Capítulo XI: Jardim de Centelhas

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Hammar

     Havia acontecido muito rápido. Hammar não recordava-se de muitas coisas de seus últimos momentos na Ínsula de Marlon, a última coisa da qual tinha memória era de seu tritão debruçado aos prantos sobre o corpo de um ser aquático ferido. Lembrava-se de que seu tritão usava algum tipo de magia, provavelmente no intento de salvar o ser dourado que perecia em seus braços. Também lembrava-se de um homem vestido de preto aproximando-se sorrateiramente, Hammar logo agiu em defesa do ser aquático e posteriormente a isso uma grande massa d'água varreu a costa. Os gritos do pandemônio cessaram e então o silêncio e a escuridão reinaram na mente do rapaz. Quando acordou, dias depois, já se encontrava em casa, haviam cancelado a expedição, Marlon havia se mostrado verdadeiramente brutal, não obstante sua grande beleza.

     Hammar ainda guardava com extremo apreço a pérola que ganhara da bela criatura a quem dedicava tanto fascínio. Com o decorrer das semanas, o jovem rapaz acabara aceitando que jamais voltaria a contemplar a face do paraíso que encontrara em Marlon, todavia, por coincidência ou ironia do destino, aquelas mesmas íris azuis celeste estavam ali, diante dele, encarando-o com a mesma diligência que já lhe era tão familiar.

     — Você morreu? — Perguntou a beldade de olhos azuis.
     — Temo que sim, pois o que vejo é um anjo. — Disse Hammar, erguendo-se e sentando-se sobre o chão afim de deslumbrar melhor aquela visão.
     — Não seja estranho, você parece bem vivo para mim e creio que não sou um anjo, seja lá o que isso signifique. — Disse o tritão, provocando uma breve risada em Hammar.

     Aquilo parecia um sonho. Um sonho do qual Hammar rapidamente despertou, a euforia passou e logo os questionamentos voltaram a sua mente.

     — Como...? O que aconteceu? Por que? Eu... eu não consigo entender. — Confessou Hammar, encabulado.
     — É uma longa história, nem eu entendo direito ainda...
     — Querido... Oh...! — Indila se surpreendeu ao deparar-se com os dois jovens no chão. — Por que estão não chão?
     — Eu acho que ele desmaiou. — Disse Alyter, apontando para Hammar.
     — Pelos deuses! Veremos um médico mais tarde. — Afirmou Indila.
     — Minha mãe, isso não é necessário.
     — Eu sei o que se faz ou não necessário. Agora me acompanhem, queridos, já está quase pronto.

     Os dois jovens então puseram-se de pé e passaram a seguir a nobre matriarca em direção a sala de jantar. Hammar não conseguia parar de encarar a bela criatura que caminhava ainda um tanto desajeitadamente ao seu lado. Da última vez que vira aquele ser, escamas reluzentes cobriam-lhe o corpo e uma longa cauda se projetava de seus quadris, porém, ali estava ele novamente, não mais um tritão e sim um rapaz estonteante. A certo ponto, chegaram no grande lance de escadas do palácio Lisserod, Indila foi na frente e Hammar logo atrás dela; o belo ser porém, permaneceu estático no topo da escadaria, em clara apreensão.

     — Deseja ajuda? — Perguntou Hammar percebendo a aflição de seu tritão.

     A beldade permaneceu relutante, até Hammar oferecer-lhe o braço direito como apoio. Acanhado, o belo ser segurou-se em Hammar com firmeza, aceitando seu auxílio.

     — Vamos lá, um pé após o outro. Eu imagino que isso deve ser algo novo para você. — Disse Hammar.
     — Realmente, em baixo d'água eu teria chegado lá em baixo antes mesmo que pudesse piscar. Seu mundo é limitante, humano.

     Hammar riu brevemente do comentário da figura esbelta e então percebera que ainda não sabia o nome de tal perfeição.

     — Me chamo Hammar, a propósito.
     — Alyter. Meu nome é Alyter.

     Em definitivo era um belo nome, tão único único e encatador quanto seu possuinte, pensava o jovem rapaz humano.

     — Prazer, Alyter. — Disse Hammar olhando no fundo dos olhos de Alyter.

A Dança das MarésWhere stories live. Discover now