AlyterUm estrondo forte cortou os ares, ecoando como o prenúncio sombrio de uma grande catástrofe. Por breves segundos, as águas da enseada caíram numa falsa e excruciante calmaria, posteriormente afundando-se no caos em sua mais pura forma. Syrenios comuns rasgavam rapidamente o véu d'água em busca de fuga, enquanto os atallons entravam em formação para proteger a enseada contra qualquer que fosse o mau. O medo pairou soberano no ar, mais um estrondo foi ouvido, e então Alyter teve a visão tenebrosa da ameaça que se aproximava com avidez.
— Cyreus... — Disse Alyter temeroso.
— Fique atrás de mim, Alyter. Não se separe de Alyta.
— Alyta...?Horas antes...
— Ele também tinha cabelos negros, um nariz reto, sobrancelhas cheias e... lábios bem desenhados. — Disse Alyter.
— Para um humano, esse me parece bem bonito. Eu pensava que eles tinham três olhos e uma boca faminta cheia de dentes afiados. — Brincou Ily.
— Pare de brincar com isso, é uma coisa séria. — Disse Alyter entre leves risadas.
— E o Krago, me conte mais sobre ele, é tão horrível quanto dizem?
— Pior. Acho que foi a criatura mais horripilante que já vi. Se não fosse aquele humano eu acho que... enfim.
— Isso parece ter sido horrível e incrível ao mesmo tempo.
— É, algo assim, eu acho.Alyter se encostou no ombro da amiga. Seu olhar carregava certa tristeza e aflição. Não haviam encontrado qualquer rastro humano na ilha e até mesmo o corpo da besta anfíbia que atacara o syrenio havia sumido, não haviam motivos para não realizar a cerimônia na enseada e aquilo preocupava Alyter.
— Não encontraram nada? Minha tia me disse que os atallons até exploraram por dentro da ilha... — Disse Ylilu.
— Não, nada. Não encontraram nem o corpo do Krago e agora devem achar que eu estou louco. — Lamentou Alyter.
— Eles não acham que você é louco.
— Mentiroso talvez? Confesso que não sei o que é pior.
— Nem louco, nem mentiroso. Eu acredito em você.
— Eu queria que o Cyreus acreditasse em mim também. Mas como ele vai acreditar em mim se até o corpo daquele demônio maldito sumiu? — Esbravejou Alyter.Ylilu abraçou os ombros do amigo no intento de confortá-lo. Os jovens syrenios encontravam-se sentados sobre os corais macios dos recifes, cercados pelas cores vibrantes da natureza oceânica. Mais uma vez, os antigos amigos observavam o céu do mar em silêncio, contemplando o deslumbre do que parecia inalcançável e ordinário ao mesmo tempo.
— Você não vai perder a cerimônia, vai? — Questionou Ylilu.
— Não sei... — Disse Alyter absorto.
— Alyter! — Protestou Ylilu.
— O que foi?
— Aly, me escute bem: se existem humanos e kragos em Malů, todos podem estar correndo perigo hoje.
— Eu sei! Mas o que eu posso fazer? O Cyreus está determinado e eu, bem... eu sou uma alga seca perto dos atallons, não é?A syrenia albina desferiu um tapa contra na nuca do amigo em resposta.
— Aí! Isso doeu!
Ylilu segurou a mão do amigo com delicadeza e olhou-o no fundo de suas íris azuis.— Aly, se houver mesmo alguma ameaça lá em cima, toda a ajuda será necessária, a sua então, nem se fala. Além do mais, você pode estar enganado e tudo pode ocorrer bem hoje. Então largue a sua covardia e vá lá pra cima!
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A Dança das Marés
RomanceUm jovem ser do mar valente e obstinado e um nobre rapaz de alma poética e coração aventureiro terão suas vidas entrelaçadas pela ironia do destino. Alyter é um belo tritão que, num ato de coragem, abandonou sua forma marinha para salvar a irmã de u...