32 - O encontro

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PAOLO CACCINI

Através da minúscula janela do jatinho, observo a cidade de Milão se afastando cada vez mais. Na minha ausência, meu pai e a diretoria, certamente, colocarão Leandro no comando da empresa. Eu quero que eles se danem. Não me importo com a porra da empresa depois de ter descoberto que o meu pai é uma fraude.

— Essa música é muito boa — Edy comenta com Amália, que está sentada ao seu lado.

Eles estão dividindo o fone de ouvidos e escutando alguma coisa no celular dela. Eu massageio os olhos para tentar me distrair da conversa deles. Pergunto-me como e quando eles ficaram tão próximos, porque não parecia que eram assim ainda ontem.

Me ajuda a não ficar pensando nos meus problemas. — Ouço a voz de Amália murmurando, quase que em um sussurro, para Edy.

— Edy, jogue xadrez comigo — convido-o. Se não iremos ficar em silêncio, prefiro me distrair de uma forma diferente a ficar ouvindo-os.

— Eu não trouxe o tabuleiro, senhor. Saímos às pressas. — Ele parece um pouco constrangido, afastando o fone do ouvido para me dar atenção.

Balanço a cabeça positivamente, escondendo a decepção. Esta viagem será longa e tediosa.

Umas quatro horas se passaram, aproximadamente, e o meu tédio só aumentou. Edy e Amália não se cansam de tagarelar e rir. Pego o meu celular e releio a mensagem falsa que o meu pai me enviou minutos antes de eu embarcar.

"Precisamos conversar, Paolo. Eu estou disposto a perdoar a sua agressão física contra mim se me perdoar por ter escondido o seu filho de você. Somos pai e filho, não podemos ficar assim. Vamos resolver tudo. E se essa é a sua vontade, incluiremos Henry em nossa família e seguiremos em frente. Sua mãe sente a sua falta. Já faz dias que você não dá notícias. Eu lhe dei tempo para pensar com clareza, mas acredito que já está na hora de resolvermos isso."

Releio diversas vezes. Quanto mais eu ler, mais raiva terei dele. Ele pode não ser um assassino, mas fez algo cruel ao trazer ao mundo um filho meu com a fria intenção de usá-lo como o seu estepe, uma segunda opção. E foi mais cruel ainda quando excluiu os laços com o meu filho e escondeu de mim a existência dele. Não sei se serei capaz de perdoá-lo por isso.

Atiro o meu celular no chão, com raiva, e vejo, com a minha visão periférica, Amália e Edy assustados.

— Senhor, com licença, deixou cair isso. — Uma das aeromoças me traz de volta o aparelho.

Finjo não ouvir. Não porque ela tem culpa de algo, mas porque eu não quero o meu celular neste momento. Toda a raiva que sinto do meu pai está direcionada a esse aparelho.

Edy estende a mão e a aeromoça o entrega para ele.

— Precisam de alguma coisa? — Ela dá um sorriso formal.

— Uma água, por favor — pede Edy.

— Estou bem, obrigada — Amália responde.

— Eu quero a bebida mais forte que possuímos a bordo — peço, erguendo levemente a mão na altura dos ombros.

A aeromoça dá mais um sorriso formal e se afasta.

Não percebi quando Amália se sentou ao meu lado, por isso não consegui conter a minha expressão ao vê-la.

— Tem certeza de que é uma boa ideia ingerir álcool horas antes de conhecer o seu filho? — Lança-me um olhar desafiador.

Respiro fundo, considerando sua pergunta cuidadosamente. Temos aproximadamente quatro horas de voo pela frente. Sei que precisarei estar totalmente alerta quando, finalmente, encontrar meu filho. Uma experiência que me traz tanto ansiedade quanto apreensão.

Um Filho Para O CEO Adormecido Where stories live. Discover now