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LUIZA BUENO

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LUIZA BUENO

A exaustão me fez entrar pelo apartamento que dividia com minha prima e me jogar no sofá, sentindo as pontadas de dor de cabeça indicarem que minha enxaqueca estava vindo.

Fechei os olhos, fazendo uma prece para que o dia tivesse sido um efeito de alguma droga forte — por mais que eu não usasse —, ou um terrível pesadelo, mas a voz de Mariana soou alto.

— Ué? — se materializou na sala — Você chegou? — senti o estofado afundar ao meu lado. — Achei que tinha me dito que iria ver o pôr do Sol na Barra. — abri os olhos, vendo-a com um pote de sorvete e duas colheres.

— Esse era o plano. — peguei a colher que ela me oferecia. — Mas eu fui demitida e bateram no meu carro… — afundei a colher no sorvete de chocolate.

Os olhos dela se arregalaram, enquanto eu comia o sorvete.

— Jesus! — levou a mão à boca. — E você está bem? Da batida, eu quero dizer. — assenti.

— Acho que a batida foi o de menos. — fui sincera. — Eu estou mais abatida pelo meu emprego… — Mariana apertou os lábios em uma expressão de pesar e segurou minha mão.

— Sinto muito, Luli. — dei um sorriso sem graça. — Sei que você se esforçou muito para ter esse emprego. — assenti, suspirando. — Você já sabe o que vai fazer? — neguei.

— Vou tentar encontrar outro emprego. — peguei mais sorvete. — Se não der certo, eu vou ter que voltar para Belo Horizonte… — engoli em seco.

A possibilidade de voltar para minha cidade natal me causava medo. Voltar ao passado, resgatava memórias pesadas e que eu não queria reviver. Era como pisar em um terreno minado.

— Ei, vamos fazer assim. — Mariana pediu. — Você vai ficar no Rio e não vai voltar a morar em BH. — assenti. — Se você não conseguir um novo emprego, você vai continuar aqui, porque eu posso muito bem nos sustentar, entendeu? — apertou minha mãe.

— Mari... — meus olhos se encheram de água.

— Eu não aceito não como resposta. — ela me encarou com um sorriso que chegava aos olhos.

Quis protestar, mas Mariana era muito irredutível e por mais que eu falasse, ela iria negar e invalidar tudo o que eu diria.

— Você vai conseguir um novo emprego, nem que eu precise ameaçar todos os que te negarem a vaga, entendeu? — assenti sorrindo.

Mariana deixou o pote de sorvete de lado e me abraçou, com a mesma cumplicidade dele sempre. Ela era minha melhor amiga desde bebê e mesmo com a distância que nos separava, ela nunca se afastou.

— Hum… — murmurou ao me soltar. — E seu carro? O que aconteceu? Você ainda não me explicou direito. — suspirei fundo.

— Eu estava parada no sinal, minha cabeça estava a mil por conta da demissão, eu iria ver o pôr do Sol na Barra. O sinal abriu e acho que eu não percebi. O cara bateu na minha traseira e deu um estrago enorme. — ela abriu a boca. — Nós discutimos, mas depois entramos em um acordo. Eu iria pagar o concerto dele e ele o meu, mas no final, ele pagou os dois e me deixou na porta do prédio. — sorri fraco. — Pelo menos o folgado foi gentil. — Mariana riu.

— Você já colocou um apelido no cara. — apontou, sacudindo a cabeça divertida. — Graças a Deus que ele pagou por tudo, não é?

— Eu até quis pagar, mas ele insistiu e eu deixei que ele fizesse. — sorri. — Acho que ele é gringo. — Mariana levantou as sobrancelhas. — Mas que está no Brasil há um bom tempo, porque ele conhece muita gente e fala bem português.

— O que mais tem o Rio é gringo. — assenti. — Mas pelo menos ele foi legal em pagar. Parece que adivinhou que as coisas não estavam boas. — sacudi a cabeça.

— É verdade. — sorri. — Ah, amanhã você pode me levar até a oficina onde meu carro ficou? — ela assistiu. — Muito obrigada. Segunda-feira eu mesma vou atrás de um novo emprego. — Mari me ofereceu mais sorvete.

Ficamos no sofá até que Mari decidiu que iríamos ver um filme clichê da Netflix, enquanto eu fui para o banho.

Entrei no box e deixei meu corpo relaxar quando a água escorreu por minha pele. Refleti sobre tudo que tinha acontecido na vida antes, o que me fez me mudar para o Rio, a cidade natal do meu pai e onde passei a maioria das férias.

Eu não queria de jeito nenhum voltar a viver em Belo Horizonte, meus pais moravam lá e minhas idas até lá não poderiam ser evitadas, mas morar era diferente, eu não poderia fugir tão fácil.

Quando voltei para a sala, Mari já tinha escolhido o filme e feito pipoca. Me sentei ao lado dela e puxei a coberta fina que ela colocou. Ela deu play no filme e começando a assistir, comendo pipoca e rindo.

Quase na metade do filme, meu celular vibrou, olhei a tela e vi um número desconhecido no chat do Whatsapp. Franzi a testa e abri a mensagem, sem Mariana ver.

Número Desconhecido
Oi, me desculpa, más peguei o seu número com os caras da oficina.

Queria saber se você estaba bien?

Sacudi a cabeça rindo e digitei.

Luiza
Sem problemas.
Eu estou bem sim. Obrigada. Não precisava se preocupar comigo, afinal já passou.

Vi que ele estava online e que em seguida começou a digitar.

Número Desconhecido
Se eu puder fazer más alguma coisa pra recompensar o incômodo…

Luiza
Acho que eu estou em dívida com você.
Você já fez demais pagando pelos dois carros. Não precisa de mais nada.

Número Desconhecido
Esta bien. Buena noite.

Respondi rapidamente.

Luiza
Boa noite.

Deixei o celular de lado e voltei a me concentrar no filme, vendo os protagonistas se desencontrarem novamente. Talvez não fosse para eles ficarem juntos, porque a vida tinha dessas.

O filme terminou pouco tempo depois, com o casal se encontrando novamente e vivendo feliz. Pelo menos nos filmes, as coisas eram práticas e sem complicações impossíveis de se resolverem.

Fomos dormir já na madrugada. Na verdade, eu fiquei me revirando na cama, pensando nos meus problemas.

 Na verdade, eu fiquei me revirando na cama, pensando nos meus problemas

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INEXPLICABLE | GIORGIAN DE ARRASCAETA Where stories live. Discover now