desculpas

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Os dias passam a correr. Um dia atrás do outro sem parar, rápidos e lentos ao mesmo tempo. Rápidos na medida de não poder realmente aproveitá-los e lentos porque, a cada novo dia, é-me possível sofrer cada vez mais.

A situação lá em casa está pior e vai piorando progressivamente. Ontem, por causa da tal coisa que o meu pai e a Charlotte não conseguem encontrar, o meu pai voltou a bater em mim. Há algum tempo que não o fazia. Desde a primeira vez que me bateu, à cerca de três semanas atrás, que tem tentado não me tocar. Mas ontem, quando batia na minha mãe, e eu me meti à sua frente para o tentar parar, levantou a mão.

A minha cara vira com o impacto, mas apenas segundos depois é que sinto a dor.

Deve estar vermelho agora.

Levanto-me da cama e vou à frente do espelho. Uma mão está marcada na minha bochecha esquerda e as lágrimas veem-me aos olhos. Limpo-as rapidamente não querendo demonstrar fraqueza, mesmo só estando eu no quarto. Ergo a cabeça, olhando para o teto e contenho as lágrimas.

Recomponho-me. As coisas vão ficar melhor.

Não sou uma rapariga de usar muita maquilhagem, mas hoje vou usar um pouco de base para disfarçar. Espalho-o uniformemente, fazendo o melhor que posso para tapar o vermelhão. Finalmente termino.

Olho-me de novo ao espelho. Nunca me achei uma rapariga nem muito feia nem muito bonita. Sou normal. Pelo menos fisicamente. Mas agora que me olho ao espelho, percebo que estou diferente, não sei onde, mas sei que o estou.

Olho para o relógio e já são horas de sair. Pego na minha mochila e saio do meu quarto.

A minha mão estava na maçaneta da porta quando um braço me impede de abrir a porta.

"Espera! Onde vais?" uma voz rouca soou atrás de mim. Percebi que era o meu pai mesmo antes de virar a cara e ver a cara zangada, mas um bocado cansada, do meu pai.

"Para a escola." Minto.

"Eu levo-te." O quê? Ele não me pode levar .

Ele vai descobrir tudo. Ele vais descobrir tudo. Ele vai descobrir tudo.

"Nã.. Não é preciso." Engasgo-me.

"Claro que é preciso. Não vou gastar dinheiro no bilhete de autocarro, quando eu mesmo posso te levar. Anda." Reclamou o meu pai, no entanto o seu tom de voz estava mais suave que o normal.

Engoli em seco. Como é que me vou safar agora?

"Eu vou só.. Eu vou... Ao quarto e já venho." Tenho de fazer tempo para perceber como vou sair desta.

"Falta-te alguma coisa?" Perguntou ele.

"Hum, sim, um caderno.. lembrei-me agora." Disse rapidamente e saí da entrada e fui para o meu quarto.

O que vou fazer agora? Sento-me na minha cama e coloco a minha mão em cima do meu peito e percebo que o meu coração está a mil à hora.

Acho que a única coisa a fazer é ir com ele e quando chegar à escola fico à espera que ele saia. Bem, não é o melhor plano, mas é o que tenho, por agora.

Pego num caderno de desenhos que tenho guardado e volto para a entrada onde o meu pai me espera.

"Aqui está." Digo, baloiçando o caderno no ar para que ele possa ver.

"Muito bem, vamos." Disse. Não se encontrava impaciente ou zangado pelo meu "esquecimento". Apenas se mostrava calmo como à muito tempo não o via.

The White Bus |l.p|Where stories live. Discover now