Como conquistar Briar Harding / Vol. 5

Capítulo 1: A estrela do hóquei.

É tão engraçado como um momento pode significar tudo pra você, e então ele simplesmente se tornar um grande nada em segundos. Assim como o disco acertando a rede oposta pode mudar o jogo no último milésimo de segundo, algo pode acontecer nesse mesmo milésimo de segundo e transformar sua vida em um borrão de escuridão.

—Vamos lá, galera, o momento é de vocês! —O treinador bateu palmas ao entrar no vestiário, chamando a atenção de todo o time para si. —Lembrem-se de tudo que aprendemos durante os treinos e, principalmente, com os erros nos últimos jogos. Não percam o foco e não deixem que eles os provoquem. Somos os favoritos por um motivo, então vão até lá e façam valer esse título!

Gritamos assim que ele terminou de falar, erguendo os tacos de hóquei pra cima em animação. Éramos os favoritos por vários motivos. Havíamos ganhado os últimos dois campeonatos, além de vencermos 90% dos jogos. Não quero soar egocêntrico, apesar de que a maioria das pessoas pode pensar isso de mim, mas todos os jogos que perdemos, foram os jogos que eu não estava presente. Não que tenha sido culpa minha não estar presente, mas as vezes o treinador é um pouco rigoroso.

—Harding, quero falar com você! —O treinador chamou, enquanto o restante dos atletas passavam por mim para entrarem no rinque, já que o jogo estava prestes a começar.

Fui até ele, ajeitando o capacete na minha cabeça, sabendo o que estava pela frente. Seus olhos me encararam com seriedade, o que sempre acontecia. Mesmo que eu fosse o melhor jogador do time, conhecido como a estrela do hóquei pela universidade toda, isso não me isentava de levar um puxão de orelha de vez enquanto.

—Ano passado pegamos o time da universidade do Alabama na final também. Sei que você tem uma certa rivalidade com alguns dos jogadores do time, mas preciso que deixe isso de lado hoje pra se concentrar no jogo e no que precisa fazer. —Ele ergueu a mão e apertou meu ombro, dando um soco de leve no meu peito. —Você é o melhor do time, o que significa que todos esperam muito de você, inclusive seus parceiros de time. Eles o seguem. Então se concentre e dê o seu melhor.

—Pode deixar, treinador. Não vou errar hoje. —Afirmei, sentindo a energia da competição correndo nas minhas veias. Eu era competitivo. Eu gostava de vencer. Então eu sempre dava tudo de mim para não perder. E dessa vez não seria diferente.

Ele não estava mentindo na questão da rivalidade. Mas eu não tinha nenhum problema com eles. Eram eles que tinham um sério problema comigo, assim como a maioria dos times. Sempre que eu entrava no gelo, a maioria deles tentava me esmagar e me quebrar a todo instante, porque sabiam que eu era o coração do time.

Mas ano passado a coisa tinha sido um tando seria. O capitão do time do Alabama tinha ficado por um triz de enfiar o taco de hóquei na minha garganta, depois de passar o jogo todo me provocando, no qual eu fiz um esforço descomunal para ignora-lo. Mas quando vencemos, eu não consegui aguentar e o provoquei de volta, o que gerou uma briga um tanto feia na qual ele prometeu me esmagar no próximo ano.

Bem, o próximo ano chegou e aqui estamos nós dois, prontos para nos enfrentar de novo. Sei que ele deve estar com sangue nos olhos para me vencer, mas não vou dar esse gostinho a ele, assim como vou fazer de tudo para ignorar suas provocações no decorrer dos jogos. Estou lá pra jogar e pra vencer e não vou deixá-lo atrapalhar isso.

O treinador me deu autorização para ir e me juntar ao restante do time. Todos estavam me esperando na entrada do rinque. Parei atrás de todos, porque eu sempre era o último a entrar. Gostava de ouvir os gritos de quem estava lá para nós assistir. Gostava da sensação de antecipação que vinha antes do jogo. Tinha nascido dentro do gelo. Aquilo corria nas minhas veias, me fazendo amar cada segundo de cada jogo.

—Odeio quando ele faz isso, sabe? —Nathan surgiu ao meu lado, ajustando a luva nas mãos. Meu melhor amigo parecia tranquilo, mas eu sabia que por dentro ele estava nervoso. —Pressionar você de forma nada sutil. Joga a vitória do jogo nas suas costas, como se todo o time fosse errar se você vacilar. Isso não é verdade. Você é o coração do time, mas não é obrigação só sua jogar pra vencermos. É um trabalho em equipe.

—Eu sei. Mas já estou acostumado com isso. —Dei de ombros, vendo Nathan comprimir os lábios e bufar em frustração. Os olhos de tom verde claro faiscando de ansiedade, enquanto suor escorria pela pele negra do seu rosto.

Fomos chamados para dentro do rinque, assim como o time adversário. As pessoas nas arquibancadas gritaram quando nos viram deslizar para dentro do gelo. Acenei para a torcida do nosso time, varrendo os olhos pelas arquibancadas até encontrar meus pais e minha irmã sentados juntos, acenando na minha direção com sorrisos enormes. Meu sorriso provavelmente era igualmente grande, porque não tinha nada melhor do que ver aqueles três juntos. E Julian, porque o namorado da minha irmã está sempre grudado nela, de uma forma irritante.

Olhei para o time adversário, não demorando a encontrar o sobrenome Conway no uniforme do capitão. Ele se virou quando alguém murmurou algo pra ele, fixando os olhos em mim, como se eu fosse seu maior inimigo. Acenei com a cabeça em reconhecimento a ele, antes de abrir um sorrisinho e lhe dar as costas. Conway certamente ia querer trazer essa rivalidade para dentro do gelo de novo.

Pegamos nossas posições, esperando o início do jogo. Ajeitei o taco nas minhas mãos, o segurando com força, até ouvir o som que dava início a partida. Deslizei pelo gelo no mesmo instante, observando o disco passando entre os tacos da equipe adversária. Não demorou para Nathan conseguir rouba-lo e então eu acelerar meus movimentos, porque sabia que agora era pra valer.

Durante o jogo, perdi a conta de quantas vezes fui atingido com força, de uma forma que me levava para o chão ou acabava comigo esmagado contra o muro de proteção. Sabia que assim que tirasse os equipamentos de proteção e o uniforme, estaria todo roxo e dolorido até os ossos. Era sempre isso que acontecia quando eu acabava pegando uma equipe que tinha um certo ódio por mim. Mas não posso fazer nada se sou tão bom assim.

Nos minutos finais da partida, a nossa torcida já estava comemorando, porque estávamos tão à frente nos pontos que era impossível eles nos passarem. A vitória era nossa, não importava o que acontecesse nos segundos finais da partida. Mas como eu disse, é tão engraçado como um momento pode significar tudo pra você, e então ele simplesmente se tornar um grande nada em segundos.

Ouvi a torcida explodindo em comemoração quando roubei o disco e o lancei para dentro da rede adversária, no mesmo instante que o som anunciava o fim do jogo. Então veio o impacto do corpo de Conway contra o meu. Ele tinha passado o jogo todo me provocando, mas não chegou perto de mim em nenhum momento até agora.

Primeiro senti o impacto nos meus ossos, porque ele estava rápido o suficiente para me jogar contra o muro de proteção. Então o cotovelo dele encontrou meu queixo, fazendo meu rosto inteiro ficar tenso e então latejar com uma dor insuportável. O taco caiu das minhas mãos, enquanto o ar escapava dos meus lábios. Tive um último vislumbre dos meus colegas de time disparando na minha direção, antes de tudo escurecer.

Continua...