Capítulo XII: O Cervo Branco

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Alyter

     Aquele entardecer possuía um aroma doce e afável como o mel da primavera. Alyter encontrava-se apoiado na janela de seu quarto contemplando a paisagem que estendia-se soberana além dos muros do grande palácio. O astro rei pairava ameno no céu, deitado sobre as nuvens brancas e macias que logo seriam tingidas pelo rubro terno do crepúsculo. Uma grande floresta de carvalho corria pelo horizonte muito além das montanhas e vales, cobrindo todas as porções de terra visíveis e presenteando-as com a vida que dançava livre e fervorosa entre as serras e falésias.

     Alyter não saira do palácio desde o dia em que acordara no novo mundo, num novo corpo, assustado e despido de qualquer discernimento sobre a natureza de sua nova realidade. Sempre tivera uma alma curiosa e aventureira, disposta a descobrir o oculto e o exótico, o medo, porém, sempre fora o seu maior obstáculo, indo totalmente á contramão de sua natureza exploradora, e então paralisando-o. Todas as coisas dentro dos limites das paredes suntuosas da residência Lisserod já pareciam demasiadamente insólitas aos olhos do syrenio e ele temia descobrir o que poderia encontrar fora daqueles limites, e então ter a real ciência de todos os perigos que sua irmã estava correndo. Ele não sentia-se preparado para de fato enfrentar o mundo dos humanos, mas ele precisava estar afinal. Por ela, tudo por ela. Alyter sentia que a irmã estava em algum lugar daquele reino, ansiando por socorro, e ali estava ele, ansiando por socorrê-la, porém, ali ele permanecia, paralisado, totalmente refém do medo, observando o mundo através do vidro frio de uma janela fechada.

     Indila, a matriarca Lisserod, vinha dedicando-se a ensinar a Alyter sobre as peculiaridades do mundo dos homens nos últimos dias os quais sucederam a chegada do rapaz marinho ao palácio. Segundo o conselho da nobre senhora, se Alyter de fato desejava encontrar a irmã, ele deveria entender como funcionavam os seres humanos e suas sociedades, desde a estrutura até seus âmbitos mais banais, e assim Alyter o fez, ou pelo menos estava tentanto. Até ali, a única conclusão a qual o jovem havia chegado era de que os povos terrenos eram demasiado embaraçados em seus próprios costumes. Havia a forma correta de sentar-se, andar, falar e até mesmo comer, em suma, redundâncias fúteis e sem sentido aos olhos de Alyter.

     Em meio a um turbilhão de pensamentos, um pequeno momento de calmaria pousara sobre o recinto, tal calmaria, porém, fora rapidamente interrompida por timidas batidas á porta. Alyter levantou-se e caminhou rumo às portas, seguidamente abrindo-as e deparando-se com uma face gentil e já um tanto familiar.

     — Olá. — Disse Hammar receososamente.
     — Olá. — Respondeu Alyter tão acanhado quanto.
     — Eu... eu só vim aqui te convidar para um... um passeio.
     — Um passeio?
     — Sim! Digo... desde que você chegou aqui você mal saiu do palácio então eu pensei que te faria bem sair um pouco... caso queira, claro. Quero dizer... você não é obrigado, se não quiser não há problema algum, você é um ser humano livre... digo...

     A cada nova frase proferida pelo jovem nobre, mais perdido entre elas ele ficava, afundando-se profundamente no vasto oceano de suas próprias palavras, era cômico, quase adorável.

     — Eu aceito o seu convite, Hammar.

     O nobre humano ficou inerte por alguns instantes ao ouvir o próprio nome, como se tivesse prendido o fôlego ao escutar um segredo recôndito e proibido, sua estagnação foi então cessada com um suspiro e ele pôs-se a verbalizar novamente.

     — Me acompanha então? — Perguntou Hammar.
     — Sim, eu apreciaria muito. — Respondeu Alyter.

     Hammar ofereceu o braço para Alyter com um contentamento estampado em seus olhos que brilhavam de alegria.

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⏰ Last updated: Apr 28 ⏰

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