Capítulo 10

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Tem horas que é caco de vidro
Meses que é feito um grito
Tem horas que eu nem duvido
Tem dias que eu acredito.

— Paulo Leminski

— 🍹 —

Suspirei, passando as mãos pela minha camisa recém passada. Meu estômago embrulhou em nervosismo, e a ponta dos meus dedos foi automaticamente até a minha boca.

Abri a janela do carro, ansioso em ser agraciado pelo vento. Zayn murmurou algo, que eu não ouvi. Não contei para ele da minha última recaída, mas lhe contei que iria para o AA, e ele insistiu em me levar. Aquilo havia o deixado feliz.

— Acho que é aqui. - Ele estacionou em frente uma casa pequena e azul, com um pequeno jardim na frente.

Discreta. Se eu passasse por ali jamais imaginaria que era onde acontecia reuniões dos Alcoólicos anônimos.

— Tem certeza que não quer que eu entre com você? - Ele perguntou, pela terceira vez, e neguei, enxugando o suor das minhas mãos na calça jeans.

— Não, mas qualquer coisa eu te ligo. Você vai me esperar aqui?

— Sim, eu vou. Boa sorte, Lou.

Desci do carro, me dirigindo ao portão de ferro que me aguardava aberto. Entrei naquele lugar sentindo um frio na barriga.

Me inscrever nos Alcoólicos Anônimos era o primeiro passo de uma longa caminhada, e o fato de eu ter iniciado essa caminhada significava que eu estava aceitando finalmente estar doente e precisar de ajuda.

Finalmente entrei na pequena sala, me deparando com um círculo formado por cadeiras, onde haviam aproximadamente dez pessoas. Levantei a mão, saudando a todos e me sentei na primeira cadeira ao meu alcance, evitando olhar por muito tempo pra qualquer pessoa que ali estivesse.

Achei que estaria rodeado de velhos com o estereótipo de alcoólatras, mas me surpreendi ao enxergar pessoas jovens, as quais a aparência nunca denunciaria um vício.

O álcool não faz nenhum preconceito, ele destrói a todos que lhe derem uma oportunidade.

Avistei de longe o líder daquele grupo, Timmy, que caminhou até o centro da roda e se sentou ali, com pernas de índio no chão. Ele acenou pra mim, um sorriso encorajador em seu rosto.

— Hoje temos muitas cadeiras vazias, mas temos também um novo integrante. Louis, se for de sua vontade, se apresente aos nossos colegas.

Mordi o lábio inferior ao sentir todos os olhares em mim, e mantive meus olhos baixos. — Eu, hum, me chamo Louis e tenho 30 anos.

Levantei o olhar, e notei todos me olhando como se estivessem esperando que eu falasse alguma coisa. Franzi o cenho, e o líder balançou a cabeça, compreendendo que eu não tinha mais o que falar.

— Vocês estão aqui, porque decidiram dar mais uma chance a vida. - Ele começou a falar, se levantando e sentando em uma das cadeiras vazias. — Todos os dias, no momento em que vocês acordam e não dão o primeiro gole, vocês fazem isso, se dão uma chance de viver. E é por isso que esse é o nosso lema...

— Um dia de cada vez. - Todos murmuram, em um coro, e senti minha bochecha queimar por não saber o que fazer.

— Quem quer dar seu depoimento? Temos um novo colega, e precisamos mostrar pra ele que não está sozinho.

Retorna-me | Larry StylinsonWhere stories live. Discover now