Capítulo 7: Festa à fantasia

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Os corredores da universidade estavam sempre lotados, de estudantes indo e vindo de algum lugar. As vezes eu gostaria que alguns deles simplesmente desaparecessem. Nos primeiros anos a universidade é sempre maravilhosa, até tudo se tornar uma grande chatice. Não via a hora de me formar e nunca mais pisar ali.

—Onde você estava? —Indaguei, assim que parei na frente do meu armário e Mavie surgiu ao meu lado.

—Resolvendo algumas coisas. Tenho trabalho em grupo pra fazer. —Ela gemeu de raiva, balançando a cabeça negativamente. —Odeio trabalhos em grupo. Sempre tem uma alma viva que não quer ajudar com absolutamente nada e só ganhar nota.

—Pensa pelo lado positivo. —Me virei pra ela, puxando o papel que alguém havia enfiado dentro do meu armário. —Mais alguns meses e você estará longe desse lugar, enquanto eu...

—Pouco tempo também, Jas. —Ela sorriu pra mim, enquanto nos duas trocávamos um olhar cúmplice, lembrando do acordo que tínhamos feito quando ambas decidimos que queríamos gastronomia. Iríamos trabalhar juntas quando nós formássemos, abrindo nossa própria confeitaria e sendo sócias. Não havia mais ninguém com quem eu gostaria de trabalhar além da minha irmã.

—Você já estava sabendo? —Estendi o papel pra ela, que fez uma careta assim que encarou o convite para uma festa a fantasia na casa de um dos atletas do time de hóquei.

—Ainda não. Por que você sempre recebe esses convites antes de mim? —Ela fez um biquinho como se estivesse com inveja, me lançando um sorriso maroto logo em seguida, que me fez revirar os olhos. —Deve ser dos seus admiradores secretos.

—Para com isso. É só um convite. Eles devem ter enfiado em todos os armários. —Afirmei, vendo minha irmã soltar uma risada descrente, como se não acreditasse nisso. —Bem, eu não vou.

—O que? Por que não? —Mavie me encarou com uma expressão perdida, como se quisesse me dar um tapa. —Qual é, Jas, você nunca foi em mais nenhuma festa da universidade. Você vive de casa pra universidade e pro hospital. Não faz mais nada além disso.

—Não posso fazer nada se as festas são sempre sem graça. —Dei de ombros, e Mavie bufou e revirou os olhos, o que me arrancou uma risada enquanto eu fechava meu armário.

—Elas só são sem graça pra você, porque o cara que as animava não pode participar. —Afirmou, me fazendo comprimir os lábios e desviar os olhos para o chão, porque senti o calor subindo pelo meu rosto.

—Não é por causa dele. Só não faz sentido eu ir. Eu não danço, eu não converso com ninguém e eu não fico com ninguém. Tudo que eu faço é ficar sentada em um canto observando todo mundo. —Gesticulei para o nada, tentando provar o meu ponto. —Não tem graça nenhuma, Mavie.

—Primeiro o Joe me abandou nas festas e agora você. —Ela levou a mão ao peito, como se eu estivesse enfiando uma faca no seu coração, o que me fez rir e revirar os olhos. —Vou procurar outra família. Talvez eles me amem mais.

—Deixa de ser dramática! —Eu empurrei seu ombro, escutando Mavie rir, antes de passar o braço pelo meu. Nós duas saímos juntas da universidade, falando sobre a fantasia que ela poderia usar na festa. Porque Mavie jamais perdia uma festa.

[...]

Encarei o vaso de flores. Rosas vermelhas.  Eu não costumava gostar muito de flores, porque elas sempre morriam com o tempo. Preferia coisas que durassem mais, ou que fossem melhor aproveitadas. Mas não acho que eu esteja em posição de falar isso, porque nunca ganhei flores ou qualquer outra coisa de alguém. Talvez a culpa fosse minha, porque eu sempre dava fora em qualquer cara que eu achasse que estava flertando comigo. Romances me deixavam nervosa.

