelho e uma camisa havaiana muito brega com estampa de tigre, um típico tio que está sempre... passado... nas festas de família. Sei reconhecer quando alguém está bêbado por causa de Gabe Cheiroso, mas graças aos deuses eu não falei isso em voz alta.
Depois eu fui descobrir que aquele velho, ou melhor, o diretor do acampamento, era Dionísio. Pois é, o deus do vinho. O que não era muito difícil de se notar, na verdade.
－ Não se preocupe, Meggie. Com o tempo, você vai se acostumar aqui － disse Quíron com um sorriso reconfortante no rosto. － Agora, Annabeth vai acompanhá-la. Ela vai te mostrar melhor o acampamento.
Quando ele diz isso, uma menina sai de dentro da casa grande. Ela tinha mais ou menos a minha altura e era só dois anos mais nova que eu. Tinha cabelos loiros encaracolados presos em um rabo de cavalo alto e pele um pouco bronzeada. Mas a característica que mais chamava a atenção eram seus olhos, cinzentos como o céu quando uma tempestade está por vir. Flha de Atena.
－ Venha Meggie. － disse Annabeth, enquanto saía andando.
－ Meggie, acho que o sr. D. tem algo a lhe dizer antes. － Quíron pigarreou e olhou para Dionísio. － Sr. D?
－ Ah, sim. Seja bem-vinda, eh... Mary Benson － disse o sr. D., distraído tentando transformar sua Coca Diet em vinho.
－ Meggie Jackson － corrigi.
－ Que seja.
－ Megara! － disse Annabeth. － Vamos logo!
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