Capítulo 5

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Dá-me beijos, dá-me tantos
que, enleado nos teus encantos,
preso nos abraços teus,
eu não sinta a própria vida,
nem minha alma, ave perdida
no azul-amor dos teus céus.

- Fernando Pessoa

- 📚 -

Encarei o livro de capa vermelha em minhas mãos, pela décima vez naquele dia. Ainda não o abri. Tenho medo do que vou encontrar assim que eu folhear as páginas amareladas, e ler o que Harry escreveu.

Como eu já disse, Harry é um ótimo escritor. Ele sempre se dedica ao máximo, e insere os sentimentos dele em cada personagem que ele cria. Sabendo disso, tenho medo do que vou ler, porque ele insistiu tanto para que eu o fizesse, que suspeito que tenha algum significado.

Ele sempre se comunicou comigo sobre seus sentimentos assim: escrevendo.

Era um sábado, e eu estava em casa. Não tinha álcool pra que eu me afundasse, mas tudo que eu queria era me sentir entorpecido pela bebida. Sentir a sensação de liberdade, a sensação de estar leve. Esquecer de todas essas coisas que rondam minha mente, de todos meus arrependimentos, e acima de tudo, esquecer que o amo.

Só assim eu não sinto como se estivesse sendo apunhalado a cada respiração.

Minhas mãos tremiam, e suavam como nunca. Um dos efeitos da abstinência do álcool. Assim como a alteração de humor, e dor de cabeça.

Abri o livro, encarando as informações básicas na primeira página, e a virei, encontrando uma dedicação.

Dedicado ao meu mar,
meu céu,
meu bebê,
e meu único e verdadeiro amor.

- H

Mordi o lábio inferior, contendo um sorriso afetuoso que insistia em se formar, e senti meus olhos encherem de lágrimas. Ele dedicou pra mim.

Fechei novamente o livro, me sentindo sufocado.

Eu senti falta de ser chamado assim, durante os anos que ele esteve fora. Senti falta dele me chamando de bebê, e dizendo que meus olhos pareciam o céu. Senti falta dele cuidando de mim quando eu estava doente, e me acordando cedo aos domingos para que fossemos à praia ver o mar. O mar que não era tão bonito quantos meus olhos, segundo ele.

E agora, ele tinha voltado. Mas eu não teria isso de volta, e a sensação era tão ruim quanto a de quando ele foi embora.

Harry não era mais meu marido.

Limpei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto, e me levantei, sentindo a dor da saudade entupir todos os meus poros. Eu queria vê-lo. Queria que ele me chamasse pelo apelido que me deu, e que me tocasse.

Peguei meu celular em cima da mesa de centro, e digitei uma mensagem para Liam, exigindo que ele me mandasse o endereço de Harry.

Parecia burrice, e talvez realmente fosse, mas eu queria tanto vê-lo.

Logo meu amigo respondeu, me repreendendo, mais ainda assim me passando o maldito endereço, que era a duas quadras da minha casa.

Caminhei até lá rapidamente, parando em frente a pequena casa de paredes azuis e tocando a campainha.

Esperei algum tempo, e quando estava pronto pra me virar e ir embora, ele abriu a porta, me olhando com as sobrancelhas arqueadas em uma expressão surpresa. Ele vestia uma camiseta preta e uma calça moletom, e estava descalço. Seus cabelos molhados denunciavam que ele tinha acabado de tomar banho.

Retorna-me | Larry StylinsonWhere stories live. Discover now