Capítulo I: Maldita Ilha

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Alyter

Anos depois...

     Risadas eufóricas misturavam-se ao som das bolhas que se formavam mediante a ação das barbatanas inquietas por meio d'água. Os jovens irmãos syrenios nadavam rapidamente entre os recifes suntuosos e multicromáticos dos mares tropicais, percorrendo o paraíso de cores com presteza e astúcia, divagando rapidamente nas águas quentes e claras, dançando e rodopiando entre a vida marinha vívida. Naquela manhã, Alyta dara a ideia de apostar uma corrida com Alyter até a grande plataforma de coral onde se reuniam os guerreiros de Ylla-ma, Cyreus, o irmão mais velho dos gêmeos, haveria de estar lá.

     — Duvido que consiga chegar primeiro que eu, irmãozinho. — Provocou Alyta entre vórtices e correntes d'água.
     — Vamos ver! — Respondeu Alyter.

     A disputa acirrada entre os irmãos ecoava sob as ondas, enquanto suas risadas se misturavam às canções do oceano, e este, por sua vez, repleto de vida, colorido e vibrante, tornava-se o cenário perfeito para as travessuras de Alyter e Alyta. À medida que os dois syrenios cortavam graciosamente a água, as criaturas marinhas acompanhavam o espetáculo, observando a dança  veloz e entusiasmada de dois jovens, e aparentemente inconsequentes, syrenios.

     Subitamente, um cardume de peixes curiosos juntou-se à brincadeira, acompanhando, ou pelo menos tentanto acompanhar, os jovens syrenios em sua corrida através dos corais. Alyter e Alyta olhavam-se de forma ardilosa entre a presteza da água, como se confidenciassem um ao outro os segredos perversos de um crime marítimo. Desde a meninez, os irmãos sempre foram muito próximos, intrinsecamente ligados assim como o ritmo e a melodia.

     À medida que os irmãos atravessavam a clareira subaquática, era enfim possível vislumbrar a plataforma de corais onde havia uma leve aglomeração de seres do mar. A disputa então começara a ficar cada vez mais acirrada entre os jovens syrenios, as barbatanas batiam cada vez mais rápido e seus corpos rasgavam o azul límpido como arpões lançados em alto mar. Repentinamente, Alyter foi surpreendido com um baque que o desviou brevemente do caminho para a vitória, Alyta havia o empurrado e sorria arteira para ele enquanto o deixava para trás.

     — Trapaça não vale! — Exclamou Alyter.
     — Foi só um empurrãozinho, deixa de drama!
     — Ah, é?

     Antes que a jovem syrenia pudesse responder, grandes ondas sonoras atingiram-na, agitando as águas ao seu redor e a atordoando, permitindo então que Alyter a ultrapassasse com o mais vitorioso dos sorrisos no rosto.

     — Usar sua voz suprema não vale! — Vociferou Alyta.
     — Foi só um empurrãozinho, deixa de drama. — Ironizou Alyter.

     No momento em que o syrenio olhou para trás no intento de contemplar a eminente derrota de sua irmã, para sua surpresa, a mesma carregava um sorriso presunçoso em seu rosto, como quem dizia "ainda não acabou". Confuso, Alyter iria voltar a olhar para frente quando bateu de frente com algo, em seguida indo em direção ao chão de areia fofa que rapidamente fora espalhada por toda a água, formando uma película densa que atrapalhava a visão. Quando a areia finalmente abaixou, Alyter se deparou com duas visões que definitivamente não o agradavam.

     — Háhá! — Riu Alyta ao disparar com toda a velocidade em direção à plataforma.

      Alyter revirou os olhos e então olhou para baixo, onde se encontrava alguém a quem considerava não tão agradável, ou definitivamente nada agradável.
  
     — Olha só o que a maré trouxe. — Disse o robusto ser do mar gozando de um sorriso presunçoso e com um certo fundo de escárnio.
     — Oi, Yllon. — Respondeu Alyter a contra gosto.

A Dança das MarésWhere stories live. Discover now