[30] Cinco anos depois...

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Christopher Perry

5 ANOS DEPOIS

Abro os olhos com dificuldade, sentindo a luz forte que vem das janelas invadir minha mente sonolenta sem pedir licença. Eu não dormi bem a noite passada. Estou terrivelmente nervoso, com enxaqueca e falta de apetite, porque hoje é um dia tão importante que mal sobra espaço para respirar.

Tenho certeza de que Alicia já acordou e saiu pelo vazio ao meu lado e sei que o dia dela será uma loucura hoje, mas desejo por um momento que ela ainda estivesse aqui para que eu pudesse abraçá-la e já me desculpar de antemão caso eu acabe gaguejando bem no meio dos meus votos. Sei de cor o que ela diria: "Chris, não tem como você deixar esse dia menos perfeito. Você é a razão dele ser perfeito para mim". Ela tem repetido isso há dias, mas ainda assim morro de medo de ficar tão emocionado com a ocasião e simplesmente não conseguir falar nada.

Temos trabalhado feito loucos para que esse dia seja exatamente da maneira que sonhamos. Ou melhor, em grande parte, da maneira que Ali sonhou. Não que eu faça o tipo indiferente que não dá a mínima pro dia do próprio casamento. Não é isso mesmo. É só que eu tenho sonhado há tanto tempo em pedi-la em casamento e ser casado com ela, que esqueci de pensar em como seria a cerimônia de fato. Mas já ela, em compensação, começou a montar todo o planejamento em detalhes no dia seguinte ao pedido.

Eu jamais havia conseguido visualizar como seria a Alicia noiva. Se ela seria do tipo que considera tudo uma grande estratégia do patriarcado e iria desprezar um pedido de casamento, ou se faria o tipo doida romântica que sai mostrando o anel de noivado para todo mundo que passa na rua. Surpreendentemente, ela era algo entre os dois.

Na noite em que a pedi em casamento, meu primeiro livro havia sido lançado. Eu já tinha lançado uma coletânea de contos antes, com as aventuras paranormais do meu amado personagem detetive Carson, mas "Cupido Reverso" era meu primeiro romance legítimo, com começo, meio e fim, e eu tinha um contrato justo com uma editora de respeito pela primeira vez na vida. Era quase uma autobiografia sobre meu relacionamento com Alicia, remontando desde a época do colegial até o dia em que finalizamos a faculdade. Quando o escrevi, contei com a ajuda e o consentimento constantes dela em cada capítulo. Alguns eram até escritos pelo ponto de vista da Ali, e eu sempre coletava seus relatos antes de começar para escrevê-los em cima disso.

Quando o finalizei, ela foi a primeira pessoa a ler e aprová-lo. Aliás, a ideia de escrever sobre nós partiu dela. Quando, quase ao fim da graduação, meu orientador me pediu para que apresentasse algo que fugisse da fantasia e fosse mais realista porque eu precisava me desafiar como autor, lembrei-me das palavras do querido e saudoso professor Antunes, que aconselhava constantemente que eu utilizasse mais emoção e menos racionalidade em minhas obras.

Após o lançamento muito bem sucedido do livro na livraria Strand, próxima à Union Square, eu não via maneira melhor de agradecê-la pelo apoio, inspiração e amor que ela me ofertava diariamente do que demonstrando que queria passar o resto da minha vida ao seu lado.

Eu já tinha o anel há meses. Passava e repassava a cena na cabeça quase diariamente e, toda noite, quando chegava ao nosso apartamento e a encontrava lá, tinha a certeza de que queria vê-la todos os dias, para sempre. Mas parecia nunca encontrar o momento certo para isso. Então, assim que saímos da livraria e ela se jogou em meus braços, me parabenizando e beijando meu rosto inteiro, repetindo como estava orgulhosa de mim, me encontrei de joelhos, na calçada, tirando a caixinha vermelha do bolso traseiro da calça, e perguntando:

— Ali, você quer casar comigo?

Lembro-me claramente dos olhos arregalados e expressão apavorada em seu rosto quando ela respondeu:

Cupido Reverso [CONCLUÍDO]Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang