4. alone again

165 20 111
                                    

- quarto capítulo, 1981 -

sozinho novamente

SE ESTAR EM AZKABAN ERA UM MAU, ESTAR EM AZKABAN COM YASMIN ERA PIOR. Sirius jurava que iria enlouquecer, e era o segundo dia em que partilhava a cela com a corvina.

Tinha adquirido a técnica tão conhecida de fazer um traço na parede cada vez que o sol desaparecia, de modo a não perder a contagem dos dias, pelo que sabia que era dia 2 de novembro de 1981.

O tempo passava devagar, ainda para mais enquanto prisioneiro. Não havia nada para fazer, o que era torturante.

Na ausência de trabalho, as vozes preenchiam a cabeça de Sirius, colocando-lhe dúvidas e horrores para preencher a dor.

Walburga, Orion e Regulus faziam-lhe companhia durante a noite, quando a solidão se intensificava.

A voz da sua mãe era aterrorizante, lembrando-o que ele acabara sendo como todos eles.

Um Black sempre era um Black, mesmo que o esconda.

A memória da voz do seu pai, uma voz grossa e firme, ecoava por ele.

Você sempre esteve destinado a isto. Você é um de nós.

A voz de Regulus, seu irmão, era aquela que mais doía, penetrava no seu peito como facas afiadas, e, quando achava que não podia doer mais, elas cravavam mais fundo, procurando deixar a sua marca.

Você nos deixou, você foi embora dizendo que era diferente. Você dizia ser diferente e dizia me amar. Foi tudo uma mentira, não foi?

Regulus, ainda tinha a voz assustada e jovem que tivera da última vez que trocaram palavras — quando Sirius saíra de casa, deixando-o para trás, alegando ser diferente e não querer viver como um Black.

Sirius tinha saído de casa anos antes, em 1978, deixando o luxo que a sua família lhe proporcionava e o preconceito que seguiam contra aqueles "cujo sangue não era puro e não eram merecedores da vida com magia" — aqueles que não eram vindos de famílias inteiramente mágicas.

Sirius foi acolhido na casa dos Potter, casa do seu melhor amigo. Viveu com Euphemia, Fleamont e James pelo seu último ano em Hogwarts, até que recebeu uma herança inesperada do seu tio Alphard Black, o único de quem gostava, e se mudou.

Pouco tempo depois, Euphemia e Fleamont morreram, e Sirius soube, quase tanto quanto James, o que é que era a dor de perder os pais.

Ele tentava se lembrar de Euphemia e Fleamont quando as vozes daqueles que deveriam ser a sua família o assombravam junto aos fantasmas das memórias do seu passado na Nobre Casa dos Black.

Tentava se lembrar das noites passadas à lareira quente, ouvindo histórias sobre um James pequeno e alegre correndo pela casa com o seu riso ecoando. Sirius nunca compartilhou as suas histórias, enquanto na casa dos Potter os risos ecoavam, na dos Black eram os gritos histéricos de sua mãe, os assustados de seu irmão e os seus, tão altos quando poderiam ser ao receber, mais uma vez, a maldição cruciatus contra a sua pele pálida.

Não fora uma infância fácil, mas Sirius sobrevivera, e, no fim do dia, isso era tudo que importava.

Ele tapou os ouvidos com as mãos e as dobras da almofada, tentando abafar as vozes.

Ele iria enlouquecer, constatou. Em dois dias já estava assim, e futuramente? Iria se habituar? Talvez cedesse à loucura e, eventualmente, morreria com os dementadores lhe sugando a alma ou o que dela restava.

Desviou o olhar para a garota sentada na cama a poucos passos dele, vendo os seus olhos opacos focados no chão.

Ele sabia o que tinha acontecido com ela — com Lee e Miranda. Ela tinha cedido à loucura e à ganância, tinha, assim como Peter — Pettigrew, doía mesmo somente pensar nele — se aliado a Você-Sabe-Quem e escolhido o lado das trevas.

𝐒𝐓𝐔𝐂𝐊 𝐖𝐈𝐓𝐇 𝐘𝐎𝐔, sirius blackWhere stories live. Discover now