38 - Partes de mim que perdi

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AMÁLIA DAVIS

Ergo o lençol para cobrir a minha cabeça e me encolho, agarrada aos meus joelhos. É tarde da noite e eu não posso contar com o meu filho para o abraçar durante minha insônia, pois hoje ele quis dormir com o avô. Os sons estrondosos que os trovões fazem parecem bem mais alto aqui na ilha, e a claridade dos relâmpagos, que iluminam a janela, parece mais acesa.

No início da noite, eu já percebi que não teria um sono tranquilo. Talvez pela conversa que tive com Paolo hoje mais cedo. Naquele momento, não dei muita importância a isso, pois estava mais preocupada em não sair por baixo do que em ouvi-lo, mas agora, pensando no que ele disse, eu consigo entendê-lo.

"Todos sempre queriam alguma coisa de mim. Para mim, você era apenas mais uma oportunista, Amália. Eu nunca iria imaginar que você não queria tudo que o meu dinheiro poderia lhe proporcionar."

Isso não o libera de seus erros, entretanto, motiva-me a ter pena dele e a entendê-lo. Mil maneiras de como ele pode ter sido decepcionado passam pela minha cabeça. Para Paolo pensar assim, não deve ter ninguém que realmente se importe com ele por quem ele é. Ou ele acredita nisso.

Por que me importo tanto?

Com certeza, conhecê-lo em seu momento mais frágil, naquela cama, plantou algo em mim que foi crescendo em silêncio. Não sei o que é, mas espero que passe. Não quero ter essa preocupação com ele. Posso ser egoísta, mas não quero.

Decidida a não ser vítima de medos e pensamentos desnecessários, levanto-me, a fim de me distrair com um livro da biblioteca. Faz muito tempo desde que segurei um bom livro em minhas mãos, mas antes tarde do que nunca. Mais cedo passeei pela biblioteca, só que não era o momento de ler.

A casa está silenciosa. O único som que pode ser ouvido é o da tempestade. As luzes apagadas entregam que todos dormem tranquilamente, inclusive o Henry. Se ele estivesse acordado, com certeza, todos saberíamos.

Ando sorrateiramente pelo corredor solitário da casa, rumo ao meu destino. Ao chegar à porta da biblioteca, hesito por um momento, antes de girar a maçaneta, mas giro. Ao entrar no ambiente e acender a luz, sinto-me em outro lugar. A tempestade ainda dá o seu show por trás das janelas, só que aqui não me sinto sozinha, com tantos personagens nas prateleiras.

Com um sorriso no rosto, caminho, dançante, até o final do primeiro corredor, que é onde sei que estão os romances. Mais cedo, enquanto eu explorava a casa, conheci muito bem a biblioteca. Apesar de ser mãe, ter 23 anos e ainda não ter tido um namorado, sonho em viver um amor verdadeiro como os das histórias de amor, como o que os meus pais tiveram e como é raramente visto hoje em dia.

Passo os dedos pelos títulos, decidida a escolher um deles sem olhar a capa. Opto por um romance de época. Eu os adoro.

— "Um amor para Lady Antonella"? — pergunto em voz alta. — Ou, talvez, "Como conquistar um duque"?

Um forte trovão pode ser ouvido, fazendo eu me assustar. No mesmo instante, a luz se apaga. Hoje não é a minha noite de sorte. Tão rápido quanto eu me viro para a claridade da janela, eu me assusto com a sombra de alguém em pé diante do vidro molhado.

— Quem está aí? — minha voz sai falhada.

— Então, é assim que você aprende a como ser sedutora?

Meu coração dispara ainda mais quando reconheço a voz de Paolo.

— Paolo? O que diabos você está fazendo aqui? — avanço em sua direção, tentando soar mais corajosa do que realmente me sinto.

Um Filho Para O CEO Adormecido Where stories live. Discover now