Prólogo: Marés do Destino

105 16 132
                                    


Cyreus

     Aquele belo dia ensolarado não poderia ser mais perfeito para Cyreus. O jovem syrenio que acabara de chegar aos 13 anos de idade, contemplava ao longe a beleza da vida que o cercava, sentado sobre a areia fofa e quente da praia. Diversos syrenios se espalhavam pela enseada de Malů, formando uma agito de cores exuberantes, tal qual um grande recife de corais na superfície. Dentre a festa de tonalidades, formatos e tamanhos que ali havia, estavam seus irmãos, os gêmeos Alyter e Alyta, brincando alegremente nas piscinas naturais, pulando, saltando e rodopiando entre os pequenos peixes, aproveitando a infância cuja Cyreus já não se sentia pertencente.

     O jovem ser do mar sentia-se quase um adulto, apesar de estar longe de ser um. Era alto e forte para sua idade e apesar da pouca maturidade, o moçoilo marinho já se mostrava um grande guerreiro. Almejava ser igual aos seus pais, proteger o seu povo e o seu lar contra a ameaça humana e a simples ideia de um dia se tornar um Ataly tal qual sua mãe já fazia sua mente borbulhar de euforia, imaginando o dia em que seria ele a liderar sua comunidade.

     — Por que não está brincando com seus irmãos, querido? — Perguntou sua mãe, ao se aproximar.

     Sua mãe, Lyssua, assim como seus irmãos mais novos, possuía cabelos loiros e cacheados, suas escamas brilhantes reluziam todas as cores do arco-íris, sua pele da cor do ébano parecia luzir através do sol e seus olhos eram como o vislumbre das águas mais claras do mundo, azuis e mágicos, uma pena que apenas Alyter tivesse herdado aqueles olhos, pensava Cyreus. O jovem, por sua vez, nada havia puxado da mãe a não ser o tom de sua pele. Assim como seu pai, seus cabelos eram lisos e negros e suas escamas eram douradas assim como seus olhos.

     — Isso é coisa de criança, mãe! — disse o moçoilo. — Se um dia eu quiser ser um Ataly igual a senhora, eu preciso focar no que é importante, não em bobagens infantis. — Sua voz juvenil era cheia de determinação.

     Lyssua então sorriu com ternura para o pequeno ser do mar, seu olhar refletia a brandura e a compreensão própria de uma figura materna, e Cyreus admirava-a e absorvia cada traço de sabedoria que dela emanava.

     — Cyreus, meu filho, logo você irá entender que existe um tempo para tudo nessa vida, é o ciclo, aprenda a aproveitar as diferentes estações que ele oferece. Você está destinado a grandes feitos, assim como seus irmãos também estão, mas um guerreiro de verdade sabe equilibrar o viver e o lutar.
     — Mas eu quero estar pronto, mãe. Pronto pra defender nossa família e nossa casa. Eu quero ser forte igual a você e o papai.

     A sábia syrenia acenou suavemente, reconhecendo a bravura do filho e afagando o negrume de seus cabelos.

     — Lembre-se, querido, a força real está na sabedoria e no equilíbrio. Não se esqueça de que você é, antes de tudo, um jovem, muito jovem, syrenio. A infância é um tesouro efêmero, e há uma doçura única em se perder nas risadas e brincadeiras com seus irmãos.

     Cyreus olhou para os gêmeos, mergulhando nas piscinas naturais, suas risadas ressoando como melodias alegres. Dois pontos coloridos se misturando ao azul límpido da água.

     — Em breve, seus irmãos irão crescer, assim como você, e você pode acabar se arrependendo de coisas que não fez. O tempo é o que temos, Cyreus, e uma vez que ele passar, jamais irá voltar. Proteja sua família, mas não se esqueça de fazê-la feliz, pois assim você encontrará a alegria genuína.

     Lyssua pousou carinhosamente a mão no ombro de Cyreus, transmitindo-lhe não apenas a sabedoria de uma líder, mas o amor de uma mãe.

     — Agora vá. Divirta-se com seus irmãos. Aproveite cada momento de felicidade ao lado deles.

A Dança das MarésOù les histoires vivent. Découvrez maintenant