Capítulo 41

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Arfo com o contato repentino, e entreabro os lábios. Nossos rostos se espremem juntos, e nossas bocas se encaixam. Ele puxa uma respiração e dolorosamente lento suga o meu lábio inferior. Há uma coisa urgente e possessiva quando ele faz isso, mas também há uma coisa delicada.
Os lábios dele são tão macios.

Ele cheira a algo doce, a canela, a certeza, e levemente a cinzas. E no meio disso tudo alguma bebida fraca. E o cheiro dele entra pelo menu nariz e me derruba.
O contato provocou uma onda de fogo tão forte na minha carne, que e eu tenho quase certeza de que:
Estou sendo, incendiada.

Fecho os olhos com força esperando a dor, mas há apenas um calor intenso no meu lábio. Mas não estou queimando, amoleco e endureço sob o seu corpo, espirais de tensão formando-se no meu estômago. Enquanto eu me desfaço em seus lábios. Estou confusa, não sei de nada sobre como funcionam os beijos. Ele está mesmo me beijando, ou isso é apenas porque estamos pressionados?
Abro os olhos atônita, e ele está me olhando. Os olhos dourados dele ardiam sobre os cílios volumosos. Estão tão perto de mim, que consigo distinguir perfeitamente os fios de ouro. E as partes mais fundas, as fendas em sua íris que eu chamo de poças dela lava.

Estamos imóveis um sob o outro, assustados dentro do contato. O mundo lá fora, é um completo, pandemônio e caos, mas por alguma razão, só há nós dois dentro desse escudo, nossas bocas unidas, enquanto o tempo lentamente se arrasta. Não um sequestro, não o preludio da morte. Nós dois e nossas bocas quentes.
Ele não está se afastando.
Isso é mesmo um beijo?

Se for, o que eu devo fazer? Sinto o golpe violento da minha inexperiência me atingindo. Eu nunca estive com um homem, e eu não sei dizer se uma tentativa de sequestro se caracteriza como estar. Acho que não. Abrir a boca, acho que eu devo abrir mais os lábios. E esperar. Mas quando eu desajeitadamente tento fazer alguma coisa, ele se afasta.

Sinto uma pontada de amargura no peito. Ele me encara culpado, e sei exatamente o que não estou conseguindo esconder em meu rosto.
A mágoa.
É, não foi um beijo, digo a mim mesma, foi apenas uns segundos. Kay não tem nenhum motivo para me beijar, e parecia tão assustando quanto eu com o contato. Posso sentir seu coração imortal, retumbando por dentro do traje.
A terra em baixo de mim treme, junto com o seu corpo e raízes pretas de fogo chiam, e saem do seu corpo por todos os lados da terra. Isso é muito mais do que um pequeno pulso de calor. Ele queima a terra com o que quer que esteja sentindo. É poderoso. Seu rosto está vermelho como o fogo e ele olha para todos os lados menos para mim. Quando ele respira soltando o ar, sua respiração se transforma em vapor.
Deixando tudo embaçado.

Me sinto culpada por deixa-lo tão constrangido, a ponto de nem saber para onde olhar.
O escudo treme de novo, e há um barulho de terra, ele olha para o lado.
— Eles estão cavando por baixo. — Ele diz meio rouco. — Temos que sair daqui urgente. — Completa apressado.
Não sei porquê o meu peito dói tanto, eu não sei o que eu estava esperando. Estamos quase morrendo, em cinco minutos ele vai ficar fraco, então busco deixar minhas angústias de lado. Posso está com o peito ferido mas pergunto:
— O que nós vamos fazer?
Ele olha para mim.

— Eu vou tirar o escudo e nos arremessar para o alto. Vou contar até cinco. Pronta?
Sinto o tempo se esvaindo, achei que teríamos tempo de descobrirmos sobre a estranha relação entre nós, sobre a nossa coisa... mas a partir daqui talvez, não tenhamos mais tempo, eu preciso perguntar sobre o fraco fiapo de esperança tola, que sinto se estrebuchar no meu peito, o encaro vasculhando seus olhos.
— Kay, se que não é o momento, mas... Eu preciso saber, o que você queria me contar?

Meu peito queima com uma fraca esperança. Seus olhos de fogo passam por mim novamente, e ele os aperta com bastante força, então abre.
 
Kay
 
Encarei Seraffine.
E ela me encarou.
As bochechas dela estavam levemente coradas por causa da proximidade, e cada vez mais vermelhas enquanto eu inevitavelmente me esfregava nela. Linda. Envergonhada. Grandes mechas de seu cabelo se grudavam uma nas outras por causa do meu calor. Delicadamente eu afasto a mecha branca grudada pelo suor na frente do seu rosto.

O Festim dos OssosWhere stories live. Discover now