Havia algumas fotos ali também, escoradas nos presentes. Fotos de Briar com seus pais e sua irmã. Fotos dele com a equipe de hóquei. Outra dele apenas com Nathan, que eu reconhecia ser no café dos meus pais, quando os dois estavam comemorando alguma coisa. Provavelmente mais uma vitória no gelo. E uma foto no jardim de uma casa, onde estava ele, Abigail, Julian, Victor e Millie. Eram eles que estavam sempre ali vindo o visitar.

—Um dos seus colegas de time vai dar uma festa à fantasia. Fiquei me perguntando como você iria se estivesse acordado. —Falei, girando o rosto para olhar para Briar. —Tenho a leve sensação que você iria de algum personagem literário. —Aquilo me fez rir, enquanto eu sentia minhas bochechas corarem, mesmo que Briar não estivesse vendo ou ouvindo. —Não sei se sabe, mas o fato de você ser leitor e estudante de literatura sempre arrancou suspiros das garotas. Mas você já deve estar acostumado com isso, na verdade. Vejo sua irmã lendo pra você quase todos os dias. Gostaria de saber qual é seu livro favorito.

Como eu esperava, ele não me respondeu. Mas aquele dia eu estava um pouco mais animada para me sentir desanimada com isso. As crianças tinham me feito brincar com elas de pique-esconde. Fiquei horas correndo com elas, até esgotar minhas energias e depois de ter dado muitas risadas. Não tinha como ficar desanimada quando eu sabia que as tinha deixado mais animadas ainda quando fui embora.

—Eu não tenho livro favorito. Sempre que me pergunto sobre isso, fico pensando em todos os livros que já li e não consigo escolher entre eles. Gosto de todos, então como posso escolher só um como meu favorito? —Indaguei, comprimindo os meus lábios quando apertei a mão de Briar, vendo a hora no relógio da parede. Os pais dele deveriam chegar em breve, então eu não podia ficar mais ali. Meu tempo com ele era sempre limitado e eu tentava aproveitar cada segundo. —Seus pais vão chegar daqui a pouco. Preciso ir, antes que eles me peguem aqui e eu acabe passando por uma vergonha tremenda.

Soltei uma risada nervosa, porque não saberia o que fazer e como me explicar se alguém me pegasse ali. Iria ser tão vergonhoso e estranho. Não havia qualquer explicação para o fato de eu ir o visitar sempre. Eu era apenas maluca. Já tinha certeza sobre isso, mesmo que Mavie falasse que eu apenas me importo demais com as pessoas. Bem, com nem todas elas, na verdade.

—Eu volto amanhã. Vou trazer a atualização da liga de hóquei pra você. Mas não se preocupe, dessa vez vou anotar tudo pra não acabar esquecendo de nada...

Um calafrio atravessou minha coluna, enquanto as palavras ficavam presas na minha garganta quando senti a leve pressão dos dedos de Briar ao redor da minha mão, no instante que fui ficar de pé, como se ele estivesse tentando me segurar. Tropecei na cadeira, quase caindo para trás, puxando minha mão para longe da dele.

Olhei pra ele, vendo que seus olhos ainda estavam fechados e ele ainda estava imóvel, como se nada tivesse mudado. Mas a sensação da pressão na minha mão continuava, me fazendo esfrega-la na camisa que eu usava, tentando espantar o rastro de calor que ele tinha deixado na minha pele. Meu coração estava na garganta, enquanto algo frio tomava conta da boca do meu estômago.

Encarei a mão dele, tentando ter certeza que não estava ficando louca. Já havia segurado a mão dele várias vezes. Em todas elas eu a apenas segurava com cuidado. Mas dessa vez tinha sido diferente. Senti seus dedos envolvendo os meus. Tinha certeza disso. Não me preocupei em colocar a cadeira no lugar ou qualquer outra coisa. Meu coração estava batendo rápido demais quando agarrei minha bolsa e disparei para fora do quarto, precisando ir embora dali.


Continua...

Como conquistar Briar Harding / Vol. 5Where stories live. Discover now