Capítulo VII: Desencontros: Parte I

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Hammar

     — Eu sei o que eu vi! — Exclamou Hammar.
     — Hammarzinho, meu querido amigo — Lenna se encostou aos ombros do amigo — eu não faço ideia do que você usou, mas você vai voltar naquela selva e me trazer uma dúzia.
     — Sapos gigantes e sereias que choram pérolas, que alucinação fantástica. Me traga um pouco dessa planta exótica também, Hammar. — Disse Lorde Eliazer num tom brincalhão.
     — Não foi alucinação e não teve planta exótica alguma. Posso garantir que o que vi era totalmente real. — Afirmou Hammar.

     O jovem rapaz tinha certeza do que vira, assim como tinha convicção de que o céu que pairava sobre sua cabeça era azul, a pérola que guardava com o maior apreço possível era a prova daquilo. Havia se deparado com as duas faces de Marlon: uma era bela como o vislumbre etéreo do paraíso, já a outra, horrenda e nefasta como a própria visão do abismo da morte. Seus companheiros, porém, não conseguiam acreditar na veracidade do que dizia e Hammar em verdade não os julgava, afinal, se alguém o contasse algo parecido iria cair gargalhando em pura descrença.

     — Se sereias um dia existiram, foram extintas a muito tempo, meu irmão. Hoje não passam de lendas, então tire logo esse sonho tolo da sua mente. Você deveria parar de ler tantos livros fantasiosos. — Disse Aronnis.

     Aronnis abocanhou uma maçã e pegou sua bolsa do couro encostada no tronco de uma árvore, intimando todos a se levantarem. Havia se passado um dia desde o episódio onde Hammar encontrara a bela criatura aquática e naquela manhã, o grupo itinerante iria adentrar a mata densa, daquela vez, unidos.

     — Andem, nada de moleza, hoje é um dia de exploração, mantenham-se unidos e atentos, e principalmente... — Aronnis olhou na direção de Hammar — evitem dar de cara com monstros ou sereias. — Ironizou.

     Hammar resmungou e se levantou do tronco onde encontrava-se sentado, sendo acompanhado por Lenna e Eliazer, Lady Bárbara, porém, com sua pose arrogante e sua natureza pomposa, decidira por ficar no acampamento enquanto os demais adentravam a selva. Hammar custava a entender o porquê da moça ter embarcado naquela viagem, todavia, agradecia internamente aos deuses por não ter que lidar com sua soberba naquela ocasião.

     No momento em que o os jovens adentrariam na floresta, ouviu-se uma voz aguda e estridente ecoando pelo campo aberto.

     — Ei, me esperem!

     Era Bárbara. A moça de cabelos castanhos avermelhados caminhava rapidamente em direção ao grupo. A barra de seu vestido amarelo por pouco não arrastava chão, evidenciando o caráter da péssima escolha que fizera para aquele momento. Até mesmo Lenna havia optado por calças para desbravar as matas de Marlon, no entanto, praticidade não parecia estar nos planos de Lady Arnes.

     — Não havia optado por ficar, minha irmã? — Perguntou Eliazer.
     — Eu não irei ficar sozinha neste aglomerado de tendas. E se alguma fera aparecer pra me atacar? — Questionou Lady Arnes.
     — Tem literalmente três feras fazendo a segurança do acampamento. — Disse Eliazer.
     — Independentemente. Mudei de ideia e agora eu vou. — Rebateu Bárbara.

     Eliazer bufou e passou a acompanhar a irmã que saíra em disparada a passos curtos e inconstantes na direção de Aronnis, tomando rapidamente seu braço direito para a surpresa do mesmo. Lady Bárbara tinha um claro interesse no irmão mais velho de Hammar e não media esforços para se jogar em seus braços em todas as oportunidades que a vida lhe dava, proporcionando momentos desconfortáveis porém extremamente cômicos para quem olhasse. A Hammar e a Lenna só restava desfrutar silenciosamente do estorvo que assolava insistentemente a vida de Aronnis.

A Dança das MarésWhere stories live. Discover now