primeiro medo

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Sentei-me no banco da paragem de autocarros, sozinha. Tudo o resto estava vazio, ninguém nas ruas. As pessoas não costumam se levantar tão cedo nesta altura do ano.

Estava um tempo acinzentado e nublado. Os dias de novembro normalmente são deste género. Mas eu gosto assim.

Gosto de ficar enroscada nos cobertores durante as manhãs frias de inverno. Gosto de ficar agasalhada com toneladas de roupa por cima de mim e sentir-me quente quando tudo à minha volta está gelado.

Mas agora, infelizmente, não estou nem debaixo dos cobertores, nem quente, embora esteja muito bem agasalhada. Esfrego as minhas mãos repetidamente para as aquecer, resultando minimamente.

Avisto o autocarro branco muito ao longe. O velho autocarro aproxima-se a uma velocidade reduzida, fazendo com que me sinta impaciente.

Já andei no autocarro, noutras situações é claro, e este veículo sempre me relaxou de alguma maneira. É um sentimento estranho, mas ao mesmo tempo, bom.

Ergo a mão para fazer parar o autocarro. Um som estridente e irritante dos travões a fazer fricção no pavimento é ouvido. Este para mesmo à minha frente e as portas automáticas abrem-se.

Entro e entrego o respetivo dinheiro da viagem ao motorista. Este entrega-me um papel e sorri-me, dizendo bom dia educadamente. Sorrio de volta, embora não tenha muita vontade, mas não querendo ser mal educada.

Procuro um lugar e encontro o meu favorito livre. O lugar virado para trás, à beira da janela.

Este lugar tem algum tipo de ligação comigo, sinto tão bem, embora possa parecer estranho. Quando olho pela janela, parece que tudo está ao contrário, tudo está mal, menos eu, algo que não posso experienciar fora deste autocarro.

E porque não vejo para onde estou a ir. A minha mãe disse-me que não devia ter medo, mas eu tenho. É algo novo, e sei que supostamente me vai fazer bem, mas mudanças nunca foram algo confortável para mim. Os piores momentos da minha vida deveram-se a mudanças e talvez sejam por causa dessas mudanças que eu tenha de ir para aquele edifício.

As coisas são definitivamente melhores no autocarro branco.

Sento-me então no meu lugar, colado à janela. Pouso a minha mochila e olho lá para fora, encostando a minha cabeça na janela. 

As ruas continuam nuas de gente e as poucas pessoas que se encontram à vista, rastejam seja lá para onde eles vão. 

A estrada, agora, é de paralelos, fazendo com que a minha cabeça dê pequenos saltos na janela, mas não me importo. Estou demasiado cansada para a segurar sozinha. Não dormi nada esta noite, ambos o caos da minha casa e o caos da minha cabeça fizeram difícil essa tarefa.

Ainda com a cabeça apoiada, olho em volta, para as pessoas que se encontram sentadas no seu respetivo mundo. Muitos adolescentes com fones nos ouvidos e adultos que provavelmente estão a ir para o trabalho para sustentar a sua família é o que consiste a maioria das pessoas neste autocarro. 

É incrível como nos queixamos de problemas insignificantes quando existem vários problemas muito piores que os que enfrentamos no nosso dia-a-dia. Vejo-o, por exemplo, pelo pequeno menino que está à beira de uma mulher, que deve ser a mãe, e que está a pedir para poder tomar o pequeno almoço. A mãe não consegue olhar na cara do filho, pois tem pequenas lágrimas nos olhos. Estas coisas partem-me o coração.

No entanto, não quero dizer que os problemas que enfrento diariamente sejam melhores do que esse. Mas, é estranho apenas pensar nos meus, quando tantas outras coisas estão a acontecer no mundo, à minha volta.

Volto a olhar lá para fora, com a mesma angústia das outras vezes. Os prédios parecem que passam a uma grande velocidade, quando estamos a andar muito devagar.

Tudo lá fora parece acordar. Mais pessoas a andar nas ruas, as luzes acesas em quase todas as casas, embora só se tenham passado dez minutos de viagem.

A viagem é pouco longa e ainda estou a meio caminho. Começo a reconhecer as casas por onde passo e sinto que está a chegar o momento, o momento que mais queria adiar.

Mas, contra todas as expectativas, sinto-me relaxada e permito-me descansar os olhos por uns minutos. Não vou dormir, apenas descansar um pouco depois desta noite agitada. Confesso que ainda me dói um pouco a cabeça.

Fiquei assim durante um considerável número de minutos e decidi abrir os olhos para ver onde me situava. Faltava apenas uma paragem. 

Durante a viagem não percebi quando o autocarro parava. Nunca percebo, na verdade. Apenas estou no meu mundo, olhando para o mundo dos outros.

O autocarro para finalmente na minha paragem e eu saio do meu lugar. Digo adeus ao motorista e saio das portas automáticas para a rua e respiro fundo. Olho uma última vez para o autocarro branco, apenas visualizando a traseira deste, e volto a olhar para o edifício à minha frente. 

Cá vou eu...

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Oláááá

Então, basicamente esta fic vai ser num autocarro branco (lol) e as cenas vão apenas acontecer no autocarro. A não ser que sejam memórias e assim... Mudança de planos : NÃO VAI SER SÓ NO AUTOCARRO

Não sei se este capitulo é grande, mas vão ser praticamente todos assim. 

Os capítulos vão ser alternados, ou seja, um vai ser dela e o outro do Liam. ACHO EU. P.S.S

NÃO, NÃO VÃO. Vai ser como me apetecer.

Pode parecer um bocado confuso ao primeiro porque até na minha cabeça está confuso, mas vou tentar com que seja menos complicado.

Eu não tenho a certeza se isto é alguma coisa que preste. É a minha primeira fic e tals, soooo.....

Se poderem comentar ou votar ou os dois, please do it  :) 

Era só isso, acho eu. 

BabyPopcorn xx

The White Bus |l.p|Onde histórias criam vida. Descubra agora