Cupido Reverso [CONCLUÍDO]

[21] Mente suja, coração puro

Christopher Perry

Se existisse uma palavra que ninguém jamais usaria para me descrever, esta seria "impulsivo". Mas ainda assim, contrariando todo meu passado e personalidade, eu havia me rendido ao clima romântico do lugar onde estávamos e agarrado Alicia sem pensar direito na situação. E, por mais que eu não sentisse a mínima vontade de parar, me senti na obrigação de interromper o beijo para me desculpar. Eu tinha certeza de que tinha decretado o fim da nossa amizade ali. E aí, dizer que eu fui surpreendido pela reação dela chega a ser um eufemismo. Ali retribuiu o beijo. De verdade. Sem insegurança. Sem tentar me afastar. Ela também queria aquilo.

Então... isso significava que ela gostava de mim?

Minha língua chegava a comichar de tanta vontade de perguntar isso à ela, conversar a fundo para onde estávamos indo com aquilo tudo. Afinal, tínhamos feito um acordo de continuar apenas amigos. Não era o que ela queria? Entretanto, ao mesmo tempo, havia sido ela a me beijar no bar algumas noites atrás, e era ela quem sempre reagia mal à Crystal quando estávamos juntos.

Infelizmente, aquele não era o momento para discutir a relação. Imersas na música, nem Jessie ou Crystal haviam de fato visto o que aconteceu entre nós, pois ainda que estivéssemos próximos ao palco, o local estava realmente muito cheio. Era fácil ignorar dois jovens quaisquer se beijando. Então, quando Jessie desceu (depois de receber o abraço mais apertado do mundo de agradecimento da doce Crystal), ela veio em nossa direção para assistir o restante da apresentação da outra garota. E nós dois ficamos ali com um meio-sorriso idiota, evitando olhar um para o outro enquanto sentíamos o coração pulando no peito.

Enquanto Alicia pedia por detalhes de cada coisa que Jessie havia sentido no palco, ao lado da menina que cobiçava, eu mal conseguia prestar atenção no que a garota respondia. Minha mente estava repleta de todo tipo de pensamento inapropriado. Aquele beijo acionou todas as lembranças possíveis da noite que passamos juntos em meu corpo, e ele implorava para repetir aquelas sensações urgentemente. A pele macia de Alicia; a maneira como se arrepiava e se envergava com meu toque; sua respiração descompassada e os sons, os lindos sons que ela fazia em resposta aos meus movimentos.

- Não é, Chris?

Uma voz me chamava de algum lugar muito distante enquanto eu pensava nos quadris dela e...

- Chris? - Fui puxado de meus devaneios pela voz incisiva de Alicia. - Você está bem? - Ela perguntou preocupada.

- Eu tô, sim, com certeza. - Assenti, sentindo meus olhos arregalados e o rosto quente. Tomara que não tenha nenhum telepata presente para ouvir meus pensamentos sujos. - Só estava com a cabeça longe. O que você perguntou?

- Eu estava dizendo que a participação da Jess foi incrível e que nós estávamos totalmente emocionados aqui na plateia. Não é? - Ela questionou de novo.

- Sim, sim, foi maravilhoso mesmo. Ótima escolha de música. Você mandou bem, Jess. - Elogiei, ainda um pouco desatento, dando tapinhas nas costas dela.

- Poxa, muito obrigada, Chris. Significa muito. - Ela sorriu gentilmente.

- Você tá bem mesmo, Chris? - Os olhos de Ali estavam franzidos enquanto ela se certificava.

Ela fica tão bonita de vermelho. De repente meus olhos estavam sobre seu vestido vermelho petit poá de mangas longas, esvoaçante da cintura para baixo mas colado no tronco, exibindo um decote generoso.

- Eu tô, sim. - Repeti, pigarreando. - Eu vou, é, vou pegar um refri ali do lado. Acho que estou com calor aqui na multidão. Você quer alguma coisa? - Ofereci, coçando a nuca.