Capítulo 28

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O fim da tarde se aproxima, estamos estacionados perto de Paraena, e vamos ficar aqui por alguns dias. Eu caminho em direção aos ringues para observar os treinos.
Fico encostada em uma árvore até que vejo Kay, debruçado sobre os elásticos de um ringue, inspecionando o treino de cem novos soldados que chegaram ontem no acampamento.
Ele explica coisas sem tocar nos homens, as duplas que lutam com espadas. Observo ele passar dicas, corrigir posturas. Tão concentrado passando as lições.
Adam também está lá com ele.
Faz dupla com o Pilar e demonstra os golpes.

Umas duas horas se passam e ele se afasta, pega um cântaro ergue a cabeça e começa a beber. A garganta subindo e descendo e meus olhos não conseguem prestar atenção em outra coisa.
Ele abaixa a cabeça, e me vê.
Começa a vir em minha direção, eu me desencosto da árvore e vou em direção aos bancos.
Me sento, e ele se senta ao meu lado, um metro e meio.
Ele parece um pouco preocupado.
Viro meu rosto para ele.

— Você está bem?
Ele me olha de esguelha.
Respira fundo.
— Meu avô vai me matar em breve.
Me assusto com a afirmação grosseira e ele busca consertar.
— É alegórico, eu acho. Mas de toda forma estou ferrado.
— Por que?
— Só tenho mais uma roupa.
Ele se mexe desconfortável com meu olhar, e desvio os olhos.
— Aquele dia que as suas roupas foram destruídas. O que aconteceu com você? — Perguntei curiosa.
— Eu fui atacado por Magotes. Eles são, insuportáveis.
Diante da minha expressão confusa ele perguntou:
— Você não sabe o que é?
Balancei a cabeça.
— Ah, eles são macacos da neve. Teve uma infestação bem perto daqui eles adoram atacar as vilas nessa época do ano. Já que o lado mais frio está sem comida. Mas são violentos e loucos, pequenos, mas atacam em bandos.
— Você apanhou para um bando de macacos?
— Eu não apanhei para um bando de macacos. Eu...
Ele se deu conta de seu estado aquele dia.
— Tá, eu apanhei. Mas os machos são enormes e se conseguiram rasgar essa roupa, são fortes e as fêmeas elas tinham bebezinhos.
Ele olhou para mim revoltado.
— Eu não podia simplesmente queima-los. Então eu tentei...
— Afasta-los na força do braço. — Completei rindo.
— Isso. Enquanto eu estava só batendo nos machos, tudo estava na maior paz. Até eu pegar no primeiro filhote.
— Você não fez isso. — Afirmei.
— Eu fiz.
— Nãaaao. — Respondi com incredulidade.
— Siiiim. Eu fiz, eu juro, só me dei conta quando segurava o pequenino pendurado na mão, ele começou a gritar. E aí deu ruim. Uma enxurrada de femeas revoltosas veio para cima de mim. O filhote nem era das outras.
Cai na gargalhada.
E ele encarava minha boca com olhos admirados.

— Elas eram piores que os machos, me rasgaram todo. Aquele pequeno sacana. Eu nem estava apertando ele. Elas me atacaram como se eu fosse algum tipo de pervertido degenerado. Em dois minutos, eu estava no meio de um bolo de femeas iradas.
— E como você se livrou delas? — Perguntei ansiosa para saber o fim.
— Eu produzi um pequeno mormaço para afasta-las, elas saíram correndo levemente chamuscadas fugindo da aldeia. Aquele pequeno bastardinho, pongou nas costas da mãe e me deu língua. Ele arquitetou aquilo tudo. É o cabeça. Todos saíram levando cestas e vasos de frutas.
Ninguém acredita em mim.
Minha barriga doía de tanto rir.

— Meus deuses você foi tapeado por um filhote.
— Fui completamente.
— Mas o que seu avô tem a ver com tudo isso?
Sua expressão foi de alivio a preocupação muito rápido e me arrependi da pergunta.
— Por mais ridículo que isso pareça, eu tenho dezenove anos e ele tem a minha guarda.
Kay era extremamente novo comparado aos feéricos desse lugar.
— E mesmo que eu chegue a idade que um Pilar tem domínio sobre si. Eu ainda sou o Pilar do Fogo de todo jeito, eu sempre vou pertencer a Corte de Fogo e suas vontades. É uma liberdade forjada.
Ele solta o ar de forma pesada.

— Eu não sou exatamente o que eles esperam de mim, entende? Eu do mais trabalho que tudo. A Corte sofre com os ominuns, com a pobreza e eu tenho uma unidade com várias outras pessoas que poderiam estar em outros lugares do território.
— Você não pode reduzir o tamanho dessa unidade?
Sua expressão foi de tristeza, para uma raiva contida e o calor aos poucos voltou.
— Se as outras Cortes não ficassem tentando me sequestrar de tempos em tempos, e se eu soubesse como controlar o meu poder, eles poderiam diminuir a força dessa unidade.
Eu achei que não tinha entendido direito, então perguntei.
— Como assim eles tentam te sequestrar?

O Festim dos OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora