PRÓLOGO

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"Sim, minha força está na solidão

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"Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite."

Clarice Lispector

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Seus olhos estavam presos no líquido negro em sua xícara.

A fumaça cessava aos poucos, porém, ainda dançava minimamente por cima do líquido- extingue-se aos poucos, assim como a sua animação. Sabia que, muito em breve, o seu café estaria tão morno quanto a sua monótona e vagarosa vida.

Os seus longos dedos batiam contra a madeira da mesa- estava inquieta. Amaldiçoou-se por ter recusado a manicure oferecida pela avó na semana passada e amaldiçoou-se novamente por ter sido levada por sua preguiça e não pintado a unha na noite passada- em sua defesa, estava cansada demais após revisar toda a postagem da semana da revista on-line que a empregava no último ano. Um suspiro alto escapou dos lábios de Agatha ao pensar na revista... parecia um emprego promissor durante a entrevista, ainda que com um salário modesto, mas o grande benefício era ficar isolada dentro de seu quarto e sem precisar lidar com colegas de trabalho ao seu redor.

Novamente, em sua defesa, Agatha odiava salas cheias e restringiu ao máximo seu contato com outras pessoas desde a adolescência. Então, não era de se estranhar que tivesse escolhido uma cafeteria tão afastada do centro e com pouco movimento para o encontro com a sua irmã mais velha... o destino riu ruidosamente de sua face naquele dia: a pacata cafeteria havia tornado-se um point de hippies e adolescentes fervorosos desde a sua última visita, fazendo Agatha repensar toda a sua vida na última meia-hora.

A irmã estava atrasada, obrigando-a fugir de qualquer contato social enquanto buscava refúgio na tela de seu celular e em um fórum de discussões que participava desde os dezesseis anos. O assunto principal? O seu amado Universo de Gelo e Fogo, cuja a sua obsessão crescia à mais de uma década.

O pai havia lhe dado Guerra dos Tronos de presente após a separação conturbada- ele era professor de literatura inglesa em Londres, renomado por suas pesquisas e publicações, tendo passando o amor pelas páginas para a filha caçula. Albert Van Doren foi um pai ausente ainda durante o casamento com a mãe de suas filhas, porém, se atreveu a tentar alguma ligação que fizesse com que a ex-esposa o odiasse ainda mais- ele era mais de dez anos mais velho que Maude Winston, a mãe de Agatha e Frances, mas gostava de seu senso de aventura e alpinismo social, no entanto, isso foi exatamente o que matou o casamento dos dois. Claro, além das inúmeras traições com alunos e colegas de Albert... Maude o suportou por anos, já que o sobrenome "Van Doren" era mais importante para ela do que seu orgulho- Maude veio de uma família rica, porém, sem qualquer grande prestígio na alta sociedade britânica.

Sua mãe era historiadora e apaixonada por arqueologia, viajou por todos os continentes e participou de muitas pesquisas. Após o conturbado divórcio, levou as duas filhas para uma longa viagem na América Latina, principalmente entre o México, Colômbia e Uruguai- Frances era fluente em espanhol aos quinze anos, tendo sido sempre uma filha prodígio, enquanto Agatha lutava para entender verdadeiramente algo na escola. Nunca ficavam muito tempo na mesma região... era completamente diferente de Londres, onde elas dividiam seus tempos em uma escola integral e inúmeras atividades extracurriculares.

LINHA TÊNUE || DAEMON TARGARYENWhere stories live. Discover now