incapaz

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Liam Payne

As pessoas não percebiam que ela estava mal. Os pais dizem que ela sempre parecia sorridente e e alegre, as notas iam bem, tudo parecia bem. Parecia.

Mas ela sabia esconder tão bem. Os seus sorrisos eram falsos, as boas notas era a única coisa que ela tinha a seu favor. Era linda, sim, mas ela não queria saber de rapazes. Não queria saber de ninguém para além de mim. Eu, que sempre fui seu amigo, nada mais do que isso. E isso corroía-a por dentro, porque ela queria ser mais.

Era tão nova. Mas acho que depressão não escolhe idades.

Olhando para trás, vejo-me com a questão: "Teria sido eu o motivo para essa depressão?"

Sinceramente não sei. Ela nunca me contou o motivo, talvez nem seja preciso motivo, mas devo ter algo a ver com isso. Não sei se quem diz isto é o miúdo realista que está dentro de mim, ou o miúdo masoquista que quer acreditar que poderia ter feito alguma coisa.

Ela era isso também. Masoquista. Ela cortava-se todas as noites. Ou assim acho, porque todos os dias ela aparecia com um corte novo. Ela escondia-os muito bem, mas eu sempre os achava porque estava sempre a olhar para os seus pulsos. No entanto, nunca disse nada. Não porque pensava que eram apenas acidentes, não sou nem era nenhum ingénuo, mas porque pensava que ia passar. Não queria afrontá-la com os seus erros, não queria que ela se chateasse comigo. Um grande erro, eu sei. Enorme.

Devia estar lá para ela, devia estar sempre lá.

Eu fazia-a rir. Não era o suficiente. Devia saber disso.

Rose deu o seu último suspiro no dia catorze de julho. No dia seguinte ao seu aniversário.

Nesse mesmo dia, ela telefonou-me. Disse que queria que lhe fosse entregar o caderno de português que eu tinha pedido emprestado. Não percebi o propósito de tal pedido, uma vez que já nos encontravamos de férias à praticamente um mês, mas acatei ao seu pedido de qualquer maneira.

As suas mãos estavam frias quando lhe entreguei o caderno para as mãos, e as mesmas tocaram nas minhas como se fosse um acidente, mas ao mesmo tempo não. Perguntei se tinha frio, mas ela apenas me sorriu. Olhou para o chão, sorriu de novo, um sorriso apagado, nada dela, ou talvez sim, visto ser a sua marca nos últimos meses. Inesperadamente, abraçou-me. Abraçou-me com tanta força.

Senti lágrimas nas minhas costas. Senti que devia tranquilizá-la, acalmá-la. Fi-lo, mas não chegou.

Eu pensava que era o suficiente. Nunca era.

Senti o chão desaparecer debaixo dos meus pés assim que a minha mãe me disse, no seu tom tão suave e delicado, a pior das noticias. Rose Miller havia sido encontrada morta na casa de banho do seu quarto.

A minha cabeça ficou em branco, a cor drenou-se do meu rosto, e as minhas mãos tremiam. Presumo que tenha ficado em choque. Segundos depois, desatei a chorar enquanto a minha mãe acariciava as minhas costas, como se isso me fosse acalmar.

A terceira fase foi dormência. Mas só cheguei a esta fase meses depois. E com a ajuda de drogas. Não sentires nada é tão bom. O pior é acordares e perceberes que ainda existe um mundo lá fora.

No entanto parei, por conta própria. Achei um método para substituir a dor que sentia quando "acordava". Estar sempre acordado, e ser forte. Pensei que ia acabar por me acostumar. Assim não teria que descobrir a dor sempre que "acordava", porque sempre a sentia.

Foi passando, mas ainda está lá. E acho que nunca vai desaparecer. Não quero que desapareça.

Não digo que estou bem. Estou melhor.

Eu sei que Dorothy não está bem. Eu quero ser aquela pessoa que a vai pôr bem, sinceramente, mas não é assim tão fácil e eu sei disso. Eu quero estar lá para ela, como eu não estive para a Rose. Não quero substituir a Rose de maneira nenhuma, mas quero fazer alguma coisa bem. Quero ser um bom amigo, ou bom seja lá o que for que somos, uma vez que seja.

Eu gosto dela, não vou negar. Gosto mesmo.

O meu coração salta sempre que eu a vejo. Sinto as minhas bochechas ficarem vermelhas e os meus olhos a ficarem mais brilhantes. Eu gosto tanto dela.

Então quando eu me apercebo que a rapariga, que está a míseros metros de mim, está a chorar, não há ninguém que consiga fazer-me parar de correr em seu auxílio.

The White Bus |l.p|Where stories live. Discover now