[27] Um ciclo se fecha em Vermont

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Alicia Brown

Cheguei a Vermont umas boas sete horas depois de ter saído de Nova Iorque quase fugida. Eu nunca queria ter feito o que fiz e provavelmente jamais superaria o arrependimento de não ter sido sincera com Christopher antes de escrever aquela carta. Era o tipo de coisa capaz de quebrar a confiança de qualquer relacionamento, seja amizade ou namoro. Mas era aí que entrava a minha covardia: eu não teria conseguido seguir em frente com isso se contasse a ele. Chris teria me convencido do contrário sem dificuldade, eu teria cedido e então continuaria vivendo com essa aflição dentro de mim. Entre um arrependimento e outro, eu preferia aquele que a longo prazo ainda me dava condições de ter algo com ele. Se continuasse mascarando a dor que me perseguia, jamais conseguiria ser uma parceira funcional em um namoro.

Então, quando enviei uma mensagem para minha mãe na quinta-feira à noite perguntando onde ela estava morando, não demorei muito para comprar a passagem para Vermont. Escondi tudo da Jess também porque não a queria como uma cúmplice naquela fuga. A decisão era minha, as consequências também.

Era simplesmente óbvio que minha mãe não teria continuado a viver em Illinois por muito tempo. Nós nunca ficávamos por mais de dois ou três anos em cada cidade ou estado e foi só com muita humilhação, pedidos de joelho e tudo, que a convenci de continuar morando em Illinois até que eu terminasse o ensino médio. Mas ainda que não me admirasse o fato dela ter se mudado, era bem surpreendente que tivesse se submetido a morar em um lugar pacato e simples como Vermont. Era um estado lindo, cheio de história, prédios clássicos, florestas vastas e o ar limpo das montanhas. Para mim era perfeito, mas não parecia combinar em nada com a extravagante Patty Brown.

A cada passo que eu dava em direção ao endereço da mensagem, menor eu me sentia. Meu estômago era como uma bolinha de papel que se amassava um pouco mais minuto a minuto. Quando eu bati à porta, decidi que se não atendessem em dez segundos, daria as costas e nunca mais voltaria. Infelizmente, meu plano foi por água abaixo ainda que fosse extremamente cedo pela manhã.

— Bom dia, Alicia! - Um homem grande, tanto em estatura quanto em largura, atendeu à porta com um sorriso simpático.

— Bom dia, Mike? - Retribuí com certa dúvida, temendo que já pudesse ser outro cara.

— Em carne e osso! - Respondeu, dando-me espaço para entrar. — Estávamos te esperando.

E ainda assim minha mãe não se importava o suficiente para receber a própria filha na porta.

— Fez uma boa viagem? - O homem que aparentava ter em torno de cinquenta anos perguntou, interessado.

— Fiz sim, obrigada. Adoro viajar de trem. - Falei educadamente enquanto o seguia pelo hall de entrada em direção à sala de estar.

A casa era tipicamente americana, daquelas que se vê em qualquer filme de Natal nos quais as casas devem ser enormes e perfeitas para suportar um campeonato de decorações. Se fosse Natal, imaginei que a deles estaria repleta de luzes. Com certeza aquilo tudo pertencia ao simpático Mike, pois minha mãe não tinha nem onde cair morta.

Porém, sentada no sofá de couro, estava Patty Brown majestosa e arrogante com seus cílios postiços, maquiagem pesada, cabelo bem feito, roupas caras e olhar vazio lendo uma revista qualquer. Sinceramente, devia ser a vida que sempre quisera.

— Oi, mãe. - Cumprimentei sem conseguir sorrir nem pela cortesia.

— Oi, filha! - Ela respondeu, claramente fingindo surpresa em me ver, mas que devia convencer o pobre Mike ali. Então ela se aproximou e me abraçou de uma maneira convincente o suficiente para quem estava por perto, mas que na verdade mal encostava em mim. — Que saudade.

Cupido Reverso [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now